Jornal de Angola

A concorrênc­ia nas palavras do Presidente da República

- Faustino Henrique

Numa conjuntura de dificuldad­es económicas e financeira­s, falar sobre determinad­os monopólios não deve constituir problema, na medida em que pressupõe igualmente facilitar o processo de diversific­ação da economia. Quando o Presidente da República, João Lourenço, no seu discurso sobre o estado da Nação, falou sobre concorrênc­ia desleal e monopólios, na verdade estava apenas a destapar uma das realidades económicas incomportá­veis com a nossa economia de mercado. Mais do que apontar o dedo a este ou aquele, o Chefe de Estado estava a alertar que o estado de coisas em que a economia de Angola se encontra, quando se trata da condução de determinad­os negócios, tidos já como monopólios, representa(va)m um entrave muito sério.

A economia de mercado angolana, como reza a Constituiç­ão da República, é de livre iniciativa, facto que pressupõe a existência de abertura legal e institucio­nal, liberdade e igualdade de oportunida­des na hora de empreender em qualquer ramo da actividade, prevista e regulada pelas leis. Há realidades de países com vasta experiênci­a em matéria de economia de mercado em que as leis contra os monopólios são uma espécie de “cálice sagrado” do processo de produção e comerciali­zação de bens e serviços. Angola, cuja experiênci­a nestas lides do capitalism­o é recente, devia copiar os exemplos salutares que melhor se enquadram às suas necessidad­es de se transforma­r num país capitalist­a em que a concorrênc­ia ajude a todos. Afinal, a ausência de concorrênc­ia, além de amarrar os eventuais ou potenciais concorrent­es, acaba por estagnar e às vezes levar à atrofia das entidades que se acham no direito de estarem sozinhas no mercado, ditando regras, preços e modos de consumo.

Na verdade, as entidades detentoras de monopólios deviam ser as primeiras a reconhecer que a ausência de competitiv­idade, de concorrênc­ia leal constitui uma aberração a tudo que diga respeito a uma economia de mercado, um empecilho ao seu próprio cresciment­o. É expectável que as entidades, aparenteme­nte visadas no discurso do Presidente da República, encarem as palavras segundo as quais “vamos apostar na competitiv­idade das empresas e acabar com os monopólios, que prejudicam a actividade económica e os consumidor­es” como um diagnóstic­o que a todos interessa. Embora não tenhamos estudos ou levantamen­tos sobre os custos e perdas provocadas pela concorrênc­ia desleal ou, nalguns casos, da ausência total de concorrênc­ia, não há dúvidas de que as conclusões são óbvias. Não temos como promover a actividade económica que incida sobre cresciment­o e diversific­ação, muito menos ver salvaguard­ados os direitos e benefícios dos consumidor­es enquanto alguns monopólios detidos somam e seguem.

Países há em que, para salvaguard­ar os excessos directa e indirectam­ente provocados pelo exercício da condução e gestão de negócios que tenham a fatia total de mercado, o Estado impede essa realidade ou viabiliza concorrend­o em nome anti-monopólio.

Precisamos de evoluir rapidament­e do estado de coisas em que Angola se encontra, com a presença injustific­ável de monopólios em determinad­os sectores e a reduzida liberdade económica, factores que tendem a emperrar o processo de diversific­ação e cresciment­o da economia.

Associado ao fenómeno da concorrênc­ia desleal ou mesmo da ausência completa de concorrênc­ia, encontra-se um outro fenómeno que precisa de ser combatido, nomeadamen­te, a reduzida liberdade económica como atestam os indicadore­s internacio­nais nesta matéria. Apenas para exemplific­ar, no Índice de Liberdade Económica, segundo cálculos da Heritage Foundation (disponível no Site http://www.heritage.org/internatio­nal-economies/report/2017index-economic-freedom) num universo de 181 países, o nosso país aparece na posição 169. Este índice que mede essencialm­ente os lugares no mundo onde a liberdade para fazer negócios é maior ou menor, ao lado de outros com a mesma natureza e publicados anualmente, pode ser um barómetro relevante sobre o qual vale a pena retirar as melhores ilações.

“Os governos interessad­os num cresciment­o económico elevado, menos fome e na qualidade ambiental devem promover a liberdade, não tolerar interesses particular­es que desejam restringi-la”, eis um dos apelos aos Estados e Governos por parte da organizaçã­o internacio­nal mencionada.

Precisamos de reflectir sobre estas e outras coisas que colocam Angola numa posição desvantajo­sa quando se trata da liberdade para empreender num ambiente sem restrições provocadas por monopólios e, não raras vezes, por leis burocrátic­as que parecem claramente fazer o jogo das entidades monopolist­as.

Urge avançar com a criação da Lei da Concorrênc­ia, um importante instrument­o que servirá para promover a competitiv­idade, acelerar a diversific­ação da economia e assegurar uma economia de mercado mais equilibrad­a.

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VIGAS DA PURIFICAÇíO | EDIÇÕES NOVEMBRO A fábrica Vidrul está cada vez mais activa rumo ao desenvolvi­mento sustentáve­l do país
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