Saber beber e comer ajuda a viver melhor
Os angolanos, na esmagadora maioria, por ignorância, mas também por desleixo, comem mal e bebem pior, com consequências individuais nefastas, mas igualmente para o erário e todos os sectores da vida produtiva.
Mais, o mal, a manter-se o estado de coisas, estende-se às gerações mais novas e futuras “ensinadas”– incentivadas – pelos exemplos recebidos.
O problema – demasiado grave para continuarmos a viver e dormir de “consciência tranquila” como se nada estivesse a acontecer – tem de começar a ser encarado com a seriedade que ele exige por estarem em causa vidas humanas.
A solução desta crise é da responsabilidade do Estado, mas também de todos nós, pais, avós, tios, cidadãos apenas, professores, desportistas, comerciantes, industriais, membros de igrejas, sejam quais os credos. No fundo, de toda a sociedade.
Números oficiais revelam amiúde que as mortes nas estradas – muitas por culpa do que se bebe e come – ultrapassa as das registadas em todas as guerras que fomos obrigadas a travar. Neste caso, de jovens que deram a vida para podermos agora viver em paz num país livre e soberano. Destes heróis, muitos dos quais anónimos, além da saudade deixada, ficou-lhes a glória eterna de terem perecido na defesa da Pátria. Como recorda o monumento recentemente inaugurado em Luanda, que lhes é dedicado.
Os que perderam a vida – por culpa própria ou alheia – numa estrada ou picada, além da dor e recordação de parentes e amigos, nada deixaram. A não ser números que aumentam estatísticas. Que, é bom salientar, não contemplam diminuídos físicos, nem aqueles que recuperaram na sequência de tratamentos médicos, tão pouco o tempo em que estiveram acamados. Com prejuízos para o sector da saúde, mas igualmente na produção das empresas e das próprias famílias. Tudo, apesar das campanhas constantes –e hão-de ser sempre poucas – de prevenção rodoviária.
Sem direito a estatísticas estão os “suicídios permanentes” – causados pelo que bebemos e comemos – e os que, com nossos exemplos, levamos a cometer. Era bom que se divulgassem, com frequência, dados sobre óbitos provocados por excessos de sal, açúcar, gorduras venenosas, álcool. Talvez a medida servisse de alerta, fizesse decrescer o número de consumidores – principalmente crianças – de batatas fritas, bolachas, bolos, chocolates, paracucas, pipocas, gasosas, sumos. Fizesse readquirir o hábito dos mata-bichos e lanches de gonguenha, massaroca, matete de mandioca e milho.
A mandioca, lembre-se, é rica em potássio, vitamina C, bem como de propriedades auxiliares dos sistemas imunológico e cerebral, além de protegerem a saúde da pele e pulmões. O milho caracteriza-se por dispor de ingredientes antioxidantes
Sem querer “ensinar o padre nosso ao vigário”, sugiro o agravamento de preços dos produtos com excesso de açúcar e sal, muitos deles importados, como forma de combater, por exemplo, doenças cardiovasculares, diabetes, causas de tanto luto nas nossas famílias.
Os preços das bebidas alcoólicas, a maioria provenientes do estrangeiro, deviam igualmente subir, tal como as taxas de importação. Principalmente as chamadas “brancas”, as mais graduadas.
Mas, independentemente de medidas governamentais, a redução dos maus hábitos alimentares passa pela consciencialização da sociedade. Que implica intervenção activa das famílias, escolas, organizações sindicais, patronais, desportivas. Nos bairros, aldeias, empresas, colectividades. Ganhava a saúde, aumentava a produção laboral, agradecia a economia.
A nossa saúde depende exclusivamente do que bebemos e comemos, bem como da forma como fazemos? Naturalmente que não, mas tem extraordinária importância.
O agravamento de preços de venda e das taxas de importação de produtos com excesso de açúcar e sal bem como de bebidas alcoólicas pode ser benéfico para a saúde e economia