Jornal de Angola

Militares têm o controlo da situação no Zimbabwe

Voo da TAAG que deveria efectuar ontem a ligação entre Luanda e Harare foi cancelado por razões de segurança

- Victor Carvalho

A situação do Zimbabwe está hoje mais clarificad­a depois de na noite de ontem os militares terem reforçado as suas posições em toda a cidade de Harare, com especial incidência para as ruas que dão acesso à residência oficial do Presidente Mugabe e de ter detido alguns dos seus principais ministros. A comunidade angolana está bem e foi aconselhad­a a permanecer em casa, enquanto a SADC vai enviar emissários especiais a Harare e a Luanda depois de Jacob Zuma ter falado ao telefone com Mugabe. A TAAG cancelou o voo de ontem para Harare.

A comunidade angolana residente em Harare está a acompanhar com tranquilid­ade o evoluir da situação no Zimbabwe, não havendo até ao momento informação de qualquer anormalida­de com qualquer dos seus membros.

Contactado­s desde Luanda pelo Jornal de Angola, vários membros da comunidade disseram que estão a acompanhar a situação através da rádio e da televisão, uma vez que foram aconselhad­os pelos serviços da embaixada a permanecer­em nas suas residência­s, evitando a sair às ruas.

Em Mutare, a cerca de 3 horas de carro de Harare, a situação foi diferente uma vez que a sua esmagadora maioria são estudantes que vivem em regime de internato na African University, mantendo por isso a sua rotina normal de vida.

Os serviços da embaixada, localizada na baixa da cidade, estiveram ontem encerrados durante todo o dia, facto que se compreende pelo facto de ter sido essa a zona mais preenchida pela presença de militares já que é lá que se localizam os ministério­s, a Assembleia nacional e a sede do partido do Governo.

O voo da companhia angolana TAAG que deveria efectuar ontem a ligação entre Luanda e Harare foi cancelado por razões de segurança embora o aeroporto não estivesse oficialmen­te encerrado mas apenas cercado por militares que revistavam todos os carros que de lá entravam e saiam.

As ruas de Harare foram durante todo o dia patrulhada­s por militares enquanto as forças policiais ficaram nas esquadras. Os poucos policiais que ousaram sair á rua acabaram por ser detidos. Há informaçõe­s a darem conta de que os militares estão a identifica­r todos os transeunte­s, pedindo-lhes os telemóveis para ver se estavam lá registadas imagens sobre a presença de tanques nas ruas.

Situação clarificad­a

A situação política do Zimbabwe está hoje mais clarificad­a depois de na noite de ontem os militares terem reforçado as suas posições em toda a cidade de Harare, com especial incidência nas ruas que dão acesso à residência oficial do Presidente Robert Mugabe e de ter detido alguns dos principais ministros.

Os mesmos militares, obedecendo às ordens do general Constantin­o Chiwenga, detiveram nas respectiva­s residência­s o ministro das Finanças, Ignatius Chombo e do Governo Local, Savious Kasekewre, ambos bastante próximos de Robert Mugabe e seus fiéis seguidores ao longo de pelo menos a última década. A detenção de Chombo foi particular­mente dramática visto ter havido troca de tiros que provocaram a morte a dois dos seus guarda-costas.

Kasekwere, na altura ministro da Indigeniza­ção, foi o homem de mão de Mugabe na estratégia de retirar aos fazendeiro­s brancos do Zimbabwe as propriedad­es para depois as entregar aos antigos combatente­s, uma manobra que viria a causar profundos estragos na produção agrícola, obrigando o Zimbabwe a importar aquilo que antes produzia com abundância. Chombo tem sido alvo de várias acusações de corrupção. Já de manhã, o major general Sibusiso Moyo apareceu na televisão para dizer que não estava em curso nenhuma tentativa de golpe de Estado, mas uma “forçada transição pacífica do poder”.

Classe política zimbabwean­a está dividida em relação aquilo que se está a passar e num comunicado, a ZANUPF, partido de Robert Mugabe, condena a iniciativa dos militares e defende que devem ser os civis a decidir aquilo que é melhor para o futuro do país

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AFP Militares zimbabwean­os reforçaram as suas posições nas ruas que dão acesso à residência de Mugabe
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EDUARDO PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO Situação política no Zimbabwe está hoje mais clarificad­a, depois de alguma tensão

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