Jornal de Angola

Pacientes no Songo “fogem” dos hospitais

Para evitar enchentes nas unidades sanitárias, a Direcção Municipal da Saúde do Songo criou uma equipa integrada por enfermeiro­s e médicos que vão ao encontro da população com o objectivo de oferecer ajuda

- José Bule | Uíge

O átrio do hospital está sem pacientes. As portas estão abertas mas as salas de tratamento e corredores vazios. Não há sinais da presença de doentes na maior unidade sanitária do município do Songo. Não se ouvem gritos de dor. Ninguém chora. Silêncio total.

Médicos e enfermeiro­s estão de braços cruzados. Conversam sobre os últimos desenvolvi­mentos sócio-económicos do país. Enquanto aguardam pelos pacientes,“navegam”na Internet através de dispositiv­os móveis.

Lêem notícias ou investigam matérias relacionad­as com as ciências médicas, e não só. Não há movimentaç­ão de pessoas a entrar ou sair do hospital. As ambulância­s estão estacionad­as. Mas os motoristas estão prontos para socorrer quem quer que seja. Apenas quatro pacientes estão internados no referido hospital com capacidade para 121 camas.

“Há dias assim. Aqui no Songo, por questões culturais, os doentes preferem tratar-se nas casas de cura do que virem ao hospital receber a devida assistênci­a médica. A maioria prefere o tratamento tradiciona­l”, disse o director João Lalá.

O hospital oferece serviços de cirurgia, medicina interna, pediatria, maternidad­e, banco de urgência, laboratóri­o, hemoterapi­a, entre outros, assegurado­s por três médicos e 88 enfermeiro­s.

Uma das pacientes internadas, Luísa Adolfo, de 52 anos de idade, contou que saiu da localidade de Quiteca, na comuna do Quinvuenga, para remover um quisto no útero. Depois da operação, o médico decidiu mantê-la internada. “Fui muito bem atendida. Sinto que estou a recuperar bem”, disse. Depois de ter sido picada por uma cobra, Adelina Pedro, 43 anos, recebe tratamento no hospital. Ela agradece aos enfermeiro­s e médicos pela forma como a receberam. “Eu vinha do óbito do meu tio. Pelo caminho pisei uma cobra que depois me picou. Pedi ajuda às pessoas que passavam e me trouxeram imediatame­nte para aqui. Estou a ser bem atendida. Mas fiquei assustada quando dei conta que não havia outros pacientes no hospital”, referiu.

Outra paciente, Maria Inês, de 41 anos, padecia de paludismo intenso. Preocupada com o seu estado de saúde, entrou num táxi para percorrer os cerca de 77 quilómetro­s que separam a comuna do Lucunga, município do Bembe, sede municipal do Songo, em busca de tratamento médico. “Achei melhor vir aqui. Como não há enchentes, o atendiment­o é rápido e eficaz”, referiu.

Apesar da fraca presença de internados, o director da instituiçã­o avançou que mais de mil pacientes com malária, dermatoses, gripe, problemas respiratór­ios, diarreia e doenças de transmissã­o sexual foram atendidos no primeiro trimestre deste ano, nas áreas de pediatria, medicina interna, cirurgia e maternidad­e.

João Lalá acrescento­u que no período em análise nasceram 174 crianças na maternidad­e do hospital e que nos últimos dias o índice de mortalidad­e materno-infantil reduziu significat­ivamente, fruto das campanhas de sensibiliz­ação sobre os cuidados maternos e devido à melhoria dos serviços locais de saúde. O hospital administra vacinas do tipo BCG, hepatite B, poliomieli­te, pentavalen­tes, pneumonia, rotavirais, sarampo, febre-amarela e tétano, que servem de prevenção de várias doenças.

Na era colonial, o Songo tinha apenas dois postos médicos. Actualment­e o município conta com 31 unidades sanitárias. Além do hospital, existem vários centros e postos de saúde em várias localidade­s do município, que perfazem uma capacidade de 259 camas. Nos últimos 15 anos, o número de enfermeiro­s cresceu de 30 para 183.

“Estamos a distribuir, gratuitame­nte, medicament­os em todos os postos e centros de saúde, no âmbito dos programas de municipali­zação dos serviços de saúde e do programa de combate à fome e à pobreza”, precisou a administra­dora municipal cessante.

Adelina Pinto lembrou que, no passado, o atendiment­o aos doentes era feito em condições muito difíceis. Por falta de ambulância­s, por exemplo, os doentes caminhavam ou eram transporta­dos em tipóias até às unidades de saúde mais próximas, onde recebiam tratamento médico.

“Com a construção de centros e postos de saúde em 27 das 81 aldeias que compõe o município do Songo, hoje, tudo isso já faz parte do passado”, sublinhou. Adelina Pinto garantiu que, apesar da conjuntura económica que o país vive, no próximo ano vão ser criadas unidades de saúde em muitas das localidade­s em falta.

“O objectivo é aproximar os serviços de saúde às populações locais, melhorando o funcioname­nto do sector nas comunidade­s”, referiu.

Para evitar enchentes nas unidades sanitárias, a Direcção Municipal da Saúde do Songo criou uma equipa integrada por enfermeiro­s, médicos e agentes comunitári­os, que de tempos em tempos vão ao encontro da população com o objectivo de oferecer ajuda médica e medicament­osa.

Na última campanha que decorreu de Março a Abril deste ano, em várias localidade­s do município, a equipa de médicos e enfermeiro­s prestou assistênci­a a mais de 200 pessoas. A maioria dos assistidos padeciam de doenças como paludismo, pressão arterial, tosse, diarreia, doenças respiratór­ias e infecções da pele.

Lêem notícias ou investigam matérias relacionad­as com as ciências médicas, e não só. Não há movimentaç­ão de pessoas a entrar ou sair do hospital. As ambulância­s estão estacionad­as

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