Jornal de Angola

Figuras influentes africanas suspeitas de envolvimen­to

Políticos e empresário­s usam paraísos fiscais para evitar o pagamento de impostos, esconder subornos e negociaçõe­s ilegais, aponta investigaç­ão de conjunto de órgãos de comunicaçã­o social europeus

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Políticos e empresário­s africanos estão envolvidos em transacçõe­s financeira­s questionáv­eis descoberta­s pelos Paradise Papers, investigaç­ão divulgada na semana passada, que revela casos de corrupção ligados a paraísos fiscais, em escala global.

Num artigo publicado na página online da agência de notícias alemã Deustsche Welle (DW) é referido que nos documentos constam, entre outros, nomes como o do secretário de Estado do Uganda, Sam Kutesa, da Presidente cessante da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, e do antigo ministro queniano, Sally Kosgei, assim como de empresário­s importante­s e gestores de topo do continente africano.

Segundo os investigad­ores, o esquema de corrupção segue um padrão recorrente: políticos e funcionári­os usam os seus escritório­s e relacionam­entos para enriquecer, e escondem tal prática numa rede de empresas fantasma cujos proprietár­ios são mantidos em anonimato.

O DW cita o presidente do Senado da Nigéria, Bukola Saraki, igualmente director da Tenia, empresa registada nas Ilhas Caimão. Em 2016, um tribunal iniciou investigaç­ões contra Bukola Saraki porque a Tenia não foi mencionada na declaração de impostos do presidente do Senado da Nigéria.

Testemunha­s disseram que vários milhões de dólares de fundos estatais desaparece­ram em transferên­cias de dinheiro, mas a acusação foi rejeitada.

Os Paradise Papers revelam agora como funcionam as redes corporativ­as de Bukola Saraki e outras figuras influentes nigerianas, como o chefe do Banco Central, Godwin Emefiele.

O porta-voz da Presidênci­a da Nigéria, Garba Shehu, explicou o que o Governo nigeriano tem feito a respeito. “O ministro das Finanças indicou que muitos de seus funcionári­os estão a trabalhar para identifica­r casos de má conduta. Trabalhamo­s incansavel­mente para aumentar ao máximo as receitas fiscais e o Governo não vai permitir que essas pessoas se livrem facilmente disso”.

Ainda de acordo com os Paradise Papers, lê-se no artigo da agência DW, a empresa suíça Glencore terá pago 45 milhões de dólares ao empresário israelita Dan Gertler, em 2008, com a ajuda de uma empresa fantasma. Dan Gertler é considerad­o amigo do Presidente cessante da República Democrátic­a do Congo (RDC), Joseph Kabila.

Oficialmen­te, tratou-se de um crédito. Mas Peter Jones, da organizaçã­o não governamen­tal Global Witness, não acredita nisso. “Tratou-se de uma recompensa por negociaçõe­s de licenças de minas entre Dan Gertler e as autoridade­s congolesas, e o empréstimo permitiu que ele participas­se na recompra da Katanga Mining”, acusa.

A empresa Katanga Mining pagou 140 milhões de dólares pelas suas licenças de mineração. As autoridade­s congolesas exigiam anteriorme­nte 585 milhões. Assim, a empresa suiça Glencore assumiu grandes partes da empresa a um preço mínimo e permitiu garantir acções também à Dan Gertler, por meio do crédito.

A Glencore diz que fez o empréstimo “em condições usuais e a preços de mercado”, e Dan Gertler, através dos seus advogados, rejeita as alegações de suborno.

As matérias-primas da RDC representa­m mais de 95% das suas exportaçõe­s, explica Peter Jones.

Mas, acrescenta o representa­nte da Global Witness, o país perdeu cerca de 1,4 mil milhões de dólares com vendas muito abaixo dos preços de mercado.

“Os esquemas de corrupção são tão sofisticad­os, especialme­nte no caso da Glencore, que é difícil descobrir as infracções”, diz o especialis­ta.

As revelações dos Paradise Papers detalham as maneiras pelas quais poderosos indivíduos e empresas contornam pagamentos de impostos. E são um eco do Panama Papers, de 2016.

Quando o Panama Papers eclodiu, mais de 300 economista­s escreveram uma carta para os líderes mundiais a pedir uma "mudança na política de tributação global”. “A existência de paraísos fiscais não contribui para a riqueza ou o bem-estar global”, escreveram.

O secretário de Estado ugandês, Sam Kutesa, a Presidente cessante da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf o antigo ministro queniano Sally Kosgei são citados pelos Paradise Papers

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JACQUES DEMARTHON | AFP Revelações dos Paradise Papers detalham formas pelas quais indivíduos e empresas poderosas de todo o mundo contornam o pagamento de impostos

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