Oposição denuncia “faltas” na votaçao
Políticos rejeitaram os primeiros números anunciados por Clemente Onguene, porta-voz da Junta Eleitoral
na Guiné Equatorial não reconhecem os resultados das eleições legislativas de domingo, devido às graves irregularidades registadas.
Tanto Andrés Esono, um dos dois líderes da coligação Juntos Podemos, como Gabriel Nsé Obiang Obono, do Cidadãos pela Inovação (CI), rejeitaram os primeiros números anunciados por Clemente Engonga Nguema Onguene, porta-voz da Junta Eleitoral Nacional (JEN), que diz que o Governo venceu com 98,11 por cento dos votos, com 26 do total de votos apurados.
“Para nós, não houve eleições. Os resultados não são válidos. Recorreremos e no recurso vamos pedir a anulação das eleições e sua repetição”, disse o político Esono.
De modo similar se manifestou Nsé Obiang Obono, que opinou que se fosse feita uma votação em condições de igualdade, sem intimidação armada, o PDGE não ganharia da oposição.
“Se houvsse uma verificação real e deixarmos de fazer como a Coreia do Norte, o PDGE não podeia ganhar. Ganha porque há militares nas mesas eleitorais, intimidam os fiscais, fazem votação às 5 da manhã. Pedimos à comunidade internacional que se envolva”, explicou à EFE, em conversa por telefone.
Os resultados do apuramento geral serão divulgados na sexta-feira e, no dia 20 deste mês, será feita a proclamação dos resultados definitivos e candidatos eleitos, segundo anunciou a JEN.
Se for mantida no apuramento a proporção anunciada no domingo, o PDGE do Presidente Teodoro Obiang Nguema Mbasogo (no poder desde 1979) revalidaria a vitória arrasadora das últimas eleições e que lhe permitiu ficar com 99 das 100 cadeiras na Câmara de Representantes do Povo e 74 das 75 na Câmara Alta (Senado).
Além das legislativas, também foram realizadas eleições municipais em todo o país. O Presidente da Guiné Equatorial apresentou-se como um líder democrático, instantes após ter votado nas eleições legislativas e autárquicas, e pediu a punição da violência praticada alegadamente pelos opositores do partido Cidadãos para a Democracia (CI).
“O Presidente tem demonstrado ser um democrata que defende a democracia”, disse Teodoro Obiang aos jornalistas no antigo edifício das Relações Exteriores onde votou, falando de si próprio na terceira pessoa: “É um Presidente que está no poder não pela violência, mas pela vontade popular”.
Na campanha eleitoral verificaram-se confrontos na localidade de Aconibe entre a polícia e apoiantes do CI, uma situação que Obiang quer ver esclarecida com as instituições judiciais, como disse aos jornalistas logo após ter votado.
“Não é o Presidente que tem de decidir sobre o que há que fazer com as pessoas que não praticam a nossa teoria, mas sim as instituições do Estado: o defensor do povo e o procurador-geral da República, que devem penalizar as pessoas que criam instabilidade no país”, disse o Chefe de Estado, acompanhado da primeira dama, Constança Obiang Mangue.
O casal presidencial foi recebido pelo presidente da Junta Eleitoral do país e teve direito a um tapete de boas vindas com dois cadeirões no átrio do edifício do ministério. Todos os observadores internacionais na ilha de Bioko, onde se localiza a capital, foram chamados para acompanhar a votação de Obiang e da primeira dama das suas quatro mulheres oficiais.
O também líder do Partido Democrático da Guiné Equatorial (PDGE, com uma maioria avassaladora de 99 eleitos em 100 lugares no parlamento) explicou que a sua formação está “a cultivar a teoria do ensaio democrático, que consiste em desenvolver a cultura democrática de paz, harmonia e solidariedade entre todos os guineenses”.
“Esperamos que todos os cidadãos aprendam essa teoria, mas estamos a dar conta que alguns cidadãos não estão a seguir esta teoria e cultivam a violência”, que é igual àquela que acabámos no regime de triste memória”, disse Obiang, numa referência ao seu antecessor directo e tio Francisco Macías, derrubado em 1979.
“Estamos a verificar agressões às forças armadas. Não é nosso desejo que a Guiné Equatorial volte a conhecer os tempos duros do passado, pelo que espero que as instituições decidam sobre o que fazer com essas pessoas que têm protagonizado a violência”, disse.