Militares têm o controlo da situação no Zimbabwe
Voo da TAAG que deveria efectuar ontem a ligação entre Luanda e Harare foi cancelado por razões de segurança
A situação do Zimbabwe está hoje mais clarificada depois de na noite de ontem os militares terem reforçado as suas posições em toda a cidade de Harare, com especial incidência para as ruas que dão acesso à residência oficial do Presidente Mugabe e de ter detido alguns dos seus principais ministros. A comunidade angolana está bem e foi aconselhada a permanecer em casa, enquanto a SADC vai enviar emissários especiais a Harare e a Luanda depois de Jacob Zuma ter falado ao telefone com Mugabe. A TAAG cancelou o voo de ontem para Harare.
A comunidade angolana residente em Harare está a acompanhar com tranquilidade o evoluir da situação no Zimbabwe, não havendo até ao momento informação de qualquer anormalidade com qualquer dos seus membros.
Contactados desde Luanda pelo Jornal de Angola, vários membros da comunidade disseram que estão a acompanhar a situação através da rádio e da televisão, uma vez que foram aconselhados pelos serviços da embaixada a permanecerem nas suas residências, evitando a sair às ruas.
Em Mutare, a cerca de 3 horas de carro de Harare, a situação foi diferente uma vez que a sua esmagadora maioria são estudantes que vivem em regime de internato na African University, mantendo por isso a sua rotina normal de vida.
Os serviços da embaixada, localizada na baixa da cidade, estiveram ontem encerrados durante todo o dia, facto que se compreende pelo facto de ter sido essa a zona mais preenchida pela presença de militares já que é lá que se localizam os ministérios, a Assembleia nacional e a sede do partido do Governo.
O voo da companhia angolana TAAG que deveria efectuar ontem a ligação entre Luanda e Harare foi cancelado por razões de segurança embora o aeroporto não estivesse oficialmente encerrado mas apenas cercado por militares que revistavam todos os carros que de lá entravam e saiam.
As ruas de Harare foram durante todo o dia patrulhadas por militares enquanto as forças policiais ficaram nas esquadras. Os poucos policiais que ousaram sair á rua acabaram por ser detidos. Há informações a darem conta de que os militares estão a identificar todos os transeuntes, pedindo-lhes os telemóveis para ver se estavam lá registadas imagens sobre a presença de tanques nas ruas.
Situação clarificada
A situação política do Zimbabwe está hoje mais clarificada depois de na noite de ontem os militares terem reforçado as suas posições em toda a cidade de Harare, com especial incidência nas ruas que dão acesso à residência oficial do Presidente Robert Mugabe e de ter detido alguns dos principais ministros.
Os mesmos militares, obedecendo às ordens do general Constantino Chiwenga, detiveram nas respectivas residências o ministro das Finanças, Ignatius Chombo e do Governo Local, Savious Kasekewre, ambos bastante próximos de Robert Mugabe e seus fiéis seguidores ao longo de pelo menos a última década. A detenção de Chombo foi particularmente dramática visto ter havido troca de tiros que provocaram a morte a dois dos seus guarda-costas.
Kasekwere, na altura ministro da Indigenização, foi o homem de mão de Mugabe na estratégia de retirar aos fazendeiros brancos do Zimbabwe as propriedades para depois as entregar aos antigos combatentes, uma manobra que viria a causar profundos estragos na produção agrícola, obrigando o Zimbabwe a importar aquilo que antes produzia com abundância. Chombo tem sido alvo de várias acusações de corrupção. Já de manhã, o major general Sibusiso Moyo apareceu na televisão para dizer que não estava em curso nenhuma tentativa de golpe de Estado, mas uma “forçada transição pacífica do poder”.
Classe política zimbabweana está dividida em relação aquilo que se está a passar e num comunicado, a ZANUPF, partido de Robert Mugabe, condena a iniciativa dos militares e defende que devem ser os civis a decidir aquilo que é melhor para o futuro do país