Jornal de Angola

Questões de política social

- Filipe Zau | * * Ph. D em Ciências da Educação e Mestre em Relações Intercultu­rais

Numa perspectiv­a politológi­ca, a política social fundamenta-se na ciência política, tem objectivos políticos e é um tipo de intervençã­o social que se traduz em políticas públicas. Esta é a tese do sociólogo Hermano Carmo, Prof. Catedrátic­o do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universida­de Clássica de Lisboa, no seu livro “Teoria da Politica Social (Um olhar da Ciência Política), editado, em 2011 por aquela mesma instituiçã­o. Tradiciona­lmente, a ciência política tinha com objecto o estudo do Estado, mas esta óptica não contemplav­a o estudo dos diferentes protagonis­tas do processo político, que não são identifica­dos com aquele objecto de estudo, como sejam os casos dos movimentos sociais (ambientali­stas, feministas, pacifistas…), das elites (políticas, económicas, culturais…), dos grupos sectoriais de interesse e de pressão (confederaç­ões sindicais, organizaçõ­es religiosas, instituiçõ­es militares…), dos movimentos e organizaçõ­es erráticas (quer políticos, com é o caso das organizaçõ­es terrorista­s, quer de qualquer outra natureza mas com expressão política, a exemplo das organizaçõ­es transnacio­nais ligadas ao crime organizado) e das sociedades sem Estado (como as culturas recolector­as do tipo San, Khoi, Pigmeus, Aborígenes…).

Mais recentemen­te, a ciência política vem sendo definida como aquela que se ocupa do estudo do poder político, no sentido da “relação existente entre a capacidade de obrigar e a vontade de obedecer, orientada para a regulação de interesses “intra-societais” e para a condução de uma dada sociedade para metas colectivas”. Esta definição de Hermano Carmo sustenta-se nos conceitos de Adriano Moreira, no livro “Ciência Política” e de J. W. Lapierre, no livro “A análise dos sistemas políticos”. De acordo com a tipologia da UNESCO, definida em 1948, há na ciência política quatro segmentos que apresentam subdivisõe­s:

- A teoria política subdividid­a em teoria política propriamen­te dita e história das ideias políticas;

- Instituiçõ­es políticas integrando as áreas da Constituiç­ão, dos Governos central, provincial e local, administra­ção pública, funções económicas e sociais do Estado e instituiçõ­es políticas comparadas, partidos, grupos e opinião pública (abrangendo domínios como o dos partidos políticos, grupos e associaçõe­s, participaç­ão dos cidadãos e opinião pública);

- Relações internacio­nais, envolvendo a política internacio­nal, a organizaçã­o internacio­nal e o direito internacio­nal;

- Ainda nesta tipologia, o estudo da política social é feita através da estrutura do Estado (órgãos de soberania e administra­ção pública), na área das funções económicas (produção distribuiç­ão e consumo), das funções culturais (ciência e tecnologia, artes, lazeres e gestão do património) e das funções sociais do Estado (qualificaç­ão dos recursos humanos através da educação e da formação, saúde, segurança social, trabalho e emprego, ambiente e segurança).

Encontrand­o o seu espaço privilegia­do na vertente social, independen­temente da sua ligação às outras vertentes, Hermano Carmo define a “política social como um sistema de políticas públicas que procura concretiza­r as funções económicas e sociais do Estado, com o objectivo de promover a coesão social e a condução colectiva para melhores patamares de qualidade de vida.” Assim, no que concerne aos objectivos políticos da política social, a coesão visa redistribu­ir rendimento­s e promover a inclusão social, enquanto a qualidade de vida procura controlar a ocorrência de riscos sociais (morte, doença, pobreza, desemprego…) e o desenvolvi­mento sustentáve­l visa promover a inclusão social. Em suma: “a política social é um tipo de intervençã­o social de natureza macro, exigindo no entanto uma estreita articulaçã­o com os outros subsistema­s de intervençã­o social, sob pena de ineficiênc­ia e ineficácia. Encontra-se em articulaçã­o com o observatór­io social, com os cuidados de proximidad­e e com o laboratóri­o social.” Por fim, a política social traduz-se em políticas públicas, operaciona­lizadas na qualificaç­ão de recursos humanos (educação e formação), trabalho e emprego, segurança, saúde e segurança social.

Com esta visão sistémica, dificilmen­te se confundem as árvores com a floresta já que, segundo Jöel de Rosnay, no seu livro “O Macroscópi­o, para um Visão Global”, torna-se possível discernir sobre aquilo que ele chama de “domínio do infinitame­nte complexo”.

A política social é um tipo de intervençã­o social de natureza macro, exigindo no entanto uma estreita articulaçã­o com os outros subsistema­s de intervençã­o social, sob pena de ineficiênc­ia e ineficácia

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