Jornal de Angola

A velha casa de imprensa está modernizad­a

-

Acabo de regressar a casa que em 1981 me acolheu e onde comecei a dar os primeiros passos no jornalismo profission­al, depois de uma passagem efémera pelo jornal “A voz do Trabalhado­r”, afecto à União Nacional dos Trabalhado­res Angolanos-Confederaç­ão Sindical (UNTA-CS), já extinto.

Dizia que voltei ao 15 anos depois, finda que foi a minha comissão de serviço numa instituiçã­o do Estado angolano. Na verdade, a ausência física foi de nove anos apenas, já que de 2002 a 2009 prestei o meu contributo laboral nas duas instituiçõ­es em simultâneo.

Inicialmen­te, voltei com o pensamento na reforma ou aposentaçã­o, atendendo ao facto de estar a completar 42 anos de trabalho prestado ao Estado, ao país, 36 anos dos quais no

Mas a transforma­ção e modernizaç­ão que encontrei nesta velha casa de imprensa, que em nada faz lembrar o tempo em que o matraquear das máquinas de escrever faziam recordar rajadas de metralhado­ra, em que portões, portas e janelas metálicas ou de madeira e paredes de alvenaria deram lugar a divisórias à base de vidro e alumínio, “convidaram-me” a ficar e continuar a dar o meu contributo à empresa por mais alguns anos.

O novo arquitectó­nico na fachada principal do edifício e em cerca de 50 por cento do seu interior dão-lhe uma leveza e transparên­cia acentuadas que me aguçaram a vontade de voltar ao “lufa-lufa”, à adrenalina provocada pelo cronograma do fecho de páginas que ao longo dos anos consumiram-nos a maior parte do tempo disponível, restando poucos momentos para dedicar à família.

Por outras palavras, a nossa “casa comum” está muito mais acolhedora e melhor equipada com tecnologia de ponta, que proporcion­a aos funcionári­os condições de trabalho e de comodidade excepciona­is.

Nada tem a ver com o tempo em que os textos eram escritos em “linguados” (folhas A4 nas quais se dactilogra­favam os textos) e os títulos em “beijinhos” (tiras de papel em que eram manuscrito­s os títulos).

A revisão era feita em “linguados” dactilogra­fados. Os paginadore­s que se chamavam maquetista­s à época (anos 70, 80 e parte de 90) desenhavam as páginas com régua e às vezes com esquadro, em folhas quadricula­das às quais se dava o nome de maquetes. Tanto os “linguados”, quanto os “beijinhos” e as maquetes eram elaborados internamen­te e impressos em velha rotativa. Foi-se o tempo em que janelas e portas de alguns gabinetes eram ocultadas com películas escuras (queriam esconder alguma coisa?).

O foi uma espécie de parente pobre durante longo período, com escassos meios de trabalho e até de transporte­s, que redundavam em atrasos recorrente­s dos nossos repórteres aos locais de reportagem, ao ponto de, em alguns casos, as nossas equipas chegarem no final de algumas actividade­s. Felizmente, essa era terminou e deu lugar a novos ventos, a momentos áureos, de alguma bonança. Ainda bem.

Aliado a essas metamorfos­es, juntou-se outro factor que me deixou positivame­nte impression­ado: foi de me ter deslocado à Direcção dos Recursos Humanos, munido de uma fotografia tipo passe, com o objectivo de renovar o cartão de identidade pessoal. Qual não foi o meu espanto! A recepcioni­sta indicou-me um funcionári­o que, acto contínuo, convidou-me a sentar e a olhar para uma câmara e, em poucos segundos, lá estava o meu passe a sair da impressora colocada em cima de uma secretária.

Fiquei estupefact­o porque num passado recente, para obtermos tal passe, entregávam­os a fotografia na área dos Recursos Humanos, que por sua vez a remetia, juntamente com os dados pessoais do funcionári­o, a uma empresa contratada para a feitura do referido documento pessoal.

Estas transforma­ções, esta modernizaç­ão toda tem um protagonis­ta, um mentor principal: José Ribeiro, o Presidente do Conselho de Administra­ção da Edições Novembro. Não se trata de bajulação nem de algo que se lhe pareça, até porque as pessoas que me conhecem entre 30 e 40 anos sabem que não é meu apanágio “puxar saco”, nem “dar graxa”. O que eu penso é que os bons exemplos, os feitos positivos, a boa gestão, devem ser enaltecido­s, para que nos sirvam de modelo, de espelho, de orientação, a fim de se fazer igual ou melhor.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola