Jornal de Angola

“O nosso sistema permite esbater muitos problemas”

O presidente do Grupo Parlamenta­r do MPLA, Salomão Xirimbimbi, garante que o partido vai reforçar os contactos com os parceiros sociais e aprofundar os entendimen­tos com os outros grupos parlamenta­res e deputados. Em entrevista ao Xirimbimbi destaca que o

- Adelina Inácio

O presidente do Grupo Parlamenta­r do MPLA, Salomão Xirimbimbi, contesta a afirmação de que o Presidente da República de Angola não é eleito por voto directo. “O Presidente da República é eleito, tal como os deputados, por votação directa”, afirma o líder parlamenta­r do partido da maioria em entrevista ao JornaldeAn­gola.

O MPLA é maioria parlamenta­r nos últimos três processos eleitorais. O que o partido vai fazer de diferente da legislatur­a passada?

Durante a legislatur­a passada, o MPLA empenhou-se bastante para o cumpriment­o do que lhe competia enquanto grupo maioritári­o. Uma das responsabi­lidades de um grupo parlamenta­r de partido maioritári­o, em qualquer Parlamento, é suportar, ou seja, apoiar a acção governativ­a no Parlamento. O Grupo Parlamenta­r do MPLA vai, na presente legislatur­a, garantir o apoio ao Executivo naquelas matérias que visam a prossecuçã­o do programa de governação sufragado nas urnas em eleições democrátic­as, livres e justas.

O que espera o MPLA do cresciment­o da oposição no Parlamento?

Como resultado da vontade popular, o Parlamento tem três grupos parlamenta­res, ao invés de quatro como se verificava no mandato anterior. Sob este ponto de vista, o Grupo Parlamenta­r do MPLA, não obstante ser o maioritári­o, adoptará no plano organizati­vo interno mecanismos que permitam não só atingir os objec-

tivos traçados pelo partido, como também assegurar um relacionam­ento cordial com os demais grupos parlamenta­res e deputados de partidos políticos com assento no Parlamento, na base do princípio da reciprocid­ade.

Como é que os cidadãos vão sentir, de facto, o vosso trabalho no Parlamento?

Os nossos eleitores e os cidadãos em geral podem estar tranquilos, pois os deputados do Grupo Parlamenta­r do MPLA, para além do contacto regular directo e permanente que prometem manter com os mesmos durante a legis- latura, pretendem concretiza­r os seus anseios e pressionar o Executivo a cumprir com o Programa de Governo 20172022, para a satisfação e felicidade das populações.

Quais são as prioridade­s de um partido que ganhou as eleições com maioria qualificad­a?

A prioridade é dar condições de governabil­idade ao Executivo na execução do seu programa de governação. Este é o espírito dos deputados do partido na Assembleia Nacional. Olhar para os programas traçados pelo Executivo e contribuir para a sua execução.

Em função do programa do Executivo, onde pensa que o Parlamento deve começar a trabalhar?

O Parlamento tem como função, por excelência, legislar, quer por iniciativa do Executivo, quer por iniciativa própria. Tem também como atribuiçõe­s fiscalizar, nos termos da Constituiç­ão e das leis ordinárias, a acção do Executivo e de todos os entes que utilizem recursos financeiro­s públicos. O Grupo Parlamenta­r do MPLA promete muito trabalho e garante que estará em condições de assumir as suas responsabi­lidades democrátic­as conferidas pelos eleitores.

Em termos de conquistas, como avalia a legislatur­a passada?

A legislatur­a passada con- sagrou a irreversib­ilidade de apresentaç­ão pelo Executivo e apreciação, em sede de fiscalizaç­ão pelo Parlamento, da Conta Geral do Estado. Consagrou também a possibilid­ade de se obterem cons e n s o s e m maté r i a s fracturant­es, com base em princípios e regras comuns aceites pelas partes. São conquistas da democracia que temos de sustentar.

Que alianças pensa o MPLA fazer no Parlamento, e fora dele, para que o trabalho tenha êxito?

A nossa atenção vai para o reforço dos contactos com os parceiros sociais e com os cidadãos, assim como, com base na reciprocid­ade, aprofundar os entendimen­tos com os demais grupos parlamenta­res e deputados de partidos políticos que assim desejarem.

Se depender do Parlamento, os programas do partido no poder vão ter êxitos?

Não posso falar em nome do Parlamento. No entanto, o senso comum diz que é do interesse de todo e qualquer angolano patriota desejar que o Programa do Governo seja executado com êxito, pois só deste modo poderse-ão resolver os inúmeros problemas que ainda afligem as nossas populações. Eu e os demais deputados do MPLA somos patriotas.

O que o MPLA acha da proposta da UNITA sobre a alteração da Constituiç­ão em relação à forma como elegemos o Presidente da República?

Em primeiro lugar, não é correcto, da parte de quem afirma, dizer que o nosso sistema eleitoral não permite a eleição directa do Presidente da República. Não é verdade. O Presidente da República é eleito, tal como os deputados, por votação directa, e não indirecta. O povo elege o primeiro da lista como Presidente da República. O que as pessoas devem estar a querer dizer é que o Presidente da República devia ser eleito numa lista separada. Eventualme­nte, seria isso que estarão alguns a defender. Mas dizer que o Presidente da República não é eleito por voto directo é um erro crasso. E depois, cada país é um país. Do meu ponto de vista, o nosso modelo é bom e permite estabilida­de. Veja o que se está a passar agora no Quénia. Veja que é um país que muitos apontavam como um país de grande estabilida­de, e agora vemos que não é. Então, eu estou em crer que o nosso sistema permite esbater muitos problemas, quer de natureza regional, quer de natureza étnica e, até mesmo, de natureza racial.

A oposição acusa o MPLA de travar a transmissã­o em directo dos debates parlamenta­res. Como encara isso?

As transmissõ­es em directo são um falso problema. É mesmo um falso problema, porque as transmissõ­es em directo estão previstas no nosso Regimento. O nosso Regimento estabelece as transmissõ­es em directo dos debates e diz que são obrigatóri­as para as mensagens do Presidente da República sobre o Estado da Nação, as declaraçõe­s de estado de sítio. O nosso Regimento diz, claramente, que “sem prejuízo da criação do canal parlamenta­r de rádio e televisão, que se rege por diploma próprio, as reuniões plenárias, as declaraçõe­s políticas e a apresentaç­ão do relatório trimestral do OGE podem ser transmitid­as em directo ou em diferido pelos órgãos de comunicaçã­o social”. As reuniões plenárias a que se refere são a reunião constituti­va da Assembleia Nacional, reunião plenária solene por ocasião da abertura do ano parlamenta­r, reunião plenária solene por ocasião do encerramen­to do ano parlamenta­r, reunião plenária solene por ocasião da recepção do Chefe de Estado e altas entidades estrangeir­as, reunião plenária que aprecia o Orçamento Geral do Estado, a Conta Geral do Estado e para o debate periódico sobre questões de interesse nacionais.

A oposição diz também que o MPLA impede a fiscalizaç­ão dos actos do Executivo?

Não. A acção de controlo e fiscalizaç­ão da Assembleia Nacional sobre os actos do Executivo foi objecto de um acórdão do Tribunal Constituci­onal. Esse acórdão definiu determinad­as questões e, por força deste acórdão, a Assembleia Nacional aprovou um novo Regimento que alterou o Regimento que estava em vigor. Este Regimento foi publicado pela Lei 13/17, de 6 de Julho de 2017. Neste Regimento, estão previstas as acções que devem ser objecto de controlo. Estão definidos, claramente, os actos que devem ser objecto de fiscalizaç­ão. Então, vamos agir de acordo com este diploma. Do lado do MPLA, não temos nenhum receio que as coisas sejam discutidas.

O MPLA aceitaria a revisão do Regimento e do acórdão?

O Regimento da Assembleia Nacional já foi revisto e publicado, no dia 7 de Julho de 2017, em Diário República, que aprova o Regimento da Assembleia Nacional. Essa revisão foi feita justamente por causa do acórdão do Tribunal Constituci­onal. Nesse Regimento está previsto também que se façam requerimen­tos para a obtenção de informaçõe­s, que podem ser escritas ou orais. A interpelaç­ão ao Executivo não se faz por ser uma figura jurídica típica dos sistemas parlamenta­res e semi-presidenci­ais. Em Angola, o nosso sistema é presidenci­alista. Por essa razão, é que não se faz interpelaç­ão ao Executivo.

E como pensa debater isso com a oposição?

Em sede própria, teremos ocasião de discutir isso com os meus colegas da oposição. É uma questão de conceitos. Às vezes, entendemos mal os conceitos e, a partir daí, construímo­s figuras e posições que não se coadunam com o nosso modelo.

O deputado da FNLA, Lucas Ngonda, afirmou, em entrevista ao Jornal de Angola, que o MPLA deve fazer uma revolução e mudar a sua forma de trabalhar. Concorda com isso?

Desde l ogo essa posição revela uma falta de cultura democrátic­a, porque um partido não deve se imiscuir nos assuntos internos de outro partido. Por isso, a FNLA, com essa posição, revela não ter cultura democrátic­a. O MPLA adoptou o modelo de funcioname­nto que acha que é o mais adequado para o seu melhor funcioname­nto. E tem tido êxito.

É opinião, em círculos políticos, que o Presidente João Lourenço tem muita vontade de corrigir o que está mal por ser jovem, mas o MPLA não quer. Como o partido encara isso?

Desde logo, o Presidente João Lourenço é não só militante do MPLA como o seu VicePresid­ente. É a segunda figura do nosso partido. Quando se candidatou às presidenci­ais, fê- lo para cumprir o Programa do MPLA. Em relação a isso, não há qualquer contradiçã­o. O que ele vai cumprir no governo é o Programa do MPLA que foi submetido ao sufrágio dos eleitores. É isso que ele vai cumprir. Não há nada de diferente entre João Lourenço e o MPLA. João Lourenço foi candidato a Presidente pelo MPLA para defender e executar o Programa do MPLA. Provavelme­nte, a oposição gostaria que fosse executado um outro p r o g r a ma. Não e x i s t e nenhuma c ontradição interna entre o MPLA como partido e o seu Vice-Presidente, que é o Presidente da República.

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CONTREIRAS PIPA | EDIÇÕES NOVEMBRO
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DOMBELE BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO

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