SIC é chamada a explicar como imagens foram parar nas redes sociais
Um apelo foi lançado para quem tenha fotos que mostram como foram encontrados os corpos de Beatriz e Jomance não as compartilharem e apagarem-nas do telemóvel
O Serviço de Investigação Criminal (SIC) devia tornar pública uma explicação sobre como foram vazadas para as redes sociais imagens fotográficas que mostram como foram encontrados os corpos da jornalista Beatriz Fernandes e de Jomance Muxito, assassinados, em Luanda, na última semana de Outubro, depois de terem sido raptados na Via Expressa.
O preâmbulo deste texto pode sintetizar a opinião de centenas de internautas que ficaram chocados quando visualizaram as fotografias que dão claramente uma ideia de como Beatriz Fernandes e Jomance Muxito foram barbaramente assassinados, provavelmente num terreno baldio, como mostram as horripilantes imagens que vazaram, e ainda não se sabe como, para as redes sociais, sendo mais uma prova de que a banalização da morte e do sofrimento alheio propaga-se profusamente nas redes sociais, um fenómeno mundial.
As imagens horríveis e que ferem a sensibilidade humana adensam ainda mais a discussão sobre o verdadeiro móbil do duplo homicídio, com algumas pessoas a insistirem na necessidade de o Serviço de Investigação Criminal não ignorar nenhuma linha de investigação, embora, na voz do directoradjunto do SIC Luanda, superintendente Jorge Pederneira, tenha informado, há uma semana, que o móbil do crime foi o roubo da viatura que transportava as vítimas.
“O móbil do crime é o roubo da viatura para comercialização”, declarou o investigador Jorge Pederneira, que assegurou estarem os cinco indivíduos já detidos envolvidos em três momentos do crime: morte de Beatriz Fernandes e do seu acompanhante, roubo da viatura e tentativa de comercialização do veículo.
"Não podemos fornecer outros dados sobre o caso, porque a investigação continua, visando a detenção de mais elementos envolvidos no crime”, acentuou o director-adjunto do Serviço Provincial de Luanda de Investigação Criminal, que, numa conversa com jornalistas, revelou que alguns dos cinco elementos foram detidos quando tentavam vender a viatura para repartirem o dinheiro.
Segredo de justiça
As imagens, cuja propagação está a ser travada por pessoas sensatas, que apelam para quem as tiver que as apaguem do telemóvel ou de um outro dispositivo electrónico, vêm lançar ainda mais dúvidas sobre a informação já avançada pelo SIC, apesar de ser consensual o reconhecimento do profissionalismo da polícia judiciária angolana, que já deslindou crimes que, pela sua complexidade, poderiam morrer sem culpados.
“Quem receber tais fotos não deve ajudar a distribuílas. Ou melhor, devem ser apagadas. A Beatriz e o jovem merecem respeito e devemos sempre nos lembrar do sofrimento das suas respectivas famílias”, lê-se numa das mensagens que apelam para o boicote que deve merecer a publicação das imagens nas redes sociais.
A curiosidade das pessoas, relativamente ao vazamento das imagens fotográficas para as redes sociais, é saber o ambiente reinante no Serviço de Investigação Criminal depois do vazamento das imagens, cuja autoria deve ser urgentemente apurada. Procurado pelo Jornal de Angola, um advogado, que falou sob anonimato, assegurou que o Serviço de Investigação Criminal tem um laboratório à altura e com pessoas formadas na Rússia e em Israel para detectar crimes informáticos e determinar a partir de que data e dispositivo electrónico foram divulgadas as imagens.
“O vazamento das imagens é grave porque viola o segredo de justiça", afirmou o advogado, que disse não compreender como é que, na fase de investigação e instrução preparatória, um elemento de prova tenha sido vazado como vazou. O advogado falou nesses termos na perspectiva de as imagens terem sido vazadas efectivamente a partir do Serviço de Investigação Criminal.
Na opinião do advogado, os investigadores que estão com o processo devem ser alvo de um inquérito para encontrar o autor dessa violação do segredo de justiça. A PGR, acrescenta o causídico, pode também reforçar a necessidade desse inquérito.
"Como é uma violação do direito de imagem, havendo provas de que algum agente vazou as imagens, os familiares das duas vítimas podem agir judicialmente contra o Serviço de Investigação Criminal", acentuou o advogado, para quem o vazamento das imagens coloca ainda mais a necessidade de as vítimas de crimes informáticos apresentarem sempre queixa por já existir em Angola uma legislação afim.
A uma pergunta sobre se não tendo sido as imagens vazadas feitas pelo Serviço de Investigação Criminal, quando chegou ao local onde os corpos foram encontrados, mas hipoteticamente pelos autores do duplo homicídio para assegurarem a um eventual mandante que a execução se consumou, o advogado respondeu que, a ser verdade, o Serviço de Investigação Criminal tem de descobrir as motivações que levaram à produção das imagens, assim como a sua divulgação nas redes sociais.
O Jornal de Angola tentou ontem, mas sem sucesso, falar com uma fonte oficial do Serviço de Investigação Criminal, a quem seria perguntado se o órgão operativo do Ministério do Interior tem efectivamente condições tecnológicas para chegar ao autor do vazamento das imagens que mostram como foram encontrados os corpos de Beatriz Fernandes e de Jomance Muxito. Além disso, o Jornal de
Angola pretendia saber se o SIC abriu internamente um inquérito e se mais três indivíduos, presumivelmente implicados no duplo homicídio, estariam a ser procurados em todo o país.
O vazamento das imagens é grave porque viola o segredo de justiça, afirmou um advogado, abordado ontem pelo Jornal de Angola