Jornal de Angola

Diversific­ar a Economia com o dinheiro que precisamos

- Carlos Gomes *

Em economia não existem milagres. Podem, isso sim, surgir “milagres” económicos, desde que a criativida­de e capacidade imaginativ­a dos órgãos decisórios atendam, entre outros conceitos, o alcance do custo de oportunida­de quando nos referimos a dinheiro e à sua utilização no tempo, sabido está que sem dinheiro não poderá haver diversific­ação económica, numa altura em que tudo indica estarem saturados os caminhos outrora fáceis para obtenção de financiame­nto, entenda-se endividame­nto.

Se parece não existirem dúvidas quanto ao papel determinan­te da economia no suporte à política, também é válido o recíproco de que uma política económica assente em pressupost­os realistas e realizávei­s conduzem a resultados económicos que atendam às necessidad­es das familias, empresas e da sociedade em geral.

O desiderato da diversific­ação económica, é sem dúvida, um imperativo de sobrevivên­cia nacional, sob pena de desmoronam­ento de todos os demais objectivos traçados no programa de governação vencedor das eleições de 23 de Agosto, cuja materializ­ação deverá ocorrer até 2022, se não for em toda a sua plenitude ao menos que seja a níveis inquestion­áveis de sucesso contagiant­e respaldado não só pelos eleitores, mas também pela sociedade no seu todo.

É da criativida­de e capacidade imaginativ­a que me socorro na elaboração deste texto, pois se diversific­ar a economia é um objectivo, dinheiro é o meio incontorná­vel para a sua concretiza­ção, agora que a nossa fonte principal de receitas o petróleo, atingiu níveis baixos históricos, para não dizer compromete­dores, visando a conclusão de projectos estruturan­tes ainda em curso, mas que em abono da verdade já deveriam estar em marcha, a julgar pelo volume de recursos até agora consumidos, sem falar de outros indispensá­veis e que estão listados no programa do actual executivo, para que o cidadão sinta nos tempos próximos a melhoria substancia­l da sua qualidade de vida.

Na ausência de fonte estatístic­a segura e credível que permita aferir o volume de recursos financeiro­s que possam estar em paraísos fiscais externos, indispensá­veis à necessidad­e de diversific­ação económica de Angola, que tal e no interesse nacional, pensarmos no retorno de tais recursos para o país, com dispensa de quesitos sobre (des)caminhos utilizados para a sua expatriaçã­o?

Até que ponto essa reflexão poderia suscitar interesse de abordagem e debate pelo órgão representa­tivo do Povo, a Assembleia Nacional, culminando com a aprovação de uma “Lei de Amnistia para o Retorno de Recursos Financeiro­s”destinando ao desenvolvi­mento económico de Angola?

Não se tratando de uma obordagem nova, importa referir que o Presidente da República, João Lourenço, enquanto candidato, endereçou um convite ao retorno ao país dos avultados recursos financeiro­s existentes no exterior, pertencent­es a agentes económicos e cidadãos nacionais colocando-os à disposição do interesse nacional, sem qualquer tipo de procedimen­to criminal ou de outra natureza.

Por haver convergênc­ia sobre a existência de tais recursos financeiro­s saídos de Angola, cujos valores ascendem aos 10 biliões de dólares e sujeitos no exterior às regras do “compliance” – transparên­cia, para a prevenção ao branqueame­nto de capitais e combate ao terrorismo, antes que seja tarde, ou melhor, que sejam sujeitos a confiscos nos países em que se encontram, no interesse nacional, pertinente se torna a sua recuperaçã­o imediata, no quadro da relação custo versus benefício, e também em nome do processo de diversific­ação da nossa economia, a grande divisa da actual política de desenvolvi­mento do país.

Em economia não existem milagres. Podem, isso sim, surgir “milagres económicos”, desde que haja capacidade imaginativ­a dos órgãos decisórios

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola