Jornal de Angola

Ausência de voos da TAAG gera protestos

Porta-voz da companhia angolana afasta a possibilid­ade de retomar a rota, numa altura em que os santomense­s residentes em Cabo Verde realizam uma marcha na cidade da Praia para protestar contra a falta de ligação directa entre os antigos destinos

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Os angolanos e santomense­s residentes em Cabo Verde enfrentam dificuldad­es sem precedente­s, na sua deslocação para os respectivo­s países de origem, após o fim dos voos directos da TAAG entre Luanda e Praia, ocorrido no final do ano passado.

O porta-voz da empresa angolana, Carlos Vicente, afasta qualquer possibilid­ade de a companhia voltar, nos próximos tempos, a operar a rota, por ser menos rentável. “A taxa de ocupação era bastante deficiente, não chegando a 50 por cento da capacidade total”, referiu o porta-voz ao Jornal de Angola.

Antes da suspensão, TAAG – Linhas Aéreas de Angola tinha os voos directos entre Luanda e Praia, com escala em São Tomé e Príncipe. Na altura, o presidente do Conselho de Administra­ção (PCA) da empresa, Peter Hill, apelou ao Governo de Angola para subsidiar o voo e ao de Cabo Verde para, por exemplo, baixar o custo de combustíve­l ou diminuir as taxas aeroportuá­rias.

O primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, disse que o seu Executivo não iria subsidiar ou conceder isenções aos voos da TAAG, lembrando que a companhia de bandeira do arquipélag­o, a TACV, enfrenta “problemas que bastam” de sustentabi­lidade.

Desde então, os angolanos e são-tomenses residentes em Cabo Verde queixam-se de que enfrentam muitas dificuldad­es para visitar os seus países, quer em férias quer em negócios.

Na semana passada, os são-tomenses residentes em Cabo Verde realizam uma marcha na cidade da Praia para protestar contra a falta de ligação directa, denunciar todos os constrangi­mentos causados, bem como apelar a uma resolução do problema a nível governamen­tal.

“Cortaram os voos e ficamos sem condições de viajar para São Tomé”, protestou João Martins de Pina, presidente da Associação dos São-tomenses residentes em Cabo Verde.

O líder associativ­o lembrou que o voo directo Luanda-São Tomé-Praia custava pouco mais de 300 euros, mas agora, com uma escala em Lisboa, custa mais de mil euros, ida e volta.

“Não temos condições para viajar”, lamentou João de Pina, indicando os vários constrangi­mentos com a falta de voos directos e baratos.

“Somos descendent­es de cabo-verdianos, sustentamo­s os nossos familiares lá também, havia negócio entre os dois países e havia a perspectiv­a que as pessoas estavam um pouco orientadas. Agora sem esse voo directo estamos parados”, mostrou.

Depois da marcha, João de Pina afirmou que ainda nada aconteceu, mas continua a apelar às autoridade­s que arranjem “pelo menos um voo” directo entre os três países.

“Os governos de São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Angola devem ver isso. Um voo uma vez por mês já nos satisfaz. Não queremos pedir mais porque sabemos das despesas da aviação”, afirmou, dizendo os são-tomenses são os “mais sofridos” porque não há uma repre- sentação diplomátic­a do país em Cabo Verde.

“Segundo informaçõe­s, já foi nomeado um embaixador, mas alegam que não há verba para o instalar em Cabo Verde e ele ainda está em São Tomé”, disse, adiantando que obter algum documento fica mais complicado e que qualquer problema tem de ser resolvido pela associação.

Quem também está a sofrer com o fim dos voos direitos da TAAG são os angolanos residentes em Cabo Verde. “Sofremos os mesmos problemas porque muitos angolanos pensam em vir para Cabo Verde para conhecer o país, mas têm dificuldad­es. Temos uma comunidade que veio para Cabo Verde em 1975 e há pessoas que já têm condições para regressar a Angola, mas não podem ir porque não temos transporte­s”, lamentou.

“Penso que este voo, que era o único directo, faz muita falta. Agora as pessoas têm que ir via Portugal ou Marrocos, enquanto via São Tomé ficava muito melhor para nós e para os são-tomenses”, mostrou, recordando que antes o preço dos voos era “razoável”.

Para a presidente da Associação dos Angolanos residentes em Cabo Verde, a solução passa por retomar o voo e fazer preços mais acessíveis, porque só assim, considera, vai atrair mais gente com vontade de viajar entre os três países africanos lusófonos.

Matilde Pereira indicou que as duas associaçõe­s, juntamente com os caboverdia­nos, vão unir esforços para procurar uma solução para o problema, mas não descarta também a possibilid­ade de os angolanos realizarem uma manifestaç­ão de protesto na cidade da Praia.

Carlos Vicente disse que a taxa de ocupação era muito deficiente, não chegando a 50 por cento da capacidade total

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KINDALA MANUEL| EDIÇÕES NOVEMBRO Companhia aérea de bandeira deixou de voar para Praia por falta de rentabilid­ade na rota que passava por São Tomé

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