“Estamos amarrados às regras do Comité Olímpico Internacional”
Essas dificuldade são sentidas até na principal competição.
No próprio Girabola. Muitos clubes enfrentam dificuldades para terminar a prova. Paira sempre o espectro da desistência. Se isto acontece no escalão principal, não custa imaginar o que pode ocorrer nos escalões mais jovens. Uma das possíveis soluções seria a municipalização do desporto. Precisamos de ter municípios fortes, numa modalidade que seja. Nem sempre terá de ser um clube multidesportivo. Basta que tenha alta qualidade no andebol, no basquetebol ou no futebol. Que na modalidade eleita bata o pé aos clubes de referência do país.
E como efectivar esse desiderato?
Para isso acontecer, o município onde o clube é criado deve beneficiar do apoio de todos os extractos sociais locais. Falo numa só equipa, para que não pese financeiramente no orçamento do município. Mas penso que é perfeitamente possível formar uma equipa forte em cada município do país. Já aconteceu no passado. Tivemos uma equipa do ARA da Gabela, muito forte, apoiada essencialmente por fazendeiros locais e a indústria do café. Tivemos a mesma experiência no Namibe, com o Independente do Porto Alexandre, etc. Este poderá ser um caminho a seguir, para que possamos ter esses campeonatos a funcionar. Se os municípios principais tiverem equipas, rapidamente poderemos ter o desporto com maior qualidade e deixaremos de ter campeonatos de basquetebol e andebol feminino com meia dúzia de equipas. Essa municipalização iria permitir que os campeonatos fossem jogados por períodos mais longos.
O COA apoia quando as modalidades conseguem o apuramento. O basquetebol feminino qualificouse, com alguma surpresa, para Londres’2012 e a seguir decaiu bastante, em termos competitivos. A responsabilidade é apenas da Federação ou repartida com o COA?
Relativamente à selecção de basquetebol, posso dizer que, sem querer fugir das nossas obrigações, quase que a cem por cento deve ser imputada responsabilidades à própria federação, ou aos agentes desportivos do basquetebol. Porque não há como o Comité Olímpico intervir na competição interna e nas respectivas selecções. O nosso apoio é prestado após o apuramento. Se quisermos apoiar, estamos amarrados às regras do Comité Olímpico Internacional. Só o podemos fazer, por exemplo, na sua caminhada para a competição de apuramento aos Jogos. Nesta competição pode haver um apoio do COA. Nas restantes, não. Esta última prova, onde ocupamos o 6º lugar, não é qualificativa aos Jogos Olímpicos e, obviamente, estava fora da nossa alçada. Ainda assim, como espectador atento, devo dizer que a Selecção teve muito azar, porque tudo correu mal no dia em que nada deveria correr mal. Antes tivemos uma prestação excelente e vencemos todos os jogos da fase preliminar. Creio que Moçambique perdeu três jogos e acredito que aquele plantel, em dez jogos com Angola só ganharia um, que foi precisamente aquele.
Sente que o Olimpismo está bem disseminado pelo país desportivo, indo de acordo com a real dimensão dos Jogos Olímpicos?
Não! Digo isto, assumindo todas as consequências do que digo. Não está. Nem o Ministério da Juventude e Desportos. Por exemplo, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, o Minjud menosprezou, subvalorizou, a maior competição desportiva do Mundo. Não deu a devida importância a essa competição e, por isso, aconteceram os problemas que aconteceram, quando da nossa participação nos Jogos de 2016. Dito isto, vindo do Ministério, espero que o país tenha aprendido com esses jogos, o que pode e o que não pode fazer. Olho para esta questão e vejo a seguinte explicação, perdoem-me, mas não consigo ver outra. Esta é a única competição que não tem intervenção directa do Ministério. Não é gerida pelo Minjud. É gerida pelo COA. Por esse motivo, foi menosprezada. Vou mais longe. No Mundo desportivo de hoje, são cada vez mais os países onde as participações desportivas, a todos os níveis, ficam sob a alçada dos respectivos comités olímpicos. É assim na Europa, na Ásia, em grande parte do continente americano. Só assim não acontece em África.
“Precisamos de ter municípios fortes, numa modalidade que seja. Nem sempre terá de ser um clube multidesportivo. Basta que tenha alta qualidade no andebol ou no futebol”