As práticas que (in)justificam a cidadania
Senhor governador de Luanda, administradores municipais, distritais e comunais mãos à obra; que saímos todos a ganhar e combatamos, todos, as práticas que (in)justificam a cidadania em Luanda
Esta semana na avenida de Portugal, junto à embaixada daquele país em Luanda, assisti a um episódio que me deixou sem apetite à hora do almoço. Tudo porque um passageiro, no interior de um “táxi” arremessou a lata de refrigerante em plena via pública numa das paragens, sob o olhar impávido tanto do motorista “taxista”, passageiros e o cobrador que ao perceber a minha indignação encolheu os ombros e pôs-se a rir como que a dizer que “culpa tenho eu.”
Não é a primeira vez que assisto algo desta dimensão e estou certo de que actos do género são frequentes um pouco por Luanda e não apenas praticados por passageiros, cobradores ou motoristas de táxis e, muitas vezes, perante autoridades policiais ou fiscais.
A minha preocupação é ainda maior pelo facto de, recentemente e por via de uma rádio, ter ouvido os cidadãos a apelarem ao novo governador de Luanda para atacar de imediato o problema do lixo, saneamento básico, reabilitação das estradas secundárias e terciárias e muito mais.
Uma lata no chão pode não parecer algo, ou quase nada para alguns, mas ao repararmos bem, é uma e mais uma que tornam Luanda numa cidade com péssima imagem, mais do que afectar o brilho da cidade. As latas e demais resíduos sólidos nas vias, passadeiras, jardins e espaços de lazer comprometem o combate ao lixo e a limpeza de todo o sistema de esgoto e aceleram a danificação do próprio asfalto. Tal como o cidadão que suscitou esta reflexão, outros, pela capital ou na periferia, optam por atirar para a via pública cascas de fruta, restos de comida e lixo de todo o tipo, sem esquecer as crianças que na inocência e os adultos que por preguiça depositam o lixo em lugares impróprios.
Estou certo de que, nos dias actuais, as pessoas andam irritadas e a paciência está ao ritmo de conta-gotas fruto dos problemas que cada um enfrenta, os valores como a atenção ao próximo, com as acções que afectam o bairro, o prédio, a rua e muito mais dificilmente saem do verbo. Estou de igual modo certo que devemos todos perceber que um dos maiores desafios que temos, e urgente, é investir na educação dos cidadãos por via da comunicação social nas escolas, universidades e igrejas, no sentido de ajudá-los a perceber a importância e a necessidade do respeito para com a coisa pública, ainda que o processo exija medidas coercivas.
Com a quarta legislatura em marcha, temos todos sem excepção uma oportunidade ímpar para acertar os passos e caminhar ao mesmo ritmo, com os mesmos deveres, no posto de trabalho ou na condição de cidadão, com os mesmos direitos e obrigações sem exclusões. Desperdiçar este derradeiro momento de reencontrar o caminho que nos conduziu à estabilidade política pressuporá continuar a adiar a estabilidade social, a cidadania comparticipativa, a alocação de verbas e mais verbas para o lixo quando outras iniciativas e projectos continuam a ser adiados por falta de recursos.
A cidadania é o exercício dos direitos e deveres civis, embora saibamos todos da complexidade de viver em comunidade. É um aprendizado constante e a responsabilidade de quem dirige é acrescida.
O actual Governo não pode permitir que, a mesma falta de visão e negligência do passado volte a conduzir a sociedade a problemas crónicos e aparentemente insanáveis. Defendo que o quanto antes sejam produzidos instrumentos legais e normas que permitam que cada gesto de arremesso de lata, papel e toda a espécie de lixo na via pública, além de ser prevista como transgressão, culmine em penalizações que venham desencorajar. As multas pesadas, cujo valores arrecadados podem ser de grande utilidade das administrações municipais e distritais, devem ser aplicadas imediatamente. Quero acreditar que a adopção destas medidas, ao lado de outras, vai desencorajar práticas que não dignificam a municipalidade.
Senhor governador de Luanda, administradores municipais, distritais e comunais mãos à obra; mãos à obra, que saímos todos a ganhar e combatamos, todos, as práticas que (in)justificam a cidadania em Luanda.