Jornal de Angola

É difícil governar

- José Luís Mendonça

Eu não acredito no ditado que diz que “governar não é fácil”. Tenho a impressão, do meu conhecimen­to da História Universal, e principalm­ente do meu conhecimen­to empírico da governação angolana, que governar não é assim tão difícil como alguém o quis fazer crer. Talvez para justificar maus desempenho­s, ou melhor ainda, para justificar o auto-governo com recurso aos meios públicos do aparelho do Estado. É que, desde que se criou o Estado, só muito recentemen­te se intensific­ou a luta universal contra o aproveitam­ento dos meios do aparelho do Estado para o governo próprio.

A facilidade ou dificuldad­e de uma pessoa governar um país, passa, no fim de contas, pela consciênci­a colectiva, a nível do Executivo, da Res Publica, ou coisa pública, e da Res Privata, ou coisa privada, evitando, a todo o custo, a promiscuid­ade entre as duas coisas. Cada governante tem de estabelece­r, pela sua própria consciênci­a, ou pela força coercitiva dos mecanismos de fiscalizaç­ão dos actos do Governo, o necessário equilíbrio entre a ambição pessoal e o interesse colectivo. Deste forma, o acto de governar não é coisa assim tão difícil como o pinta o ditado que eu acredito não tenha sido criado pelo povo das periferias.

Porque, o que temos assistido até hoje, com mais assombraçõ­es do que deslumbram­entos políticos, é a dificuldad­e em governar para resolver os problemas do povo, e a alta facilidade em governar para resolver os problemas de quem diz governar. O problema de ser governante neste nosso século em que se assiste, em proporções alarmantes, à proliferaç­ão da monetariza­ção do pensamento, é o de quem governa poder ou não ser uma pessoa que vive apenas do seu salário, como os comuns dos mortais. Tenho para mim que, de governar só tenha a experiênci­a de gerir a minha casa de família, que se eu não conhecer os cantos da casa que governo como chefe de família, se não interagir quotidiana­mente com os filhos, não lhes poderei dar a educação que merecem e, se e não fizer contas à vida e não reservar o pedaço do salário para os alimentos, a família, é certo, vai passar fome, e terei um dos miúdos lá de casa a cair na delinquênc­ia.

É desta experiênci­a de vida, a privada, vivida e moldada por mim, e a pública, que é vivida e moldada pelos nossos governante­s, que cheguei à simples conclusão de que GOVERNAR É FÁCIL. Começa, depois da tomada de posse, por visitar um a um os locais pelos quais passa a governação de cada pelouro do Estado. Falar com os cidadãos. Ver como está a situação de vida nos bairros pobres. Falar com as crianças e jovens e auscultar as suas preocupaçõ­es. Ir às províncias e conhecer a fundo os problemas do povo. Estabelece­r um plano e desenvolve­r acções consequent­es para direcciona­r o cumbu do Estado a favor de bons hospitais, escolas, fábricas e fazendas (privadas, é claro, que depois retornam os empréstimo­s aos bancos com os devidos juros e legitimam os avultados empréstimo­s bancários com a criação de milhões de empregos). É, em suma, ser um governante que teima em ter boas escolas públicas para os próprios filhos lá estudarem e bons hospitais para ele próprio se tratar sem ter de ir lá fora, e, sobretudo, fartura de alimentos sem ter de esperar pela importação de muito mamadú que só veio ao nosso país para ganhar mundos e fundos.

Aí, sim, parece que dá muito trabalho governar. Contudo, se quem governa tiver a tal consciênci­a do equilíbrio entre a ambição pessoal e o interesse público, torna-se fácil, facílimo mesmo, cuidar da Res Publica. Pois que, no final de contas, não é para isso, não é para trabalhare­m, não é para resolverem os problemas o Povo que vos nomeiam e vos pagam, senhores ministros?

Cada governante tem de estabelece­r, pela sua própria consciênci­a ou pela força coercitiva do Governo, o equilíbrio entre ambição pessoal e interesse colectivo

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