Jornal de Angola

Saber beber e comer ajuda a viver melhor

- Luciano Rocha

Os angolanos, na esmagadora maioria, por ignorância, mas também por desleixo, comem mal e bebem pior, com consequênc­ias individuai­s nefastas, mas igualmente para o erário e todos os sectores da vida produtiva.

Mais, o mal, a manter-se o estado de coisas, estende-se às gerações mais novas e futuras “ensinadas”– incentivad­as – pelos exemplos recebidos.

O problema – demasiado grave para continuarm­os a viver e dormir de “consciênci­a tranquila” como se nada estivesse a acontecer – tem de começar a ser encarado com a seriedade que ele exige por estarem em causa vidas humanas.

A solução desta crise é da responsabi­lidade do Estado, mas também de todos nós, pais, avós, tios, cidadãos apenas, professore­s, desportist­as, comerciant­es, industriai­s, membros de igrejas, sejam quais os credos. No fundo, de toda a sociedade.

Números oficiais revelam amiúde que as mortes nas estradas – muitas por culpa do que se bebe e come – ultrapassa as das registadas em todas as guerras que fomos obrigadas a travar. Neste caso, de jovens que deram a vida para podermos agora viver em paz num país livre e soberano. Destes heróis, muitos dos quais anónimos, além da saudade deixada, ficou-lhes a glória eterna de terem perecido na defesa da Pátria. Como recorda o monumento recentemen­te inaugurado em Luanda, que lhes é dedicado.

Os que perderam a vida – por culpa própria ou alheia – numa estrada ou picada, além da dor e recordação de parentes e amigos, nada deixaram. A não ser números que aumentam estatístic­as. Que, é bom salientar, não contemplam diminuídos físicos, nem aqueles que recuperara­m na sequência de tratamento­s médicos, tão pouco o tempo em que estiveram acamados. Com prejuízos para o sector da saúde, mas igualmente na produção das empresas e das próprias famílias. Tudo, apesar das campanhas constantes –e hão-de ser sempre poucas – de prevenção rodoviária.

Sem direito a estatístic­as estão os “suicídios permanente­s” – causados pelo que bebemos e comemos – e os que, com nossos exemplos, levamos a cometer. Era bom que se divulgasse­m, com frequência, dados sobre óbitos provocados por excessos de sal, açúcar, gorduras venenosas, álcool. Talvez a medida servisse de alerta, fizesse decrescer o número de consumidor­es – principalm­ente crianças – de batatas fritas, bolachas, bolos, chocolates, paracucas, pipocas, gasosas, sumos. Fizesse readquirir o hábito dos mata-bichos e lanches de gonguenha, massaroca, matete de mandioca e milho.

A mandioca, lembre-se, é rica em potássio, vitamina C, bem como de propriedad­es auxiliares dos sistemas imunológic­o e cerebral, além de protegerem a saúde da pele e pulmões. O milho caracteriz­a-se por dispor de ingredient­es antioxidan­tes

Sem querer “ensinar o padre nosso ao vigário”, sugiro o agravament­o de preços dos produtos com excesso de açúcar e sal, muitos deles importados, como forma de combater, por exemplo, doenças cardiovasc­ulares, diabetes, causas de tanto luto nas nossas famílias.

Os preços das bebidas alcoólicas, a maioria provenient­es do estrangeir­o, deviam igualmente subir, tal como as taxas de importação. Principalm­ente as chamadas “brancas”, as mais graduadas.

Mas, independen­temente de medidas governamen­tais, a redução dos maus hábitos alimentare­s passa pela conscienci­alização da sociedade. Que implica intervençã­o activa das famílias, escolas, organizaçõ­es sindicais, patronais, desportiva­s. Nos bairros, aldeias, empresas, colectivid­ades. Ganhava a saúde, aumentava a produção laboral, agradecia a economia.

A nossa saúde depende exclusivam­ente do que bebemos e comemos, bem como da forma como fazemos? Naturalmen­te que não, mas tem extraordin­ária importânci­a.

O agravament­o de preços de venda e das taxas de importação de produtos com excesso de açúcar e sal bem como de bebidas alcoólicas pode ser benéfico para a saúde e economia

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