Músico Mito Gaspar canta no “Paraíso”
Detentor de uma antologia invejável, os sucessos musicais de Mito Gaspar são recordados este domingo durante um espectáculo de seis horas de convívio no Palco das Recordações no complexo turístico Weza Paradise em Luanda
Vencedor do Prémio Nacional da Cultura e Artes de 2016, na categoria de música, Mito Gaspar é o destaque de mais uma edição do projecto Palco das Recordações que se realiza neste domingo entre as 12h00 e as 18h00, no Complexo Turístico Weza Paradise, em Luanda.
Com entradas livres, o espectáculo de homenagem a Mito Gaspar vai comemorar as quatro décadas de carreira do cantor e conta com alguns convidados especiais como Lina Alexandre, Acácio (vocalista da banda Akapaná) e o Duo Canhoto, com o suporte instrumental da banda Movimento.
Gaspar Neto, proprietário do Weza Paradise, avançou que está a ser preparada uma homenagem ao nível dos grandes feitos e conquistas de Mito Gaspar. “O homenageado desta edição tem um carácter de resgate dos valores culturais face a sua antologia musical, por ser dos poucos que tem uma música que identifica os angolanos.”
O objectivo da gerência do espaço, disse Gaspar Neto, é homenagear figuras angolanas que, com o seu valor e talento artístico, têm dado o seu mais valioso contributo à divulgação da música angolana, não apenas em Angola, mas também no estrangeiro.
Durante o concerto, vão ser apresentados testemunhos de colegas e amigos sobre o percurso artístico de um dos maiores ícones da música angolana. De acordo com o proprietário do espaço, a essência do espectáculo é fundamentalmente prestar tributo àqueles que tem sido defensores das raízes musicais nacionais.
“Estamos a preparar um convívio à base da tradição angolana, como tem sido o principal propósito das nossas actividades, por forma a ajudar a manter vivas as recordações de várias décadas da música popular angolanas.”
Mito Gaspar, enquanto compositor, faz-se sempre acompanhar da sua guitarra, como seu instrumento inseparável. Conta com três trabalhos discográficos, Man Polê (1980 – Luanda), Mitos e Tradições (1986 Paris), Phambu ya Njila (2004 África do Sul).
Em 2014, o artista manifestou a intenção de lançar no mercado uma colectânea com os seus sucessos, tendo, também, temas inéditos e um DVD. Uma trajectória invejável De 1973 a 1975, Mito Gaspar integra como guitarra ritmo o grupo “Top Mag”, em Malanje, com Arnaldo Macedo (guitarra solo), Nhanga de Menezes (bateria e voz) e Paulino da Ficha (teclas), uma formação mais urbana que interpretava música pop internacional e sucessos angolanos que se ouviam na época.
Em 1978, forma, na cidade da Huíla, o Trio Henda, com Tony Morgado (percussão) e Hilário Ventura (dikanza). Com o Trio Henda surgem os sucessos “Havemos de voltar”, do poema homónimo de poeta Agostinho Neto, e Man Polé, canções que Mito Gaspar veio a gravar.
Com o Trio Henda, conquistou lugares cimeiros em festivais nacionais, tais como Festival Juvenil da Canção, Festival de Música Popular Variante e Festival Nacional de Cultura (FENACULT). Daí inicia a exibição da sua música em festivais internacionais: México, Cuba, Expo-Sevilha e Brasil foram os principais destinos.
Em 1984, funda o grupo “Som da Liberdade”, formação integrada na JMPLA, que resultou de uma fusão do Trio Henda, com Pedro Bondo (vocal), Nando Cuecas (guitarra) Tantão (viola baixo), Balula (percussão), Beto França (trompetista) e Tony Morgado (trombone).
Mito Gaspar nasceu a 5 de Outubro de 1957, no município de Cacuso, província de Malanje. No ano de 1978, após a conclusão do ensino secundário (5.º ano do liceu), viaja para a Huíla e chefia o Departamento de Cultura, Recreação e Desportos (DCRD) da JMPLA, iniciando uma carreira no ramo artístico-cultural.
Mercê do seu invulgar estilo musical, enraizado na identidade cultural angolana, Mito Gaspar é detentor de vários diplomas de mérito e reconhecimento, menções honrosas e outras distinções que o qualificam entre os maiores pilares da ancestralidade cultural, com uma discografia estruturada, versátil e eclética. Com o eclodir da guerra, em 1992, instala-se em Luanda e participa num concurso das das Nações Unidas, sendo indigitado para as funções de chefe Logístico do Programa Alimentar Mundial (PAM) em Malanje, Bié, Cuando Cubango e Cuanza-Sul.
Terminado o vínculo contratual com o PAM, regressa às lides culturais, no Ministério da Cultura, desempenhando vários cargos de chefia, entre eles Chefe de Departamento de Acção Cultural (Delegação Provincial de Luanda), Chefe de Departamento de Artes e Massificação Cultural (Direcção Nacional de Acção Cultural), Director Artístico (em comissão de serviço) nas Expo de Portugal, Espanha (Sevilla), Japão e Coreia do Norte.
Inúmeras participações em projectos sociais, de caridade e de intervenção sociopolítico e cultural, no país e no exterior, viriam a solidificar o crescimento e maturidade na esfera artística, cultural e profissional de Mito Gaspar.
Finalmente, em 2005, regressa a Malanje com a pretensão de contribuir para o surgimento de um turismo ecológico e no renascimento de uma cultura étnica da região, contudo, sem lograr sucessos satisfatórios.
“O homenageado desta edição tem um carácter de resgate dos valores culturais face a sua antologia musical, por ser dos poucos que tem uma música que identifica os angolanos”