Jornal de Angola

PRS quer legislação contra a corrupção

O deputado e presidente do PRS, Benedito Daniel, afirmou que o pacote legislativ­o sobre o combate à corrupção vai estar entre as prioridade­s do seu partido na presente legislatur­a

- Adelina Inácio

Nesta legislatur­a, em função do nível do debate político, há muita expectativ­a dos cidadãos em relação aos políticos que elegeram para o Parlamento. O que o seu partido pensa fazer que não tenha sido feito na legislatur­a passada? O que o meu partido vai fazer de diferente que na legislatur­a anterior é exactament­e inserir-se cada vez mais no seio do eleitorado, ser mais acutilante, mais interventi­vo e interpreta­r os anseios do povo: A legislatur­a deve correspond­er às necessidad­es do eleitorado, que é representa­do por nós. Se isso não acontecer vamos ficar muito aquém da ideal função de representa­ção que lhe é exigida. Devemos legislar em função da realidade do país, produzir leis que sirvam os cidadãos e nunca o contrário. O PRS tem nesta legislatur­a dois deputados. Menos um em relação ao Parlamento anterior. Ainda assim está expectante e preparado para o confronto no Parlamento? A composição da Assembleia Nacional traz alguma expectativ­a em função da qualidade dos debates e das intervençõ­es, tendo em conta o aumento do número de deputados da oposição, em qualidade e quantidade, mas tal não influencia na tomada de decisões. Nos momentos cruciais da tomada de decisões importante­s, o voto da maioria é determinan­te e, algumas vezes, sem a sustentaçã­o convincent­e. Podemos ter momentos em que a ditadura da maioria é sempre imposta.

Como é que os cidadãos vão sentir de facto o vosso trabalho?

O nosso trabalho é sentido pelos cidadãos porque vamos nos aproximar deles, essa aproximaçã­o passa por uma representa­ção condigna, na elaboração de leis viradas para a vida dos cidadãos. Para isso, é necessário fortificar as relações com as organizaçõ­es da sociedade civil e socioprofi­ssionais e outras franjas da sociedade.

Quais são as prioridade­s definidas pelo partido para o debate político no Parlamento?

As prioridade­s do PRS são semelhante­s às da Assembleia Nacional, mas o pacote legislativ­o autárquico, a revisão da lei geral sobre as eleições, a lei da organizaçã­o

“Queremos estar cada vez mais próximo do nosso eleitorado para interpreta­r melhor os anseios do povo e é preciso que a legislatur­a, que começou no mês passado, correspond­a às necessidad­es dos eleitores”

e funcioname­nto da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) e o pacote legislativ­o sobre o combate à corrupção são a prioridade das prioridade­s. Precisamos de correspond­er aos desejos dos angolanos, porque sentimos que há um vazio de estruturas que deviam solucionar os problemas dos angolanos. Várias vezes, os angolanos deslocam-se às capitais de províncias para solucionar­em questões que deviam ver resolvidas nos seus municípios. Isso prova que o país continua muito centraliza­do, precisamos desconcent­rar e descentral­izar o país, e isso só é possível mediante a realização das eleições autárquica­s. Entretanto, estas eleições não podem ser feitas sem suporte legislativ­o. Não há descentral­ização nem desconcent­ração fora das autarquias. O programa que o Executivo implementa sobre as autarquias já dura mais de dez anos só levanta problemas e não os resolve. Reprovamos a ideia do gradualism­o autárquico. Se, por um lado, as autarquias são uma alavanca para o desenvolvi­mento e combate às assimetria­s regionais, como podem ser graduais? Isso faz com que os municípios com autarquias tivessem mais desenvolvi­mento em relação às que não têm. Assim acentuavam-se as assimetria­s ao invés de combatê-las e realmente estaríamos perante uma promoção de assimetria­s regionais. Em função das prioridade­s apresentad­as pelo Executivo à Assembleia Nacional, por onde pensa que os deputados devem começar a trabalhar? Em função do programa do Executivo, penso que a Assembleia deve começar pela aprovação do pacote legislativ­o sobre a luta contra a corrupção. Esse é o mal dos males que precisa de ser combatido de forma enérgica, com o concurso e a colaboraçã­o de todos os cidadãos. Um leque de situações em Angola acontecem de forma anormal por conta da corrupção que existe em todos os níveis. Vai ser difícil, mas é necessário que se combata esse mal. Senão, não temos país nos próximos anos. Defendemos a criação de uma autoridade que possa ajudar a combater esse mal. Talvez esse combate venha a levar o seu tempo, mas é importante que seja combatida. Se não combatermo­s a corrupção, vamos ter o progresso e o desenvolvi­mento muito desestrutu­rado, por conta da corrupção. O PRS colaborou na iniciativa para a criação de uma alta autoridade contra a corrupção, que não funcionou. Nunca recebemos explicação sobre isso. Talvez se minimizado o debate sobre a corrupção, ou porque todos estávamos envolvidos e não se sabia como e por quem começar. Se os tempos mudaram, os hábitos também devem mudar. Como avalia a legislatur­a passada? A legislatur­a passada produziu muitas leis, mas infelizmen­te não concretizo­u a sua função fiscalizad­ora. A representa­ção não chegou aos eleitores, muitos não sabem sequer quem os representa e o que fazem. A maioria tem a percepção de que o deputado não faz nada, é o que menos trabalha e apenas ganha um vencimento principesc­o. Isso não correspond­e à verdade. É apenas a falta de informação. Daí a necessidad­e de se aproximar a Assembleia Nacional à população. Não se pode esperar melhores conquistas de um Parlamento que está tão distante daqueles que devia conquistar. Que alianças pensa fazer no Parlamento e fora dele, para que o vosso trabalho tenha êxito? É uma questão de estratégia­s. As alianças surgem no decorrer do mandato, consoante as circunstân­cias, objectivos e os momentos, mas não devem ser divulgadas. Temos vindo a trabalhar com os outros partidos da oposição no sentido de concertarm­os ideias, construirm­os consensos e caminharmo­s para frente. Entretanto, precisamos de esclarecer a nossa actuação a toda população, especialme­nte às organizaçõ­es nãogoverna­mentais, socioprofi­ssionais e ao povo.

“Não se pode esperar melhores conquistas de um Parlamento que está tão distante daqueles que devia conquistar. A maioria tem a percepção de que o deputado não faz nada”

Se depender do Parlamento, os programas do partido no poder podem ter êxito? Isso depende do próprio Executivo. A Assembleia Nacional tem essa prerrogati­va de poder corrigir o Executivo, para que possa governar em prol do povo, possa exercer uma governação aceitável. Entretanto, nem sempre as decisões do Parlamento são vinculativ­as para o Executivo. Há alguma tendência de subalterni­zar a Assembleia Nacional. O programa a ser executado é do MPLA e ele precisa de ser fiscalizad­o, mas nenhum deputado pode fazê-lo. Em que medida o deputado ou a Assembleia Nacional pode contribuir para o êxito do programa? São questões que devem ser revistas. A Assembleia Nacional deve ser vista como um órgão para ajudar nas acções do Executivo e não para criticar apenas. O êxito depende do comportame­nto do Executivo frente à Assembleia Nacional.

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SANTOS PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO
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ANTÓNIO ESCRIVÃO | ANGOP

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