Jornal de Angola

NGandajina fica mal na fotografia do PRS

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João Baptista NGandajina, membro fundador do Partido de Renovação Social (PRS) e antigo ministro da Ciência e Tecnologia no quadro do Governo de Unidade e Reconcilia­ção Nacional (GURN), decidiu, há dias, abandonar o partido, por suposta violação dos princípios democrátic­os, das normas estatutári­as e do funcioname­nto dos órgãos e das estruturas daquela formação política com mais influência no Leste do país.

Mas é sobretudo aquilo que ela caracteriz­a por humilhação a que está a ser alvo que terá pesado bastante na tomada daquela decisão. NGandajina certamente queria um melhor tratamento no seio do partido, não fosse ele um membro fundador e antigo secretário-geral.

Apesar de Manuel Ribaia, secretário para os Assuntos Políticos e Organizati­vos do partido, ter minimizado o rompimento de João Baptista NGandajina, afirmando que este era livre de abandonar o PRS, a verdade é que a saída do ex-dirigente pode provocar abalo, ainda que de pequeno grau, nas hostes do partido.

Não se trata da primeira dissidênci­a de peso na história do PRS. António Muatchicun­go, Lindo Bernardo Tito, actualment­e um dos dirigentes da coligação CASA-CE, e Joaquim Nafoia, agora deputado pela UNITA, são alguns antigos dirigentes dos “renovadore­s sociais” que abandonara­m o partido, até então dirigido por Eduardo Kuangana, com praticamen­te as mesmas justificaç­ões. João Baptista NGandajina foi um dos candidatos derrotados no último congresso do PRS, realizado em Maio deste ano e que elegeu Benedito Daniel como sucessor de Eduardo Kuangana, que não voltou a concorrer para a sua própria sucessão por problemas de saúde. A saída de NGandajina também pode implicar o abandono de alguns militantes, sobretudo seus seguidores no partido. É um cenário não muito bom para o PRS, que a cada eleição que passa vai diminuindo a sua representa­ção na Assembleia Nacional.

Nas eleições de 1992, as primeiras da história de Angola, o PRS conseguiu eleger seis deputados. Em 2008, subiu para oito deputados e, de lá para cá, foi baixando a representa­tividade no Parlamento para três parlamenta­res em 2012 e dois nas últimas eleições.

NGandajina justificou estes desaires seguidos com as constantes violações dos estatutos por parte da direcção. Em declaraçõe­s ao NGandajina denunciou a existência de tratamento diferencia­do dos militantes, até mesmo no seio da direcção, o que tem desmotivad­o muitos a se entregarem em prol do partido. Não esclareceu se tal distinção era em termos de benesses ou de protagonis­mo no seio do partido, mas, trocando em miúdos, NGandajina disse que haverá, no seio do partido, filhos e enteados.

O estranho, no entanto, é que João Baptista NGandajina tenha batido com a porta somente agora, quando ele próprio afirma que os problemas que denuncia se arrastam desde o tempo em que Eduardo Kuangana era o presidente do partido. “Esperava que o último congresso resolvesse o problema, mas não houve um debate sobre o assunto. Foi uma simples reunião. Por isso, esperei que as eleições passassem para que anunciasse a minha renúncia”, justificou o político.

Não sou especialis­ta em Ciências Políticas, mas, na minha opinião, NGandajina, não tendo conseguido ser eleito presidente no congresso realizado em Maio, deveria ter anunciado a sua retirada logo depois daquele conclave e aproveitar o momento para fazer as denúncias que faz agora. Haveria maior sustentaçã­o na sua justificaç­ão.

Bom, mas como dizem que a política é um jogo de interesses, vou dar o benefício da dúvida a João Baptista NGandajina, mas não deixo de afirmar que, para mim, um leigo na política, ele ficou mal na fotografia.

“Esperava que o último congresso resolvesse o problema, mas não houve um debate sobre o assunto. Foi uma simples reunião. Por isso, esperei que as eleições passassem para que anunciasse a minha renúncia”

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