Shinzo Abe vence eleições no Japão
Maioria de dois terços na câmara baixa, como já acontece no Senado, permite ao primeiro-ministro convocar um referendo para propor a revisão da Constituição pacifista, ditada em 1947 pelos Estados Unidos, após a rendição do Japão no final da Segunda Guerr
O chefe do governo japonês, Shinzo Abe, obteve ontem uma ampla vitória nas eleições legislativas antecipadas, segundo sondagens à boca das urnas.
A coligação conservadora liderada pelo partido do primeiro-ministro nacionalista conquistou dois terços da câmara baixa, segundo estimativas da rede de televisão estatal NHK.
A coligação, integrada pelo Partido Liberal Democrata (PLD, de direita) de Abe e pelo partido Komeito (centro-direita), obteve pelo menos 310 dos 465 lugares em disputa, indicou a NHK.
Antes, segundo estimativas da rede de televisão privada TBS, baseadas nas sondagens à boca das urnas divulgadas depois das 20H00 locais, foi indicado que a coligação de Abe conseguiria 311 lugares.
No poder desde o final de 2012, depois de um primeiro exercício fracassado em 2006-2007, Shinzo Abe poderá permanecer no controlo do país até 2021, ultrapassando o recorde de longevidade de um primeiro-ministro japonês.
Antes das eleições, a coligação governamental contava com 318 lugares na câmara baixa do Parlamento, mas uma série de escândalos de favoritismo afectaram a sua imagem e trouxeram consigo o risco de uma derrota nas eleições legislativas, inicialmente previstas para dentro de um ano.
Com isso, Abe, de 63 anos, decidiu em Setembro dissolver o Parlamento e convocar eleições antecipadas, aproveitando o facto de a oposição se encontrar muito fragmentada. Com a sua maioria confortável, Abe conseguirá ainda mais legitimidade na sua firmeza a respeito da Coreia do Norte, que já lançou dois mísseis sobre o arquipélago japonês.
O primeiro-ministro é favorável à posição dos Estados Unidos da América de “manter todas as opções” na mesa, inclusive a militar, contra Pyongyang.
“A minha missão imediata é agir com firmeza com a Coreia do Norte. Para isso, uma diplomacia forte é necessária. Vou reforçar o nosso poder diplomático após a confiança depositada por vós em mim”, declarou Abe a um canal de televisão, no domingo à noite. Partido fracassado Após uma breve campanha de 12 dias focada na Coreia do Norte e em questões económicas, as eleições realizaram-se sob forte chuva e, por vezes, ventos violentos, sinais que anunciam a chegada do tufão “Lan”, que se dirige para o arquipélago japonês, vindo do sudoeste, com ventos de até 216 quilómetros por hora, no Oceano Pacífico.
Mais de 380 vôos foram cancelados ontem no Japão e os serviços de comboios e ferries interrompidos no oeste do país, onde as autoridades locais emitiram recomendações de evacuação para os moradores que vivem perto da costa, rios e colinas, diante do risco de tsunami, inundações e deslizamentos de terra.
Se o mau tempo não atrapalhou a logística da votação, poderia favorecer a abstenção. Às 19H30, a taxa de participação era de 31,82%, contra 32,72% nas últimas legislativas, em Dezembro de 2014. No entanto, esta taxa não tem em consideração os votos antecipados, que é possível no Japão vários dias antes do dia oficial das eleições. Ao todo, 21,4 milhões de eleitores, de cerca de 100 milhões de japoneses aptos, votaram antes de domingo, um recorde, de acordo com o Governo.
O Partido da Esperança (direita), da carismática governadora de Tóquio, Yuriko Koike, terá obtido 50 lugares, segundo a TBS. Ou seja, menos do que a outra principal formação da oposição, o Partido Democrata Constitucional, que conseguiria 58 deputados.
“Acredito que o resultado será muito severo”, declarou Koike após as primeiras estimativas, em Paris, onde estava a assistir a uma conferência internacional de presidentes de Câmara comprometidos com a luta contra a poluição atmosférica.
A líder de direita, de 65 anos, que foi uma famosa jornalista da televisão japonesa, foi ministra do governo Abe e partilha do seu nacionalismo, mas a sua decisão de não se apresentar pessoalmente às eleições fê-la cair nas sondagens. Reforma constitucional A coligação de Abe estaria, portanto, em posição de manter a maioria de dois terços na câmara baixa, como já acontece no Senado.
Trata-se de uma condição necessária para convocar um referendo propondo a revisão da Constituição pacifista, ditada em 1947 pelos Estados Unidos, após a rendição do Japão no final da II Guerra Mundial e cujo artigo 9 proclama que o país renuncia “para sempre” à guerra. Este é um desejo caro aos nacionalistas japoneses que apoiam Abe.
No entanto, o primeiroministro não se mostrou muito apressado, ontem à noite, para mudar a Constituição do país, priorizando, em vez disso, a ideia de alcançar um consenso que seja o mais amplo possível.
Campanha de 12 dias esteve focada na Coreia do Norte e em questões económicas. Votação decorreu sob forte chuva devido à chegada do tufão “Lan”