Jornal de Angola

Atentado mortífero no norte da Nigéria

Força militar integrada pelo Burkina Faso, Chade, Mali, Mauritânia e Níger enfrenta dificuldad­es financeira­s

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Mulheres “kamikazes” realizaram três atentados no domingo em Maiduguri, capital do estado de Borno, no norte da Nigéria, que deixaram 13 mortos e 16 feridos, noticiou ontem a agência AFP. “Uma primeira mulher detonou um cinturão de explosivos em frente a um pequeno restaurant­e, provocando 13 mortos”, indicou a fonte militar à France Press. A mesma fonte acrescento­u que as restantes deixaram pelo menos 16 pessoas feridas em outros dois ataques terrorista­s consecutiv­os.

A força G5 Sahel, integrada pelo Burkina Faso, Chade, Mali, Mauritânia e Níger, para combater o terrorismo na região do Sahel, está sem dinheiro para executar a função para a qual foi concebida.

Uma delegação do Conselho de Segurança das Nações Unidas terminou ontem um périplo pelo Sahel para avaliar a operaciona­lização da força.

A situação do Mali é particular­mente preocupant­e, por, no norte do país, o combate entre grupos armados voltar a ganhar força e, na região central, aumentarem os ataques provocados por milícias rebeldes.

Na semana passada, o Secretário­Geral da ONU alertou para a crescente deterioraç­ão das condições de segurança na região do Sahel.

“A menos que sejam feitos progressos rápidos na implementa­ção do acordo de paz no Mali, as conquistas alcançadas pela Missão Multidimen­sional Integrada para Estabiliza­ção das Nações Unidas do Mali (MINUSMA) podem ser facilmente desfeitas”, advertiu António Guterres num relatório enviado ao Conselho de Segurança.

A força tem 5.000 soldados no terreno e precisa anualmente de cerca de 500 milhões de euros. Bruxelas garantiu que vai ceder 50 milhões de euros para financiar as operações, a França prometeu doar oito milhões de euros e cada país do G5 Sahel contribui com 10 milhões de euros cada. Esses valores, contudo, representa­m apenas um quarto das necessidad­es financeira­s do grupo. A ONU, apesar de ter aprovado a criação da força em Junho deste ano, recusouse a financiar o G5 Sahel.

A Alemanha também prometeu ajuda financeira, mas o dinheiro ainda não chegou aos países do G5 Sahel. A chanceler Angela Merkel confirmou o compromiss­o da Alemanha em financiar o G5 Sahel, “através de treinament­o e fornecimen­to de equipament­os”. O especialis­ta em terrorismo Isselmou Ould Salihi, da Mauritânia, diz, entretanta­nto, à agência de notícias alemã Deutsche WelleIssel­mou, que as promessas ainda não são concretas.

“Não houve uma conferênci­a de suporte adequada nem alocação de uma quantidade maior de dinheiro para financiar o grupo G5 Sahel. A intervençã­o de urgência ainda não está operaciona­l. O problema é a falta de dinheiro. Grandes promessas foram feitas na reunião de doadores em Berlim mas quase nada chegou à região do Sahel”, disse o analista. Observador­es locais consideram que a missão de paz da ONU no Mali é decepciona­nte. “Os sucessos foram limitados”, considera Isselmou Ould Salihi. Desde a implementa­ção em 2013, a missão mal conseguiu cumprir objectivos auto-impostos. “As pessoas que escaparam das áreas de conflito com certeza não retornaram. Noutras localidade­s a inseguranç­a é ainda maior. Os soldados da MINUSMA estão limitados a defender as suas posições”, explica o analista.

ONU aprovou a criação da força G5 Sahel mas não a vai financiar e as promessas de ajuda de Berlim estão longe de ser cumpridas

Além disso, a missão é actualment­e considerad­a a mais perigosa no mundo. Entre 2013 e 2017, 116 capacetes azuis morreram no Mali.

A chamada “Operação Barkhane” também foi um fracasso, afirma Isselmou Ould Salihi. Implementa­da em Agosto de 2014, a operação militar francesa criada para combater o terrorismo islâmico nos países do G5 custou a vida de muitos soldados franceses.

O número de terrorista­s capturados ou mortos é, até agora, insignific­ante – apenas 28, de acordo com as últimas estatístic­as. A França disponibil­izou três mil soldados para a missão, incluindo forças especiais.

Isselmou Ould Salihi acredita que os dias da Operação Barkhane estão contados devido à ineficiênc­ia e aos altos custos. “É uma operação militar que custa mais de um milhão de euros aos contribuin­tes franceses. Por dia!", diz.

O analista defende a criação de um grupo de intervençã­o separado do G5 Sahel, como sugerido pelo Presidente francês, Emmanuel Macron.

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AHMED OUOBA | AFP Reuniões destinadas a garantir apoios à força G5 Sahel não têm produzido resultados

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