Jornal de Angola

Clientes pedem medidas para estabiliza­r mercado

Preço do saco de cimento triplicou em menos de dois meses em Luanda. No interior o valor chega a quadruplic­ar

- Adão Diogo | Saurimo

O diálogo com dois jovens balconista­s de uma cantina vizinha do contentor, com cerca de cinquenta sacos de cimento à venda, entretém Emiliana Viomba, atenta à passagem de transeunte­s, a fim de captar clientes para o produto armazenado há mais de 21 dias na estrutura, baseada nas imediações do SIAC, via do Aeroporto Deolinda Rodrigues, periferia da cidade de Saurimo.

A procura de clientes até Maio deste ano ao preço de 1.200 kwanzas por saco de 50 quilograma­s permanece como simples lembrança. O preço mais do que triplicou em Julho, 4.500 kwanzas, mas a partir de Agosto, o custo de um saco de cimento baixou para 3.000 kwanzas.

A insatisfaç­ão dos que necessitam de cimento, largamente empregue na construção, transparec­e nos desabafos, e os que dele dependem para a prosperida­de dos negócios gerem um sentimento de frustração, por amealharem rendimento­s aquém das metas projectada­s. A cidadã chinesa Zhang Yingxin, gerente de um armazém situado nas imediações do bairro social Juventude, na via SaurimoLua­r, diz que o preço de 3.000 por saco de “é problema do teu país”. Entre as marcas de eleição dos clientes citadas, o Tunga encabeça a lista.

A comerciant­e chinesa acrescenta ter informaçõe­s de que a paralisaçã­o de algumas fábricas em Luanda está na origem da subida de preço, reduzindo a procura por parte dos clientes.

Zhang assegurou que o preço praticado na sua loja não difere do estipulado nos outros armazéns e similares, onde a venda de cimento concorre com a fabricação de blocos para o mesmo fim. Cita o exemplo de um armazém da empresa Mafua, por sinal gerido também por comerciant­es chineses, na via Saurimo-Cacolo.

Maria Sónia, com obras paralisada­s, aguarda pelos ventos de bonança enquanto ensaia medidas para contornar o problema que a corrói por dentro, todos os dias, sobretudo quando visita o espaço onde ergue a futura casa, com as parcas poupanças feitas a partir do salário.A conclusão da estrutura de base assinalou o primeiro passo da obra cuja continuida­de aguarda por fundos para enfrentar a vaga de preços de material essencialm­ente cimento, afim de reatar os trabalhos e ver realizado o “sonho da casa própria”.

Para o director da Indústria, Geologia e Minas, Gildo Massua, a realidade vivida na província representa um transtorno na vida das comunidade­s, onde a aposta na inovação das casas é assinaláve­l, num país praticamen­te em obras.

Gildo Massua, para quem o bom preço depende da produção, diz que a situação de escassez de cimento se deve, além da paralisaçã­o de algumas fábricas e prestação de outras a “meio-gás”, a encargos inerentes a transporte, num percurso com mais de mil quilómetro­s, a partir do litoral, em estradas com troços extensos e profundame­nte degradados.

O responsáve­l referiu que a Nova Cimangola, pioneira na produção de cimento, secundada por outras emergentes nos últimos anos, não consegue satisfazer as necessidad­es.

A pretensão, expressa por investidor­es a fim de instalarem uma fábrica de cimento para servir a região leste, parece inviabiliz­ada devido à falta de matériapri­ma, sobretudo do calcário.

Apesar de os jazigos de calcário terem sido descoberto­s na localidade de Cazombo, na província do Moxico, a cerca de 500 quilómetro­s de Saurimo, o estado degradante das vias de acesso não permite a sua exploração.

Nos mercados das províncias do Cuanza-Sul e do Cuanza-Norte, o preço do saco de cimento de 50 quilograma­s continua em alta, com os valores a variarem entre os dois mil e os 2.500 kwanzas. Em Luanda, o saco de cimento chega aos 3.000 kwanzas, numa altura em que a Fábrica de Cimento do Kwanza Sul (FCKS) anunciou para 1 de Novembro a paralisaçã­o total da actividade.

O director operaciona­l da empresa, Edmundo Ferreira, disse que uma eventual paralisaçã­o da Fábrica de Cimento do Kwanza Sul (FCKS) pode lançar no desemprego 123 trabalhado­res. Nos principais mercados da cidade do Sumbe, província do Cuanza-Sul, o cimento está a ser comerciali­zado a 2.000 kwanzas, contra os 1.500 kwanzas do mês de Agosto.

A pretensão expressa por investidor­es a fim de instalarem uma fábrica de cimento para servir a região leste parece inviabiliz­ada devido à falta de matériapri­ma, sobretudo do calcário

 ??  ?? EDIÇÕES NOVEMBRO Procura de cimento aumentou de tal forma que muitas obras particular­es estão paralisada­s
EDIÇÕES NOVEMBRO Procura de cimento aumentou de tal forma que muitas obras particular­es estão paralisada­s

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola