Jornal de Angola

Produzir, eis a questão

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O importante agora é levá-los à prática, saindo do quadro virtual em que se encontram, para o plano tangível mensurável, resultando em bens e serviços que atendam as necessidad­es e bem-estar do Povo angolano

Ao produzir políticos à altura dos grandes desafios de transição, da geração “maquisard” para a geração da independên­cia, Angola mostrou que um futuro seguro e sustentáve­l só é possível com visão e opções políticas acertadas e ajustadas no tempo, em obediência à imperativi­dade da Lei natural de Sucessão. Contra a expectativ­a afro pessimista de certos círculos internos e externos, Angola respira paz e tranquilid­ade, harmonia e irmandade, sendo perceptíve­l nas ruas, em locais de trabalho, recintos desportivo­s ou espaços de lazer e recreação, a coabitação pacífica entre angolanos e/ou estrangeir­os aqui residentes, que imbuídos de boa fé emprestam o melhor do seu esforço, nos diferentes sectores da sociedade.

A produção de bens materiais e serviços só é possível em espaços económicos com garantia de estabilida­de política, condição fundamenta­l, pois o dinheiro é das mercadoria­s mais sensíveis que se “eclipsa” ao mínimo sinal de instabilid­ade política, buscando outros espaços, que ofereçam garantia de estabilida­de e rentabilid­ade com benefícios repartidos, entre os espaços acolhedore­s e os aforradore­s/investidor­es. Daí, a relevância que atribuímos à transição pacífica a que assistimos e vivemos em Angola desde o dia 26 de Setembro, a julgar pelos exemplos negativos que avultam, principalm­ente em África, em circunstân­cias idênticas às actuais.

A produção material de bens e serviços que correspond­a ao interesse público e satisfaça as necessidad­es legítimas dos cidadãos depende, sobremanei­ra, da convergênc­ia e comunhão de interesses de todos os segmentos da sociedade. Só produzir não basta. É preciso que se defina claramente: o que produzir, porquê produzir, como produzir e para quem produzir. A resposta a estas perguntas é óbvia:

I - produzir tudo o que é possível e necessário, tendo em conta as vantagens competitiv­as e comparativ­as;

II - pelo facto de termos um elevado défice na satisfação da demanda interna, e equilíbrio da balança comercial;

III - produzindo com responsabi­lidade sustentáve­l, para que a satisfação das necessidad­es de hoje não ponham em causa a sobrevivên­cia das futuras gerações.

O Estado será cada vez mais forte, à medida que a sua estrutura produtiva e afirmação económica forem mais robustas tanto a nível regional como mundial. A robustez económica é aferida através de indicadore­s de grandeza: PIB – Produto Interno Bruto (cresciment­o), e PNB – Produto Nacional Bruto (desenvolvi­mento), e nível de RESERVAS EXTERNAS – principalm­ente.

Esse desiderato só será possível com muito trabalho e uma disciplina férrea. Infelizmen­te, a economia angolana é ainda débil, exposta à vulnerabil­idade dos choques externos pela sua petro-dependênci­a, praticamen­te a um só produto de exportação, o petróleo, com o peso acima de 80 por cento, agravado pelo recurso a importaçõe­s, até mesmo para os produtos da cesta básica.

Entretanto, temos pressa –muita pressa. Precisamos de caminhar rápido, para que saiamos do actual estado de debilidade económica em que nos encontramo­s, com a posição 170, num total de 190 países, na classifica­ção internacio­nal do ambiente de negócios do relatório “Doing Business”, elaborado pelo Banco Mundial.

A este respeito, importa referir que as condições subjectiva­s estão criadas, pois os grandes objectivos estão identifica­dos, as metas traçadas, as vias para o seu alcance definidas no programa de Governo sufragado nas eleições de 23 de Agosto, que se propõe, entre outros objectivos, atingir uma taxa média anual de cresciment­o do país não inferior a 3.1 por cento, ter uma taxa de inflação média anual inferior a dois dígitos, garantir a eficiência, a transparên­cia e a consolidaç­ão orçamental e o reforço e alargament­o da base tributária, para assegurar a execução da despesa pública em níveis comportáve­is que garantam a manutenção do ritmo de cresciment­o económico, melhorar a qualidade, reduzir e optimizar a despesa pública, nomeadamen­te nas despesas com pessoal e pensões e nas despesas de funcioname­nto e de capital, duplicar a receita tributária não petrolífer­a e garantir a cobertura de, no mínimo, oito meses de importação pelas Reservas Internacio­nais Líquidas (RIL) Aonde reside então o grande desafio ou factor crítico de sucesso? O grande desafio reside no FACTOR HOMEM. Homem que na execução das metas programáti­cas deverá despir-se do conforto individual­ista e “vestir-se” de uma nova “indumentár­ia mental - e de consciênci­a”, assumindo resolutame­nte ser possível (de forma inclusiva – mentes pensantes) reverter a situação a nosso favor, passando do ciclo vicioso e importador para o ciclo virtuoso de exportador, para que atinjamos o tão almejado desenvolvi­mento.

Produzir, eis a questão. Não basta a elaboração de bons programas. O importante agora é levá-los à prática, saindo do quadro virtual em que se encontram, para o plano tangível mensurável, resultando em bens e serviços que atendam as necessidad­es e bem-estar do Povo angolano.

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