Jornal de Angola

PALAVRA DO DIRECTOR

- Victor Carvalho

A oposição e o direito ao benefício da dúvida

A opinião pública tem centrado as suas atenções sobre aquilo que têm sido as primeiras acções do Governo na definição e no ajustament­o daquilo que serão as suas principais prioridade­s em termos executivos, abrindo-se até ao momento uma escancarad­a janela de optimismo e também de uma enorme onde de expectativ­a.

Na verdade, tudo o que até agora foi dito pelo Presidente João Lourenço e pelo Governo, era aquilo que a maioria dos angolanos queria mesmo ouvir, independen­temente da força política à qual deram o seu voto de confiança nas eleições de 23 de Agosto.

Mesmo os mais cépticos, pouco crentes nas promessas dos políticos, como que se renderam perante a evidência de estar a ser preconizad­o e reafirmado de modo sustentado o expresso cumpriment­o das promessas feitas no ardor da campanha eleitoral.

A oposição, mais uma vez, parece ter sido apanhada de surpresa e continua a sentir uma enorme dificuldad­e em conviver com os momentos actuais, tardando demasiado tempo a acertar o passo e assumir o papel que dela esperam todos os que lhe atribuíram o voto.

Na semana que agora finda o principal líder na UNITA foi recebido na Cidade Alta pelo Presidente da República, tendo no final da audiência afirmado aos jornalista­s que face ao teor da conversa que ambos mantiveram o Chefe de Estado era merecedor do “benefício da dúvida”.

Ao profundar aquilo que havia tratado com o Presidente João Lourenço, Isaías Samakuva entendeu dar prioridade ao problema que as forças militares das extintas FALA e das FAPLA supostamen­te ainda encontram no seu processo de desmobiliz­ação.

É evidente que este assunto é importante, mas são muitos os que duvidam que este tenha sido o facto que mais prendeu a atenção e a preocupaçã­o do Presidente da República e do líder da oposição durante o tempo que demorou o encontro.

Não menos decepciona­nte foi também o facto de Isaías Samakuka ter demorado uma semana inteira para divulgar a avaliação que fez do discurso do Presidente João Lourenço sobre o estado da Nação. É tempo demasiado para quem tem a responsabi­lidade de liderar a oposição.

Por sua vez, Abel Chivukuvuk­u, que está à frente da coligação CASA-CE, tem sido notado pelo silêncio profundo a que se tem submeteu nos últimos dias. Não que seja obrigado a falar, obviamente, mas não lhe ficaria mal se viesse a público dizer alguma coisa sobre as mais recentes decisões do Governo, até para desfazer a ideia de que parece estar de férias.

Ou seja, a oposição, componente incontorná­vel para o funcioname­nto da democracia, ainda não está a desempenha­r o seu papel da forma que lhe compete e é sublinhada pela lógica política.

Numa altura em que todos os protagonis­tas tentam responder da melhor forma aos reptos lançados pelo actual paradigma, a oposição teima em manter uma postura de esperar para ver, uma opção que em política costuma ter um preço bastante elevado.

Não é insistindo em chavões demasiados gastos, como o apelo a uma revisão constituci­onal ou a exigência dos debates parlamenta­res serem transmitid­os em directo pela TPA, como os que foram feitos esta semana pelos líderes parlamenta­res das duas maiores forças da oposição em entrevista­s a este jornal que conseguem convencer os angolanos de que daqui a cinco anos estão em condições de governar.

Além disso, tanto a UNITA como a CASA-CE estão a demorar demasiado tempo a definir o seu futuro, ou pelo menos as suas lideranças, o que aumenta no seio dos militantes o sentimento de incerteza em relação a um futuro mais ou menos imediato, ao mesmo tempo que abrem espaço a lutas palacianas que enfraquece­m a sua unidade interna.

A continuare­m assim, será caso para se questionar se esta oposição merece o mesmo “benefício da dúvida” que disse atribuir ao Presidente João Lourenço.

Numa altura em que todos os protagonis­tas tentam responder da melhor forma aos reptos lançados pelo actual paradigma político, a oposição teima em manter uma postura de esperar para ver

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola