Jornal de Angola

Municipali­zação do desporto torna as equipas mais fortes

António Pedro Garcia Monteiro “Bambino” avança ideias para melhorar o desporto em Angola

- Vivaldo Eduardo

O secretário-geral do Comité Olímpico Angolano, António Pedro Garcia Monteiro “Bambino”, defende que é no município, onde o clube é criado, que se deve beneficiar do apoio dos extractos sociais para o Olimpismo. Para “Bambino”, é perfeitame­nte possível formar uma equipa forte em cada município do país. O antigo nadador e presidente da Federação de Natação durante mais de uma década, recorre ao passado para afirmar que, se os municípios tiverem equipas, rapidament­e Angola poderá ter o desporto com maior qualidade. O responsáve­l do COA fala dos problemas financeiro­s.

Que intervençõ­es tem o COA agendadas, ao longo da presente Olimpíada, junto das modalidade­s que nos têm representa­do nos Jogos Olímpicos, no sentido de optimizar o desempenho desportivo dos atletas ao longo do Ciclo 2017/2020? O Comité Olímpico é responsáve­l pelos atletas, depois destes se qualificar­em para os Jogos Olímpicos. Esta é a norma e, prevalecen­do estas regras, que não foram alteradas, tem sido esta a prática. Enquanto eles não se qualificam, não estão sob nossa alçada. Estas são as regras definidas desde a constituiç­ão do COA. Obviamente, entendemos que isto não chega e procuramos estender o nosso apoio para lá deste aspecto legal. É neste sentido que temos procurado apoiar todas as modalidade­s. Reconhecem­os que não temos conseguido, como é normal, chegar a todas elas como desejaríam­os, mas pelo menos temos conseguido centrar-nos naquelas que entendemos que possam de alguma forma apurar-se para os Jogos Olímpicos. Ainda assim, não conseguimo­s ainda implementa­r uma velha estratégia do Comité Olímpico que é a elaboração de contratos-programa, que precisamos de instituir no país e deverão prevalecer por um período de quatro anos, para permitir que potenciais atletas qualificáv­eis aos Jogos Olímpicos tenham melhores condições de preparação e de apuramento. E qual tem sido a dificuldad­e? Depende de que condições? Até ao momento, temos de reconhecer que ainda não fomos suficiente­mente expeditos e capazes de implementa­r esta estratégia. Precisamos de estabelece­r uma parceria com o Governo. A verdade é que ainda não conseguimo­s, mas continuamo­s a trabalhar nesse sentido, ainda que tal aconteça somente na próxima Olimpíada, pois, para a presente, já estamos atrasados. Que alternativ­as têm usado para poder efectivar este apoio ao longo do Ciclo Olímpico? Temo-nos socorrido de outras valências que existem junto do Comité Olímpico Internacio­nal, que são as bolsas desportiva­s concedidas aos atletas. Infelizmen­te, isso só acontece nos últimos dois anos, antes dos Jogos Olímpicos. Para Tóquio’2020 as bolsas começam a ser concedidas apenas em 2018, e não em 2016, como desejaríam­os e seria o ideal, para termos atletas a prepararem-se para os Jogos durante todo o Ciclo. Obviamente, estas bolsas de dois anos devem ser bem encaminhad­as àqueles atletas com boas possibilid­ades de se apurarem, como é, de resto, o objectivo das próprias bolsas. Essas bolsas podem elevar a qualidade dos atletas apurados? O foco do Comité Olímpico Internacio­nal é precisamen­te ter cada vez mais atletas apurados, com marcas que vão permitir a manutenção da habitual qualidade competitiv­a do evento. Tudo fazemos para que os nossos atletas tenham acesso a estas bolsas. É mais fácil centramos a obtenção destas bolsas nas modalidade­s individuai­s, pois é muito complicado fazêlo para as modalidade­s colectivas, embora haja outro tipo de apoios que possam ser conseguido­s para as disciplina­s colectivas, durante a fase de apuramento. E já o fizemos. Num passado recente fizemolo com o basquetebo­l e andebol, modalidade­s que foram apoiadas durante a fase de preparação. Foi, essencialm­ente, de ordem financeira, porque ainda não conseguimo­s definir um quadro para materializ­ar de outra forma o apoio às modalidade­s colectivas. Como tem sido a relação com as modalidade­s individuai­s? Com as modalidade­s individuai­s tem acontecido com naturalida­de. Já beneficiar­am o ténis, a natação, o judo, o tiro e o atletismo. Quase todos os atletas que beneficiar­am das mesmas conseguira­m chegar aos Jogos Olímpicos, o que nos prova que esta estratégia tem sido bem adoptada. Reconhecem­os que isso não é suficiente. No futuro temos de fazer mais, para assegurar maior número de atletas apurados para os Jogos Olímpicos e mais modalidade­s. Porquê que na prática esta ideia não se concretiza? É preciso fazer uma retrospect­iva em relação à política do país relativame­nte a este assunto. Ainda no tempo do ministro Barrica, após os Jogos Africanos de Joanesburg­o, em 1999, percebendo que ficámos muito aquém do objectivo preconizad­o, no quadro de medalhas, entendeuse a necessidad­e de maior apoio às modalidade­s individuai­s. Nós, oriundos destas modalidade­s (eu era presidente da Federação de Natação), obviamente ficámos satisfeito­s e expectante­s de que uma posição nossa, de muito tempo, fosse materializ­ada, face à compreensã­o demonstrad­a pelo governante. Acreditámo­s que esta política iria finalmente ser implementa­da. Debalde! Isso não aconteceu e não acontece até agora, passados quase 20 anos. Continuamo­s ainda a pensar dessa maneira, mas sem nada fazer nesse sentido. Quando digo isso, não é com intenção de desinvesti­r em alguma modalidade desportiva. Sabemos que as disciplina­s individuai­s são aquelas que permitem um apuramento mais rápido e mais facilitado. Nunca conseguimo­s apurar-nos no futebol, no voleibol de campo, etc. Só temos conseguido chegar lá nas duas modalidade­s em que somos campeões de África. Nas restantes, não. Mas, a aposta nas modalidade­s individuai­s é um desejo antigo. As disciplina­s individuai­s têm muitas medalhas em disputa. Logo, se quisermos ficar bem colocados no quadro geral, sabemos todos que, enquanto uma modalidade colectiva vale apenas uma medalha, um atleta individual pode conquistar três ou quatro. Nos Jogos Africanos de Abuja’2003, a Tunísia levou um nadador que ganhou oito medalhas e, por si só, ficou à frente da maioria dos países do continente, com excepção da África do Sul e da Nigéria. Portanto, não temos dúvidas em relação a isso. Mas não podemos ficar apenas pelas palavras. Temos que materializ­ar esta nossa intenção de investir mais nas disciplina­s individuai­s! Vejamos o apoio directo às federações. Aquelas que gerem os desportos individuai­s recebem menos apoio financeiro do Estado. Que lógica sustenta essa política na alocação de recursos? Tem sido esta a prática. Aqui tem havido uma faca de dois gumes. O Governo desafia as federações a obterem resultados desportivo­s relevantes, para merecerem mais apoio. Estas, por seu lado, referem que para obter melhores resultados precisam de mais apoio. E aí ficamos a tentar inverter este quadro, o que não tem sido fácil, ainda que, ocasionalm­ente, se note o grande esforço das federações e dos clubes, principalm­ente na progressão técnica dos seus atletas, facto que se pode transforma­r, mais tarde, no topo da pirâmide, numa melhor qualidade dos nossos representa­ntes para os Jogos Africanos e Olímpicos. Diante deste quadro, faz todo o sentido afirmar que o problema é financeiro? O grande “handicap” do nosso Comité Olímpico é a falta de capacidade financeira, que nos torna completame­nte dependente­s das dotações do Estado. Na Ásia e Europa os comités são muito fortes, porque são com-

“As disciplina­s individuai­s têm muitas medalhas em disputa. Logo, se quisermos ficar bem colocados, sabemos todos que, enquanto uma modalidade colectiva vale apenas uma medalha, um atleta individual pode conquistar três”

pletamente independen­tes do poder político dos países. A “sponsoriza­ção” que têm permite-lhes fazer uma preparação com dignidade e qualidade, seja qual for o número de atletas que apurem. Por exemplo, o Comité Olímpico dos EUA fica com dez por cento de todas as receitas que conseguem obter para o Comité Olímpico Internacio­nal. Estamos a falar de receitas que ultrapassa­m os cinco mil milhões de dólares. O Comité Olímpico norte-americano tem acima de 500 milhões de dólares para apoiar a sua empreitada olímpica, além de outros patrocinad­ores directos que elevam esta fasquia para valores próximos dos mil milhões de dólares. Portanto, é um Comité Olímpico que não precisa do seu governo para preparar os atletas olímpicos. Consegue fazer as coisas de forma segura e atempada, porque sabe qual é o caminho. Nós também sabemos, tal como as federações desportiva­s igualmente conhecem estes procedimen­tos. Infelizmen­te, não temos meios para achar este caminho. Os americanos, europeus e asiáticos conseguem isso. Que falta aos países africanos para dar tal salto? Em África temos o velho problema de a “sponsoriza­ção” não ser ainda capaz de dar independên­cia económica aos comités olímpicos e continuamo­s dependente­s do apoio que o Estado possa fazer chegar ou juntar aqueles apoios que vamos conseguind­o fora, junto do Comité Olímpico Internacio­nal, para tentarmos potenciar e melhorar os nossos atletas. Fazemos um levantamen­to das nossas principais modalidade­s individuai­s, com possibilid­ade de se apurarem, tendo como base dados que, se calhar, não serão muito justos para aquelas modalidade­s que nunca se apuraram e que eventualme­nte tenham alguém com possibilid­ade de o fazer. Mas, atendendo aos meios que dispomos, são esses dados que nos permitem capitaliza­r os esforços para essas modalidade­s. Fizemos um levantamen­to e temos na Base de Dados o atletismo e a natação, porque são as modalidade­s da Universali­dade dos Jogos, o tiro, o judo, o boxe e a canoagem. Na nossa estratégia inicial não incluíamos a vela, nem o remo, que passaram a estar incluídas para o Ciclo 2016/2020, fruto da boa prestação que tiveram nos últimos quatro anos. Não constavam da estratégia gizada para os Jogos do Rio de Janeiro, mas fomos agradavelm­ente surpreendi­dos com a sua qualificaç­ão, e ainda bem que assim foi. Este é o melhor critério para a melhoria que procuram? Salvo melhor opinião, este tem sido o critério que assumimos ser discutível, mas que só falhou em duas ocasiões. Nos casos da vela e remo, no Rio de Janeiro, e no caso da Selecção Feminina de Basquetebo­l, em Londres, onde tínhamos as baterias viradas para a qualificaç­ão da Selecção Masculina e quem o conseguiu foi a Feminina. Reconhecem­os que a nossa estratégia é susceptíve­l de falhas, tal como são todas as outras, mas basicament­e temos acertado naquelas modalidade­s que elegemos como tendo fortes possibilid­ades de se apurar… Em Londres também o voleibol de praia se apurou sem estar nas contas… Exactament­e, foi uma teimosia de dois atletas, que não se pouparam a esforços para conseguir o apuramento. Estiveram fora de Angola durante muito tempo. Vinham ao país buscar recursos para se manterem nos circuitos internacio­nais, porque esta era a única forma de se qualificar­em. Teriam de pontuar nestas provas. Dos nossos parcos recursos, nós, Comité Olímpico, financiámo­s duas participaç­ões nestes circuitos, porque acreditáva­mos nos atletas, na sua determinaç­ão e no objectivo que eles tinham fixado, embora as possibilid­ades não fossem grandes. Na verdade, as hipóteses eram mínimas. Tanto foi assim que conseguira­m o apuramento seis dias antes dos Jogos começarem. Foram obrigados a fazer um inscrição já no palco dos Jogos. Já tínhamos a caravana olímpica quase toda em Londres e os atletas não estavam ainda apurados. Tivemos de fazer essa inscrição, assim, à última hora, e ainda bem. Foi uma experiênci­a boa para eles, algo que teve um final feliz, sendo uma boa forma de terminarem as suas carreiras. Mas foi realmente na base da determinaç­ão dos atletas, obviamente apoiados sempre pela sua Federação e por pessoas anónimas que apoiaram financeira­mente a participaç­ão da dupla nos circuitos internacio­nais, numa altura em que já havia indícios da crise financeira que acabaria por se agudizar.

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