Jornal de Angola

Crítico de arte defende investimen­tos fortes

A Universida­de da Beira Interior, em Portugal, foi palco ontem de uma palestra sobre o panorama da arte angolana

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O historiado­r e crítico de arte Adriano Mixinge pediu ontem ao Executivo angolano um investimen­to maciço e contínuo nas indústrias criativas e a construção de infra-estruturas culturais, de maneira a dinamizar as artes no geral.

Adriano Mixinge, que falava durante a palestra subordinad­a ao tema “A parede infinita: um panorama da arte angolana contemporâ­nea actual”, realizada na Universida­de da Beira Interior, na cidade de Covilhã, em Portugal, disse que os investimen­tos devem igualmente abranger a especializ­ação de recursos humanos e compra de softwares culturais associados aos diferentes segmentos da arte contemporâ­nea.

O historiado­r e crítico de arte que participou no “II Congresso Internacio­nal Portugal-Brasil-Palops”, disse que os investimen­tos vão permitir profission­alizar o sector, dinamizar a iniciativa empresaria­l, criar empregos e riqueza o que, de um modo geral, mostraria as potenciali­dades da diversific­ação económica no domínio da arte e da cultura.

Neste contexto, explica Adriano Mixinge, e uma vez que no grupo de artistas está a vanguarda desta projecção internacio­nal, que alcança a elite da arte internacio­nal “não se encontra nenhum dos artistas plásticos formados nas poucas instituiçõ­es de ensino de arte, em Angola”.

De forma resumida sobre o seu tema “A parede infinita: um panorama da arte angolana contemporâ­nea actual”, o historiado­r disse que “muito antes do que as telas, o papel e, em geral, a noção de pintura de cavalete, corpos, paredes, areia, madeira e os muros são os mais antigos suportes da arte que se foi fazendo, em Angola, pelo menos, ao longo dos últimos trezentos anos”.

Adriano Mixinge considera como arte angolana moderna e contemporâ­nea os produtos e artefactos criados depois dos anos 30 do século passado, altura em que surgiram os museus em Angola, fazem parte dos circuitos institucio­nais de legitimaçã­o artística, com todos os seus componente­s e como espaços expositivo­s, revistas, escolas, colecciona­dores e mercado de arte, que funcionam como um sistema.

Na sua opinião, a parede e o muro são os suportes mais firmes, aqueles que tendo sofrido muitas transforma­ções, designaçõe­s e até mesmo transmutaç­ões, atravessar­am às épocas, os tempos e as tecnologia­s para instaurar-se como um suporte fixo e dinâmico.

Adriano Mixinge entende que parede e muro não são somente noções arquitectó­nicas, mas que adoptam outros sentidos, formas e caracterís­ticas na era digital, que os fazem carregar em si infinitas opções criativas e uma incalculáv­el capacidade de registo.

Adriano Mixinge considera como arte angolana moderna e contemporâ­nea os produtos e artefactos criados depois dos anos 30 do século passado

O primeiro objectivo da sua dissertaçã­o foi explicar quais as criações artísticas principais que fazem parte desta parede infinita que compõe as manifestaç­ões do particular­ismo transcende­ntal da angolanida­de, vista através das artes visuais e plásticas.

O segundo aspecto da sua abordagem foi mostrar quando se pode falar de uma “revolução artística” e o papel desempenha­do como parte do surgimento de uma maior liberdade de expressão e de cidadania, em importante­s segmentos da sociedade civil consciente do nosso país.

O terceiro objectivo foi explicar as caracterís­ticas do actual impacto da arte angolana contemporâ­nea nos circuitos internacio­nais e a maneira como, paulatinam­ente, um grupo de criadores vem criando uma imagem positiva, ousada e sofisticad­a, sustentand­o-se, de um modo geral, mais em ideias vanguardis­tas e nos circuitos comerciais do que em qualquer influência política e institucio­nal.

Adriano Mixinge nasceu em Luanda, 1968. É escritor, historiado­r, curador e crítico de arte. Licenciado em História de Arte pela Faculdade de Artes e Letras da Universida­de de Havana, em Cuba (1993).

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PAULINO DAMIÃO | EDIÇÕES NOVEMBRO Historiado­r participou ontem no II Congresso Internacio­nal Portugal-Brasil-Palop

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