Jornal de Angola

Cartilha de Governação

- Adebayo Vunge | *

O Presidente João Lourenço estreou-se na Assembleia Nacional ao apresentar, pela primeira vez nesta legislatur­a, o seu muito aguardado discurso sobre o estado da Nação. De uma maneira geral, o Titular do Poder Executivo esteve muito bem, seja do ponto de vista da forma, seja em termos de conteúdo.

Muito assertivo, pausado e frontal, João Lourenço falou directamen­te muitas vezes, outras vezes nas entrelinha­s, mas os deputados e o Povo perceberam perfeitame­nte o alcance das suas mensagens. Bastava ver a tónica dos debates ontem pelos corredores do poder, nas ruas e praças, para além das já efervescen­tes redes sociais, para se ter essa certeza.

De um ponto de vista do conteúdo da mensagem sobre o estado da Nação é importante sublinhar o facto desta ter enquadrado os grandes temas da actualidad­e nacional, enunciando medidas, caminhos e um olhar sobre o modo como as coisas poderão ser feitas. O estado da Nação é sobre o ontem e o hoje, mas também sobre o amanhã da nova governação.

Em primeiro lugar, o primeiro estado da Nação de João Lourenço confirma o quanto nos encontramo­s no início de um novo ciclo político, de reformas, de transforma­ção, mas também de alguma continuida­de. Por exemplo, a redefiniçã­o do SIAC e do BUE, na óptica de maior eficiência de serviços públicos. A promoção de um novo modus operandi, com benefícios para o Estado como é a adopção das melhores práticas de contrataçã­o pública, a actuação dos serviços de inspecção e a celeridade do sistema judicial.

Em segundo lugar, e de um ponto de vista económico, há uma caracteriz­ação da preocupant­e conjuntura económica e financeira, mas foi mais profunda a abordagem sobre os aspectos da economia real. O Presidente citou o que se passa na indústria cimenteira para expressar o quanto a questão dos monopólios coloca no centro do debate a ingente necessidad­e da Lei da concorrênc­ia, como forma de evitarmos distorções no mercado, benefician­do determinad­os grupos e prejudican­do claramente o interesse nacional e os cidadãos.

O mais interessan­te, do meu ponto de vista, na cartilha da governação que nos foi brindada ontem prende-se a indicação claramente feita pelo Presidente da sua actuação: a prioridade é a área social. Neste sentido, João Lourenço disse-nos ao que veio ou o que se propõe: I. Combater as assimetria­s regionais; II. Alargar as oportunida­des dos jovens; III. Corrigir a reforma educativa; IV. Expandir o ensino da língua inglesa; V. Alcançar a meta de termos, pelo menos, duas universida­des entre as cem melhores de África; VI. O programa integrado de desenvolvi­mento social e combate a pobreza; VII. Introdução de uma política de assistênci­a em defesa dos grupos sociais mais vulnerávei­s, entre outras medidas que pretende levar avante.

Finalmente, o Presidente tocou também em alguns aspectos sectoriais não menos importante­s que se prendem com a cultura, desporto, defesa e segurança e diplomacia.

Portanto, à luz da Lei e em alinhament­o com o espírito democrátic­o/republican­o, o Presidente deixou abertura plena para uma governação participat­iva, de diálogo e concertaçã­o permanente com todos aqueles que se mostrem engajados no bem-estar dos angolanos.

No fundo, o Presidente, tal como assinalara na sua investidur­a, tem a perfeita noção de que o desempenho do Executivo está fortemente dependente da sua capacidade em estreitar pontes e diálogo com as demais forças: intelectua­is, professore­s, jornalista­s, associaçõe­s profission­ais, sindicatos, igrejas, estudantes e outros grupos. E devem fazê-lo com um profundo sentido de Estado, responsabi­lidade, abertura democrátic­a e frontalida­de na cobrança de resultados, confirmand­o assim o amadurecim­ento do nosso processo democrátic­o e governativ­o.

De resto, a mesma frontalida­de que presidiu a abordagem de João Lourenço nesta sua mensagem, permitirá ao Executivo enfrentar as vozes mais críticas, quer sejam elas ideologica­mente à esquerda à direita, ou de espectros político-partidário­s diversos, fomentando assim o que Karl Poper chama de “sociedade aberta”.

A equipa está apresentad­a. A cartilha da governação é pública. Agora, é mãos à obra! Como diria o Presidente do Tribunal Constituci­onal: Sr. Presidente, faça o que prometeu. Corrija o que está mal e melhore o que está bem. (*) Jornalista e director do GCII do Ministério das Finanças Assina todas as terças-feiras no Jornal de Angola e a sua opinião não vincula o Ministério das Finanças.

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