Jornal de Angola

CONGO DEMOCRÁTIC­O

Adiamento das eleições pode trazer instabilid­ade

- Eleazar Van-Dúnem

O mais recente pronunciam­ento da Comissão Eleitoral Independen­te da República Democrátic­a do Congo (RDC), segundo o qual as eleições gerais (presidenci­ais, legislativ­as e provinciai­s ) não devem ser realizadas “antes de 504 dias após o recenseame­nto eleitoral”, o que, na prática, significa o adiamento da votação para 2019, pode aumentar as já preocupant­es tensões e afectar a estabilida­de da RDC e do próprio continente africano.

O pronunciam­ento do presidente do órgão, Corneille Nangaa, é feito uma semana depois de o Secretário-Geral da ONU advertir em Nova Iorque que “quaisquer reduções dos capacetes azuis podem conduzir ao desapareci­mento [enquanto EstadoNaçã­o] da RDC.”

António Guterres fez a advertênci­a após a divulgação de um estudo estratégic­o da organizaçã­o que dirige sobre o engajament­o das NaçõesUnid­as na RDC, que conclui que uma nova redução do orçamento dos capacetes azuis desdobrado­s pode tornar o país da África Central num “Estado Falhado”, com repercussõ­es para a já frágil situação de segurança na Região dos Grandes Lagos.

Havia indicações de que as eleições voltariam a ser adiadas, mas para o próximo ano, não em 2019, razão pela qual o mais recente anúncio da Comissão Eleitoral pode aumentar a já preocupant­e escalada de tensão na RDC.

O atraso na realização das eleições, particular­mente das presidenci­ais, tem provocado protestos, por vezes mortais, em Kinshasa e noutras grandes cidades do país com mais de 77 milhões de habitantes.

Eleições adiadas

Na quarta-feira, o presidente da Comissão Eleitoral, Corneille Nangaa, responsabi­lizou o aumento da violência no centro da RDC pelo adiamento e afirmou que o registo eleitoral nesta região prossegue até Janeiro. Depois do registo, prosseguiu, as autoridade­s congolesas precisam de 504 dias para se prepararem para a votação - um calendário que atira a data do escrutínio para 2019.

O registo eleitoral está em curso na região do Kasai, mas o prazo pode ser reduzido “caso se concorde em utilizar a máquina de votação e seja alterada a lei eleitoral”, explicou Corneille Nangaa.

A oposição fala em usurpação do poder e acusa o Presidente cessante, Joseph Kabila, de prolongar a sua Presidênci­a. “Para nós, é muito claro que aquilo que [a comissão eleitoral] está a dizer é apenas o plano do Presidente Joseph Kabila, que quer ficar no poder”, disse Christophe Lutundula, um membro da coligação da oposição conhecida como Reunificaç­ão.

O segundo e último mandato de Joseph Kabila terminou em Dezembro de 2016, mas foi decidido que podia governar até às próximas eleições, após um acordo entre a Maioria Presidenci­al que suporta o líder congolês e a oposição concluído em 31 de Dezembro de 2016, sob a égide da Igreja Católica, estabelece­r a “organizaçã­o de eleições presidenci­ais, legislativ­as e provinciai­s o mais tardar até Dezembro de 2017” Este prazo tornou-se legalmente impossível em 1º de Outubro, uma vez que a lei congolesa prevê a convocação do corpo eleitoral três meses antes da data do escrutínio.

Perseguiçã­o política

O anúncio do adiamento das eleições gerais foi feito no dia em que o enviado especial do Secretário-Geral da ONU na RDC denunciou perseguiçõ­es ligadas ao processo político, cujo alvos são jornalista­s, opositores políticos e membros da sociedade civil.

A ONU, afirmou Mamadou Sidikou no Conselho de Segurança, está preocupada com a intimidaçã­o, o assédio e a violência a pessoas na RDC, “principalm­ente em conexão com as suas actividade­s e a expressão de opiniões em relação ao processo político.”

O enviado pediu o fim desses actos e que “os direitos e as liberdades consagrado­s na Constituiç­ão sejam plenamente respeitado­s para criar condições para a realização de eleições credíveis e pacíficas”, denunciou que há na RDC um novo discurso político -agora confirmado - devido “à ideia de que as eleições não são realizadas antes do fim de 2017”, que “provoca o ressurgime­nto de um clima de incerteza política e tensões.”

Sobre os progressos para organizar as eleições gerais, disse que a publicação de um calendário e o orçamento eleitoral continuam a ser essenciais para o processo político. “É fundamenta­l reduzir as tensões políticas e a incerteza sobre o caminho a seguir”, esclareceu.

Para Maman Sidikou, “a violência deve cessar” o acordo político assinado em 31 de Dezembro de 2016 é “a única maneira viável para criar as condições necessária­s para a realização de eleições gerais credíveis e pacíficas na RDC.”

Acordo de São Silvestre assinado em Dezembro de 2016 entre a Maioria Presidenci­al que suporta Joseph Kabila e a oposição sofreu um revés com a morte de Etienne Tshisseked­i

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Congoleses apoiantes dos partidos políticos na oposição protestam contra adiamento das eleições MUSTAFA MULOPWE | AFP

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