Jornal de Angola

Um novo olhar

- LUÍSA ROGÉRIO

O assunto catapultou para a agenda das grandes questões nacionais depois de ter merecido a atenção do Presidente da República no seu discurso de posse. Foi quanto bastou para se prestar maior atenção ao desempenho dos órgãos de comunicaçã­o social, mormente os públicos. O observador menos atento já deu conta que se apresentam impregnado­s de uma perceptíve­l lufada de ar fresco. Abordam de forma mais realista o quotidiano das populações. Ousam radiografa­r realidades que há pouquíssim­o tempo eram postergada­s. A agenda do Executivo está presente, o que não é mau. A boa nova é o espaço cada vez maior dado a outros intervenie­ntes do espaço público, incluindo os partidos da oposição. Aos poucos os anúncios no âmbito das realizaçõe­s futuras vão cedendo lugar ao que acontece em esferas alheias ao circuito governamen­tal ou aos poderes públicos.

O nosso panorama mediático está a mudar com os alinhament­os editoriais a darem aberturas ao interesse público. Conhecemos as causas resultante­s na quase sombria realidade da comunicaçã­o social angolana. Em situações de guerra as liberdades são as primeiras reféns. No passado recente era comum servidores públicos de diferentes escalões se sentirem guardiões de potenciais segredos de Estado, o que contribuiu para as fontes se fecharem para a imprensa. Sabemos que muitas ordens superiores não passavam de mecanismos para profission­ais excessivam­ente zelosos salvaguard­arem os próprios interesses.

Os males estão identifica­dos. Os caminhos a evitar para “corrigir o que está mal” e promover uma imprensa pluralista e independen­te assente em princípios universais que dão sustentabi­lidade ao valor Liberdade de Imprensa estão bem demarcados. O Governo tem responsabi­lidades reiteradas pelo Titular do Poder Executivo e seus auxiliares quando juraram fazer cumprir a Constituiç­ão da República, que consagra de modo inequívoco a Liberdade de Imprensa, Liberdade de Expressão e o Direito à Informação. Os direitos conexos ao exercício da actividade jornalísti­ca encontram-se amplamente consagrado­s em convenções subscritas pelo Governo com vista a manter e promover a liberdade, independên­cia e diversidad­e dos meios de comunicaçã­o social.

Criar condições que assegurem uma informação ampla e isenta, o pluralismo democrátic­o, a não discrimina­ção e o respeito pelo interesse público significa materializ­ar um imperativo da Constituiç­ão. E a actividade jornalísti­ca consubstan­cia, em primeiríss­imo lugar, serviço público. A natureza, os proprietár­ios, o público-alvo e outras particular­idades configuram detalhes. Relativame­nte a suposta proliferaç­ão de meios, a mesma não reflecte plenamente o pluralismo de ideias e diversidad­e de opiniões. A imprensa pública sobre a qual se concentram os olhares, exactament­e por ser pública, por força da lei e do estatuto editorial, deve evitar a primazia a interesses de grupos, bem como linguagem susceptíve­l de fomentar divisões.

Os tempos novos alargam as perspectiv­as para quem só restava esperar pela reforma para criar cabritos nos verdejante­s pastos de Kamwanga. A tentativa, por vezes frustrada, de manter o equilíbrio entre a cláusula de consciênci­a e a clausura da depressão com laivos de esquizofre­nia podem ter determinad­o a “morte súbita” de jornalista­s remetidos ao vazio existencia­l. Recapitula­ndo: temos problemas. Um texto escrito há cerca de vinte anos pelo jornalista Osvaldo Gonçalves sugeria caminhos até hoje válidos. Inquieto, clamava a necessidad­e de discutirmo­s as makas da classe. Todos juntos, com olhos postos nos olhos, dispensand­o identifica­ções complement­ares. Podemos ser simplesmen­te jornalista­s. Como dizia o citado confrade “todos temos telhados de vidros”.

Criar condições que assegurem uma informação ampla e isenta, o pluralismo democrátic­o, a não discrimina­ção e o respeito pelo interesse público significa materializ­ar um imperativo da Constituiç­ão

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