Robert Mugabe pode renunciar ao cargo
Movimentações militares deixam clima de tensão em Harare, mas o Exército, que segundo fontes tem o Chefe de Estado sob custódia, nega golpe de Estado e afirma que este está em segurança
O Presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe, deve renunciar hoje ao cargo que exerce desde 1980, após garantir a saída, do país, da primeiradama, Grace Mugabe, numa altura em que uma intervenção militar alimenta rumores sobre um golpe de Estado.
O canal televisivo sulafricano News24 noticiou ontem que hoje à tarde é anunciada a renúncia de Robert Mugabe e que o Exército mantém a família presidencial e a sua guarda sob custódia, depois de soldados do Exército bloquearem o acesso a edifícios do governo na capital do país, Harare, como o Mwenemutapa, que abriga o escritório do Chefe de Estado, o Parlamento e o Supremo Tribunal.
Ontem, informações apontavam para uma forte presença militar na estrada que leva à residência rural de Mugabe, no distrito de Zvimba.
Três explosões fortes foram ouvidas na noite de terça-feira em Harare, antes de os militares tomarem as ruas e prenderem ministros.
O jornal zimbabweano “NewsDay” noticiou que, após incursões militares nas suas residências, os soldados detiveram os ministros das Finanças, Ignatius Chombo, da Educação Superior, Jonathan Moyo, e do Governo Local, Obras Públicas e Habitação e comissário político a nível nacional da União Nacional Africana do Zimbabwe - Frente Patriótica (ZANU-PF), Saviour Kasukuwere. O trio faz parte do chamado “grupo G40”, facção da ZANU-PF que, segundo especialistas, procura afastar os veteranos da guerra da independência como o Vice-Presidente Emmerson Mnangagwa, destituído na semana passada - e abrir caminho para a primeira-dama, Grace Mugabe, assumir o poder. No “NewsDay” lê-se que Jonathan Moyo é o cérebro do grupo, um dos muitos em que se dividiu a ZANU-PF para organizar a sucessão do Presidente Robert Mugabe, de 93 anos.
De acordo com a fonte, o presidente da juventude da ZANU-PF e o número dois dos serviços de inteligência foram detidos. Outras informações dão conta de que o director da Polícia também pode ter sido preso pelos militares. Na noite de terçafeira, o Exército negou que esteja em curso um golpe de Estado, mas prometeu combater o que chamou de “criminosos” próximos de Robert Mugabe.
Em comunicado lido à nação na TV estatal, o portavoz militar disse que não se trata de “uma tomada militar do Governo”. O que os militares querem “é pacificar uma situação degenerada que, se não for tomada uma providência, pode resultar num conflito violento". "Assim que cumprirmos a nossa missão, esperamos que a situação volte ao normal”, afirmou.
O porta-voz pediu que todos os “veteranos de guerra” da luta de libertação do Zimbabwe assegurem a paz, a estabilidade e a unidade. E pediu que as forças de segurança cooperem para o bem do país.
“O Presidente e a sua família estão em segurança”, garantiu. Mais cedo, a ZANUPF acusou num comunicado o chefe das Forças Armadas de “conduta de traição” por ter dirigido ao partido que Governa, na segunda-feira, um aviso sem precedentes, na primeira divergência pública entre Robert Mugabe e os militares.
Apelos à não violência
Jacob Zuma, o Presidente da África do Sul, manifestouse contra qualquer mudança de regime “inconstitucional” no Zimbabwe. Em comunicado, Jacob Zuma diz estar “muito preocupado” com a situação e manifesta esperança de que os desenvolvimentos no Zimbabwe “não levem a uma alteração inconstitucional do Governo”.
A ZANU-PF anunciou no Twitter que “o Zimbabwe é pacífico e não há instabilidade. A Constituição não foi violada e continua a existir uma democracia”.
Em entrevista à agência DW África, Tendai Biti, antigo ministro das Finanças e líder do MDC, principal partido da oposição do Zimbabwe, condena a acção militar em curso no país, mas admite ser tempo de Robert Mugabe deixar o poder. “Condenamos a retirada ilegal do Presidente, mas é preciso reconhecer duas coisas. Uma é que não houve violência, e acho que o Exército planeou esta acção cuidadosamente. Outra questão é que há uma crise política centrada no Presidente e na sua sucessão. Existe o grave risco de uma dinastia Mugabe se a sua esposa assumir o poder.”
O secretário-geral do MDC afirmou que “o Exército está em processo de tomar o comando”. Em entrevista pelo telefone a partir do Zimbabwe com o canal sul-africano ANN7, Douglas Mwonzora afirmou: “Esta é a definição padrão de um golpe de Estado. Se isto não é um golpe, o que será?”, questionou, antes de acrescentar que a ZANU-PF “está em fase de negação, mas já não tem o controlo”.
Líderes do maior partido da oposição zimbabweana condenam recurso ao Golpe de Estado pelas Forças Armadas ao mesmo tempo que afirmam que a situação no país estava insustentável