Kikas coloca hoje ponto final na carreira desportiva
Joaquim Gomes faz hoje, às 17h30, a despedida oficial das quadras numa cerimónia antes do jogo contra a equipa que o lançou na modalidade
Eternizam-se as memórias, perduram os feitos e o sentimento do dever cumprido, regozija o ego. É certamente com esta simbiose de convicções que Joaquim Brandão Gomes, de seu nome completo, “Kikas” de alcunha, põe ponto final à carreira de mais de 20 anos, 14 dos quais dedicados à Selecção Nacional sénior masculina de basquetebol, hoje às 17h20, no Pavilhão Victorino Cunha, um dos recintos de melhores memórias para si.
O jogador, já nas vestes de dirigente desportivo, pois assume a função de director para o basquetebol, é alvo de uma veneração, antes de se despedir das quadras, onde demonstrou grande intimidade com a bola e afinidade com o cesto.
Para perpetuar a sua imagem na mente dos sócios, adeptos, técnicos, comentaristas desportivos e jornalistas, Kikas, poste de 2,02 metros, 36 anos, e a direcção do 1º de Agosto decidiram agregar a sua saída ao nome de Victorino Cunha, por via do torneio com a mesma designação, e ao Petro de Luanda, clube onde se formou para o basquetebol e adversário, às 17h30, dos rubro-negros.
A par disso, Victorino Cunha está ligado a Kikas por via de consanguinidade, pois o extécnico foi durante anos casado com a irmã do ex-capitão dos militares do Rio Seco, com a qual tem filhos.
Responsável por parte da sua ascensão na carreira desportiva, o 1º de Agosto, instituição que representa desde 2006, proveniente da equipa holandesa do Eifel Tower Den Bosch, faz a entrega de uma salva, pelas mãos do seu presidente da direcção, Carlos Hendrick.
Galeria recheada de títulos
No seu currículo, Kikas regista as conquistas pelos petrolíferos de campeão nacional e da Taça de Angola em 1998 e 99. Pelos agostinhos, sagrou-se campeão em 2008, 2009, 2010, tendo sido eleito Jogador Mais Valioso (MVP) em 2012 e 2016. Na Taça de Angola, conquistou as edições correspondentes aos anos de 2007, 2008, 2009 e 2010.
Taça dos Clubes Campeões Africanos em , Luanda´2007 (Angola), Sousse´2008 (Tunísia), Kigali´2009 (Ruanda), Cotonou´2010 (Benim), Malabo´2012 (GuinéEquatorial) e Sousse´2013 (Tunísia). Estreado em 1999, Kikas ergueu o primeiro Campeonato Africano das Nações, no referido ano, em Luanda, capital angolana. Em 2003, venceu no Cairo, Egipto; 2005, em Argel (Argélia); 2007, Luanda (Angola); 2009, Tripoli (Líbia) e em 2013, Abidjan (Costa do Marfim). Antes, em 2011, perdeu com a Selecção Nacional, o ceptro de campeão.
Em 2007 e 2009, foi eleito MVP do Afrobasket.
Jogou na Universidade Valparaíso de 2000 a 2004. Vencedor da Conferência Mid-continent em 2002 e 2004.
Em 2005, participou na Liga Alemã de Basquetebol ao serviço do Kohn Rein Energy, na cidade de Colónia, tendo conquistado no mesmo ano a Taça da Alemanha. Em 2006, venceu o campeonato holandês com a formação do Eiffel Tower.
O jogador já nas vestes de dirigente desportivo é alvo de uma veneração, antes de se despedir das quadras, onde demonstrou grande intimidade com a bola e afinidade com o cesto
Provas mundiais
Disputou os Campeonatos do Mundo de Indianapólis´2002 (Estados Unidos da América), Tóquio´2006 (Japão), Istambul´2010 (Turquia) e Madrid´2014 (Espanha). Presença nos Jogos Olímpicos, Atenas´2004 (Grécia), Pequim´2008 (China) e Torneio Pré-Olímpico´2012 (Venezuela). Disputou ainda Taças Borislav Stankovic e diferentes torneios, para além de competições da NCCA.
Ídolos na carreira
Joaquim Gomes elegeu Jean Jacques Nzadi da Conceição e Miguel Timóteo Pontes Lutonda como os melhores jogadores angolanos e os que mais o marcaram.
Para Kikas, ter jogado ao lado de Jean Jacques e estreado em 1999, na Selecção Nacional sénior masculina, foi um sonho tornado realidade. Em declarações ao Jornal de Angola, o antigo capitão dos hendecacampeões africanos, e o mais internacional dos atletas em actividade, partilhou alguns dos momentos memoráveis: “estar ao pé do Jean Jacques, o melhor jogador africano e angolano de todos os tempos, marcou-me muito. Eu era o jogador mais novo da selecção. O professor Mário Palma meteu-nos a partilhar o mesmo quarto e ele conversava muito comigo. É uma pessoa muito humilde e conselheira, para além de ter sido a minha principal referência, sobretudo por sermos da mesma posição.”
Prosseguindo, Joaquim Gomes lamenta o facto de ter jogado pouco tempo com o primeiro basquetebolista angolano a entrar no “Hall of Fame” (passeio da fama), organizado pela Federação Internacional de Basquetebol Associado (FIBA), situado na pacata povoação de Mies, no Cantão de Genebra, Suíça.
“O Jean Jacques era alguém com um perfil e carácter estupendo. Era exemplar e um modelo a seguir, dentro e fora do campo. Aliás, tudo o que conseguiu ao longo da sua carreira atesta-o”, disse o atleta de 36 anos, cujo aniversário é assinalado a 30 de Dezembro. Na partilha das suas memórias ao JA, aponta ainda Miguel Lutonda como outro dos exemplos a seguir. “Admirava muito o Miguel. Era muito trabalhador e aquele que mais fazia rir os colegas no balneário. Tinha sempre coisas para contar e era de uma entrega e dedicação ao jogo sem igual. Ajudou-nos muito e também passou-me coisas muito boas”, concluiu.
“O Jean Jacques era alguém com um perfil e carácter estupendo. Era exemplar e um modelo a seguir dentro e fora do campo.Aliás, tudo o que conseguiu ao longo da carreira atesta-o”