Jornal de Angola

A FNLA está pronta para fazer alianças

O presidente da FNLA e único deputado desta formação política na Assembleia Nacional, Lucas Ngonda, disse que a sua organizaçã­o está disponível a fazer alianças com qualquer outra força política

- Adelina Inácio

O que é que a FNLA vai fazer de diferente da legislatur­a passada? Cada legislatur­a é uma legislatur­a e cada uma pode apresentar questões específica­s e vamos trabalhar em função daquilo que, de facto, for apresentad­o em concreto. Estamos aqui para servir o interesse geral e dar, da melhor forma possível, a nossa contribuiç­ão. Vamos esperar que a legislatur­a comece a funcionar, de facto, e, assim, vermos a natureza dos problemas, quer dos projectos de lei que o próprio Parlamento possa apresentar, quer das proposta de lei do Executivo e, em função dos assuntos a tratar, daremos a nossa contribuiç­ão. Que expectativ­a tem em função da composição do Parlamento? A oposição tem, considerav­elmente, 70 deputados. Eu penso que a parti-

cipação da oposição será de qualidade, porque temos uma nova composição do Parlamento. Temos vários membros da sociedade civil e de partidos políticos com uma visão sobre o nosso país que entraram no Parlamento para darem também a sua contribuiç­ão. Mas o Parlamento que temos não é diferente do último, porque a maioria absoluta está num só partido. O que isso representa, para si? Quer dizer que se vai passar o mesmo que na legislatur­a passada, em que a oposição até conseguiu fazer passar algumas das suas ideias através de projectos de leis, como é o caso da UNITA, que apresentou um diploma sobre as autarquias locais, mas foi praticamen­te um caso insólito, porque o Parlamento esteve sempre ao serviço do Executivo, o que não deve ser isso. O Parlamento está ao serviço da Pátria e do interesse geral dos cidadãos. O Parlamento não é uma estrutura do Executivo, para decidir aquilo que o Executivo quer, senão as discussões não teriam lugar. Por esta razão, penso que, apesar de serem poucas as hipóteses, temos de fazer passar a nossas ideias através das leis que possam ser votadas. O que gostaria de ver mudado? O que acontece nos outros parlamento­s, onde há divergênci­as importante­s sobre os projectos dos partidos políticos que são negociados com outras forças políticas. Se fizermos isso, penso que o trabalho do Parlamento será melhor. Quais são as prioridade­s que a FNLA definiu para o debate parlamenta­r? Naquilo que podermos fazer, alguma proposta faremos, mas desde que seja de interesse geral. De momento, não fixamos prioridade­s sobre aquilo que vamos fazer. Vamos ver como é que o Parlamento vai funcionar e, em função do interesse nacional, teremos muitos problemas a resolver que devem ser concretiza­dos através de leis. Em função do programa do Executivo, onde pensa que o Parlamento deve começar a trabalhar? Penso que temos um grande desafio e este desafio tem como objectivo fundamenta­l consolidar a democracia no nosso país e consolidar a participaç­ão dos cidadãos no processo democrátic­o. Os desafios passam pela implementa­ção das autarquias locais. O pacote das autarquias locais é urgente. As autarquias foram consagrada­s na Constituiç­ão em 1992 e até hoje o país ainda não tem as eleições autárquica­s. Quando, por exemplo, o Presidente da República disse que temos que ter aproximaçã­o com os munícipes, esta aproximaçã­o faz-se através das autarquias. Se o poder local funcionar, naturalmen­te o cidadão participa e, participan­do ao nível do município, comuna e bairro, a democracia funciona da melhor forma. A democracia que temos hoje é só uma democracia parlamenta­r, porque só funciona no Parlamento, nem mesmo na comunicaçã­o social funciona. Na comunicaçã­o social, não digo mais porque aí tem patrões que ditam as regras. De modo que as autarquias são uma forma de fazer participar os cidadãos no processo democrátic­o e na consolidaç­ão da própria democracia. Em termos de conquista, como avalia a legislatur­a passada? Na legislatur­a passada, ganhou-se alguma coisa. Quando começámos, em 2012, as Contas Gerais do Estado estavam acumuladas há anos e nunca foram analisadas pelo Parlamento. Foi na legislatur­a passada que, através de acesas discussões, conseguimo­s que o poder Executivo apresentas­se periodicam­ente muitas Contas do Estado. Isso foi uma conquista, porque antes o Executivo decidia e tudo ficava por aí. Mas o Parlamento exigiu que estas contas viessem à Assembleia Nacional com o parecer do Tribunal de Contas. Isso também é uma conquista e vamos continuar nesta legislatur­a. Vamos continuar a insistir na questão da transmissã­o em directo dos debates na televisão. Se nós queremos educar a nossa população, queremos que a população que vote e siga as discussões do Parlamento para entender a natureza do combate político dos deputados, devemos transmitir os debates. Será uma forma pedagógica na interacção entre os deputados e a população. Seria um ganho para a população, porque é a partir daí que a população vai compreende­r o que é um combate democrátic­o. Somos uma nova sociedade e nem todos sabem o que é uma Constituiç­ão. Que alianças pensa fazer no Parlamento e fora dele para que o vosso trabalho tenha êxito? Isto depende dos problemas que surgirem e da natureza das questões que forem apresentad­as. Se a FNLA entender que uma ou outra questão merece a nossa contribuiç­ão e que, para que seja aprovada, é necessário concertar com outras forças políticas, nós não hesitaremo­s, porque acima de tudo está a satisfação do interesse geral. Mas, por enquanto, o nosso partido é livre de fazer alianças com qualquer tipo de forças política, desde que achemos que esta aliança vá ao encontro do projecto do nosso partido. Estamos no Parlamento e temos o partido, quando há problemas a gente leva para o partido, que tem o bureau político e comité central, para decidir. Se depender do Parlamento, os programas do partido no poder vão ter êxito? Pelos discursos do Presidente João Lourenço, que parecem transparen­tes, profundos e reformador­es, temos expectativ­as. Mas estamos com receio de que este discurso não encontre aplicação prática no seio do seu próprio partido, porque o nosso sistema é de partido-Estado. Se o Presidente João Lourenço fosse um candidato eleito de forma independen­te e que formasse o seu Governo com as forças políticas que lhe apoiassem, aí poderíamos acreditar que tudo que ele dissesse fosse acontecer, porque é o programa dele. Mas muitas questões que ele abordou estão fora do programa do MPLA. Os discursos dão alguma esperança? Segui com muito interesse a reunião, o discurso do exPresiden­te José Eduardo dos Santos, que indicou o que é que o MPLA pretende e o que pretende é a aplicação dos pontos aprovados pelo comité central antes das eleições. É um bom recado para o actual Presidente da República. O ex-Presidente José Eduardo dos Santos não se preocupou com tudo que o Presidente João Lourenço disse, mas se deu aqueles recados para um bom entendedor meia palavra basta. O que quer dizer que o Presidente João Lourenço pode ter toda a boa vontade para corrigir, porque é jovem, é de uma outra geração. Mas está confiante? Provavelme­nte, ele tem uma outra visão. Por isso, vamos dar-lhe o benefício da dúvida, porque tem outra visão que pode ser benéfica para o país, mas o MPLA ainda não fez uma revolução para mudar a sua forma de trabalhar. Eu penso que esta revolução que o Presidente João Lourenço quer fazer sobre o funcioname­nto do Executivo deve ser feita também no seio do MPLA para ter sucesso. Quer dizer, de um lado está ele a propor ideias valiosas para a reconstruç­ão do país e do outro lado está o MPLA, que deve apoiar estas ideias do Presidente da República.

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MOTA AMBEÓSIO | EDIÇÕES NOVEMBRO
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