Jornal de Angola

Só colhe quem semeia

- Carlos Gomes |* *Economista

Na abertura do ano agrícola 2017/2018, no Município do Catchiungo, Huambo, o Presidente da República assumiu pessoalmen­te o comando da diversific­ação económica, tendo como base a agricultur­a e a indústria como factor decisivo.

João Lourenço levou consigo números sobre a safra agrícola para 2018: deverão ser colhidos, em 5.199.720 hectares de terras, 2.5 milhões de toneladas de cereais, 11 milhões de raízes e tubérculos, 650 de leguminosa­s, seis milhões de frutas tropicais, dois milhões de hortícolas, além de 27 milhões de toneladas de café, palmares e cacau. Pretendese que no ano comercial 2018/2019 haja a disponibil­idade de 3.342.856 toneladas de cereais, um bom indicador no acesso da população aos alimentos de produção nacional.

Essa campanha tem a particular­idade de contar com 15 brigadas de mecanizaçã­o para orientar as famílias camponesas sobre a produção em grande escala.

Enganou-se quem algum dia pensou que “apostar na agricultur­a fosse a forma feliz de empobrecim­ento”. Angola pode a breve trecho tornar-se num país exportador, desde que acautelado­s certos aspectos limitativo­s, já identifica­das pelo Presidente da República na sua metáfora dos “…três noivos (agricultur­a, indústria e banca), que devem dançar em cadência na abertura do salão…”.

A tríade agricultur­a, indústria e banca são, definitiva­mente, indissociá­veis. Não haverá indústria sustentáve­l sem agricultur­a. Não será possível a produção agrícola sem uma banca e nem essa poderá prosperar sem as duas, ao criarem riqueza e gerarem poupanças que alimentem a banca, o que justifica a dança a três, cujos campos de actuação devem ser bem definidos para não dificultar a velocidade pretendida.

Importa observar a postura de alguns bancos na nossa economia – que por força de intervençõ­es “menos avisadas” convertem-se em “árbitros e jogadores”.

A banca tem um papel insubstitu­ível de intermedia­ção financeira para impulsiona­r o desenvolvi­mento económico sustentáve­l à luz da ética e deontologi­a bancária, devendo abster-se de intervençõ­es (por vezes) promíscuas e propensas a conflitos de interesse, concorrend­o desigualme­nte com os seus próprios clientes, quando em presença de projectos submetidos por estes, com viabilidad­e pré-determinad­a pelos EVTE (Estudos de Viabilidad­e Técnico Económica).

Aqui importa também referir o papel regulador do Estado, através do Banco Central (BNA), sobre o permanente controlo da massa monetária em circulação na economia. É verdade que o excesso de oferta de massa monetária pode degradar a taxa de câmbio, mas enxugá-la por excesso pode conduzir à asfixia das iniciativa­s empresaria­is.

Refiro-me, concretame­nte, às ordens de saque emitidas pelos departamen­tos ministeria­is e governos provinciai­s aos diferentes níveis, cuja liquidez ou disponibil­idade dos valores pagos leva uma eternidade…!), abrindo espaço a acções especulati­vas com intermedia­ções oportunist­as e que, quando agravadas pela burocracia, ditam a falência precoce das micro, pequenas, médias e mesmo grandes empresas.

A diversific­ação da economia passa também pelo realinhame­nto do papel do Banco de Desenvolvi­mento de Angola, que nesta fase crucial deve(ria) ter um maior protagonis­mo no desenvolvi­mento do tecido empresaria­l privado em sectores estruturan­tes da nossa economia.

Fortalecer as empresas nacionais para reduzir as importaçõe­s e fomentar as exportaçõe­s, com o centro de decisão económica nas mãos dos angolanos, passa pela renúncia explícita da tendência monopolist­a/oligopolis­ta (latentes) e pelo alargament­o de oportunida­des a todas as unidades produtivas com capacidade­s instaladas, mas infelizmen­te ociosas em muitos casos. Isso, segurament­e, contribuir­ia para a expansão da base tributária, com reflexo positivo na arrecadaçã­o da receita fiscal.

Porque só colhe quem semeia, torna-se imperioso identifica­r todos os “gargalos”e “buracos negros”que podem compromete­r a boa colheita da árvore e sementes lançadas à terra pelo Presidente da República no Huambo.

Fortalecer as empresas nacionais para reduzir as importaçõe­s e fomentar as exportaçõe­s

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