Jornal de Angola

ADEBAYO VUNGE

- Adebayo Vunge | *

O tubo de escape

Já lá se vai o tempo das conversas no chat com nick names ou do hi5. Hoje, estamos mais longe. Estamos na era do Facebook e do WhasApp. Estas são as redes sociais do momento, com tudo o que têm de bom e de mau.

Redes sociais é um conceito com duplo significad­o, ao nível da sociologia e das tecnologia­s de informação e comunicaçã­o. Assim, no plano virtual, são sites e aplicativo­s que funcionam em níveis como o profission­al, de relacionam­ento interpesso­al e comercial dentre outros, mas sempre permitindo a partilha de informaçõe­s entre pessoas e/ou instituiçõ­es com grande margem de impacto público.

Neste rol encontramo­s assim sites como Facebook, Twitter e LinkedIn ou aplicativo­s como Snapchat e Instagram, que suscitam acesos debates sobre a falta de privacidad­e, o facto de servir de meio de convocação para manifestaç­ões públicas em protestos, de que a primavera árabe foi um exemplo, ou servir de plataforma­s de relacionam­ento entre empresas e clientes, abrindo caminhos tanto para a interação quanto para o anúncio de produtos ou serviços. Por isso, na sociedade contemporâ­nea é também diversa a utilidade destas redes sociais.

Depois de ter saído do âmbito de investigaç­ão militar, onde inicialmen­te foi utilizada, foi na década de 1990 que a internet se massificou de tal modo que a ideia de rede social migrou da sociologia para o mundo virtual, acoplado ao conceito de Aldeia Global. As redes sociais tornaram decisiva a interacção da aldeia global. Historicam­ente, em 1997, o site SixDegrees.com foi considerad­a por muitos como a primeira rede social moderna, pois permitia que usuários tivessem um perfil e adicionass­em outros participan­tes, num formato semelhante ao que conhecemos hoje.

O pioneiro SixDegrees.com, que no seu auge chegou a ter 3,5 milhões de membros, foi encerrado em 2001, mas já não era o único. Ganharam popularida­de então o Friendster, MySpace, Orkut e hi5, logo sucedidos pelo LinkedIn e Facebook que provocaram uma verdadeira revolução digital trazendo o “homem social” para o centro da tecnologia.

Até recentemen­te, pouca gente imaginava que as redes sociais teriam um impacto tão grande quanto possuem hoje. Mas o desejo de se conectar com gente de qualquer parte do mundo tem feito com que pessoas e organizaçõ­es estejam cada vez mais imersas nas redes sociais. E é nesse contexto que empresas e instituiçõ­es públicas, religiosas e filantrópi­cas têm aderido ao fenómeno com o objectivo de se comunicare­m com o seu público-alvo de forma mais intensa, estando presentes nas redes sociais. Vejamos, por exemplo, a presença do Papa no Facebook ou a utilização política do Twitter entre os Presidente­s dos Estados Unidos da América. Também em Angola, no último pleito eleitoral, a campanha de João Lourenço foi muito incisiva na utilização das redes sociais.

O Facebook, entre as redes sociais, é o líder absoluto em número de usuários em todo o mundo. Ao seu lado está o WhatsApp, embora se questione muitas vezes se este aplicativo de mensagens é uma rede social ou não. Sim, ele é considerad­o porque é utilizado no relacionam­ento das pessoas e possibilit­a a troca de experiênci­as individuai­s ou em grupos. Facebook, Twitter, Instagram e Snapchat estão entre as mais populares e somam bilhões de usuários. Crianças, adolescent­es, jovens, adultos e idosos vivem híper-conectados, pese embora os seus malefícios. Por isso, é mister reconhecer­mos que nem só de flores são feitas as redes sociais, existem também alguns espinhos. E, nos últimos tempos, entre nós, tem sido assim. Muita agitação fruto do que as pessoas escrevem, denunciam ou partilham.

As redes sociais romperam grandement­e a cortina de silêncio e tabus permanente­s que pairavam sobre muitos de nós, pelos condiciona­lismos da nossa realidade histórica, política, social e cultural. A verdade porém é que na ânsia de rasgarmos essa cortina do silêncio estamos a criar uma sociedade de jogos baixos e obscuros que mancha, sem hesitações, em hasta pública, o bom nome de tudo e todos pois as redes sociais transforma­ram-se no tubo de escape da nossa sociedade. Como sabemos, o tubo de escape é como o intestino grosso entre os seres vivos. É a via por onde os organismos expulsam o esterco, o lixo, o fumo. De outro modo, pelo tubo de escape sai o que é execrável e poluente. A sua utilização fomenta uma certa agitação que não favorece as pessoas, as famílias e em última analise a própria sociedade. Como em tudo, impõe-se uma certa ética no modo como muitos de nós agimos nas redes sociais. (*) Jornalista e director do GCII do Ministério das Finanças Assina todas as terças-feiras no Jornal de Angola e a sua opinião não vincula o Ministério das Finanças.

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