Só colhe quem semeia
Na abertura do ano agrícola 2017/2018, no Município do Catchiungo, Huambo, o Presidente da República assumiu pessoalmente o comando da diversificação económica, tendo como base a agricultura e a indústria como factor decisivo.
João Lourenço levou consigo números sobre a safra agrícola para 2018: deverão ser colhidos, em 5.199.720 hectares de terras, 2.5 milhões de toneladas de cereais, 11 milhões de raízes e tubérculos, 650 de leguminosas, seis milhões de frutas tropicais, dois milhões de hortícolas, além de 27 milhões de toneladas de café, palmares e cacau. Pretendese que no ano comercial 2018/2019 haja a disponibilidade de 3.342.856 toneladas de cereais, um bom indicador no acesso da população aos alimentos de produção nacional.
Essa campanha tem a particularidade de contar com 15 brigadas de mecanização para orientar as famílias camponesas sobre a produção em grande escala.
Enganou-se quem algum dia pensou que “apostar na agricultura fosse a forma feliz de empobrecimento”. Angola pode a breve trecho tornar-se num país exportador, desde que acautelados certos aspectos limitativos, já identificadas pelo Presidente da República na sua metáfora dos “…três noivos (agricultura, indústria e banca), que devem dançar em cadência na abertura do salão…”.
A tríade agricultura, indústria e banca são, definitivamente, indissociáveis. Não haverá indústria sustentável sem agricultura. Não será possível a produção agrícola sem uma banca e nem essa poderá prosperar sem as duas, ao criarem riqueza e gerarem poupanças que alimentem a banca, o que justifica a dança a três, cujos campos de actuação devem ser bem definidos para não dificultar a velocidade pretendida.
Importa observar a postura de alguns bancos na nossa economia – que por força de intervenções “menos avisadas” convertem-se em “árbitros e jogadores”.
A banca tem um papel insubstituível de intermediação financeira para impulsionar o desenvolvimento económico sustentável à luz da ética e deontologia bancária, devendo abster-se de intervenções (por vezes) promíscuas e propensas a conflitos de interesse, concorrendo desigualmente com os seus próprios clientes, quando em presença de projectos submetidos por estes, com viabilidade pré-determinada pelos EVTE (Estudos de Viabilidade Técnico Económica).
Aqui importa também referir o papel regulador do Estado, através do Banco Central (BNA), sobre o permanente controlo da massa monetária em circulação na economia. É verdade que o excesso de oferta de massa monetária pode degradar a taxa de câmbio, mas enxugá-la por excesso pode conduzir à asfixia das iniciativas empresariais.
Refiro-me, concretamente, às ordens de saque emitidas pelos departamentos ministeriais e governos provinciais aos diferentes níveis, cuja liquidez ou disponibilidade dos valores pagos leva uma eternidade…!), abrindo espaço a acções especulativas com intermediações oportunistas e que, quando agravadas pela burocracia, ditam a falência precoce das micro, pequenas, médias e mesmo grandes empresas.
A diversificação da economia passa também pelo realinhamento do papel do Banco de Desenvolvimento de Angola, que nesta fase crucial deve(ria) ter um maior protagonismo no desenvolvimento do tecido empresarial privado em sectores estruturantes da nossa economia.
Fortalecer as empresas nacionais para reduzir as importações e fomentar as exportações, com o centro de decisão económica nas mãos dos angolanos, passa pela renúncia explícita da tendência monopolista/oligopolista (latentes) e pelo alargamento de oportunidades a todas as unidades produtivas com capacidades instaladas, mas infelizmente ociosas em muitos casos. Isso, seguramente, contribuiria para a expansão da base tributária, com reflexo positivo na arrecadação da receita fiscal.
Porque só colhe quem semeia, torna-se imperioso identificar todos os “gargalos”e “buracos negros”que podem comprometer a boa colheita da árvore e sementes lançadas à terra pelo Presidente da República no Huambo.
Fortalecer as empresas nacionais para reduzir as importações e fomentar as exportações