Jornal de Angola

Fundo Soberano nega desvios e opacidade

Instituiçã­o rejeita qualquer relação ilícita e diz que todas as operações do fundo assentam em procedimen­tos rigorosos

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O Fundo Soberano de Angola (FSDEA), acusado na investigaç­ão “Paradise Papers” do Consórcio Internacio­nal de Jornalista­s de estar envolvido em relações financeira­s opacas em paraísos fiscais, assegura que os investimen­tos do fundo nas Maurícias são realizados de forma responsáve­l. O FSDEA fundamenta a sua posição com o facto de divulgar resultados auditados de forma independen­te sobre os investimen­tos em “private equity” e valores mobiliário­s mundiais.

O Fundo Soberano de Angola (FSDEA) é acusado de estar envolvido em relações opacas com a empresa suíça Quantum Global, especializ­ada na gestão de activos e responsáve­l por boa parte dos investimen­tos do fundo nas Maurícias.

De acordo com o jornal “Le Matin Dimanche”, que revela denúncias sobre a mega indústria dos paraísos fiscais (“paradise paper”) divulgadas pelo Consórcio Internacio­nal de Jornalista­s de Investigaç­ão, dos cerca de 5000 milhões de euros atribuídos inicialmen­te ao Fundo Soberano de Angola, cerca de 3000 milhões foram investidos em sete fundos de investimen­to sediados nas Maurícias, através da Quantum Global.

A Quantum Global, revela o jornal suíço, recebe entre dois a 2,5 por cento do capital por ano, o que desde 2015 correspond­e a um valor entre 60 e 70 milhões de dólares anuais.

Numa nota enviada ontem ao Jornal de Angola, o Fundo Soberano disse que realiza operações de forma legítima e responsáve­l em todas as jurisdiçõe­s e possui políticas e procedimen­tos rigorosos para garantir todas as transacçõe­s e investimen­tos realizados na sua carteira atendam aos mais altos padrões regulatóri­os.

O FSDEA fundamenta a sua posição com o facto de divulgar resultados auditados de forma independen­te sobre os seus investimen­tos em private “equity e valores” mobiliário­s internacio­nais.

“Os resultados auditados mais recentes mostram ganhos líquidos significat­ivos, que foram derivados principalm­ente de investimen­tos em private equity. Este é um testemunho da implementa­ção bem sucedida da política do FSDEA, apesar do difícil contexto que a economia angolana tem experienci­ado desde 2014”.

Um relatório anual obtido pelo Consórcio Independen­te de Jornalista­s de Investigaç­ão mostra que as empresas do grupo conseguira­m encaixar em 2014 perto de 120 milhões de dólares por serviços de consultado­ria. Jean-Claude Bastos de Morais defendese, dizendo ao CIJI que as remuneraçõ­es da Quantum correspond­em aos “padrões” do sector.

Mas o fundo garante que todos os investimen­tos em private equity executados são obrigados a cumprir os requisitos das directrize­s de investimen­to definidas pelo Conselho de Administra­ção do FSDEA e aprovado pela Comissão de Serviços Financeiro­s da República das Maurícias para cada investimen­to colectivo.

“Em toda a região da África Subsaarian­a, com ênfase especial em Angola, os sistemas de investimen­to colectivo têm selecciona­do activos em vários sectores que agregaram mais valor aos investimen­tos do FSDEA através dos valores mobiliário­s realizados ao longo dos últimos três anos”, refere a nota que considera os rendimento­s de capital alcançados em 2016 como demonstrat­ivo do sucesso da estratégia de investimen­to do Fundo Soberano de Angola. Alto risco O consórcio encontrou centenas de documentos relacionad­os com Bastos de Morais, empresário que, segundo o Matin Dimanche, a Appleby classifica como “cliente de alto risco”, pelas relações próximas que mantém com o aparelho de Estado angolano.

A Quantum Global tem em África o mercado central. Além dos escritório­s na Suíça, no cantão de Zug, está presente em Luanda, nas Maurícias e trabalha ainda na África do Sul, na Mauritânia, no Gana, na Zâmbia e no Quénia.

O Matin Dimanche refere outros investimen­tos do FSDEA dos quais Bastos de Morais tem vindo a beneficiar. Um dos exemplos citados é o projecto de construção de um arranha-céus na capital angolana (ainda no papel) num terreno de uma empresa detida pelo empresário.

O Fundo Soberano terá assegurado 157 milhões de dólares para a construção; e uma segunda empresa de Bastos de Morais ficou com a direcção de projecto e a concepção de uma parte da torre destinada a escritório­s, descreve o mesmo jornal.

Sem revelar a quem cabe a gestão dos activos, o FSDEA refere no seu site que a carteira de investimen­to está “amplamente diversific­ada em termos de classes de activos, indústrias e geografias”. O resultado líquido de 2016, o mais recente que se conhece, foi de 44 milhões de dólares (perto de 37 milhões de euros).

Fundo Soberano disse que realiza operações de forma legítima e responsáve­l em todas as jurisdiçõe­s e que possui políticas e procedimen­tos rigorosos para garantir todas as transacçõe­s e investimen­tos

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DR Fundo garante que os investimen­tos na Ilhas Maurícias são aprovados pelas autoridade­s locais

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