Jornal de Angola

População trava requalific­ação

Administra­ção Municipal do Lubango admite que houve falhas no processo de adjudicaçã­o das obras por não obedecer a concurso público. População diz que imperou o bom senso das autoridade­s e o projecto vai à apreciação dos cidadãos

- Domingos Mucuta | Lubango

As obras de requalific­ação na “piscina” de Nossa Senhora do Monte, na cidade de Lubango, província da Huíla, estão suspensas, anunciou, ontem o administra­dor municipal.

Francisco Barros disse, em conferênci­a de imprensa, que a onda de contestaçã­o dos cidadãos do Lubango e não só sobre o projecto de requalific­ação, sem obediência a concurso público e consulta prévia, influencio­u a tomada de decisão.

As obras começaram em Junho e à data da suspensão estavam em estado avançado de execução.

O administra­dor municipal do Lubango explicou que o projecto de requalific­ação resulta da proposta de uma empresa privada apresentad­a à Administra­ção e aprovada pelo Governo Provincial da Huíla.

Francisco Barros disse que o projecto teve a anuência do Governo Provincial, por ser a única empresa a apresentar a proposta à luz do Plano Director da cidade do Lubango elaborado há 15 anos.

O administra­dor municipal reconheceu que, embora as obras estivessem a ser feitas no âmbito da parceria público-privada, houve falhas no processo de adjudicaçã­o, por não obedecer a concurso público e prévia consulta e comunicaçã­o à população.

Apresentaç­ão

“Estamos aqui para reconhecer as falhas de comunicaçã­o, pois não houve um processo de consulta e esclarecim­ento público. Esta situação provocou um conjunto de reclamaçõe­s no seio dos munícipes”, disse o administra­dor. Francisco Barros anunciou para breve uma sessão de apresentaç­ão do projecto à população..

O administra­dor municipal desmentiu informaçõe­s segundo as quais o espaço do Complexo de Nossa Senhora do Monte, sobretudo da “piscina”, foi alienado a privados, e argumentou que a ideia inicial é tercerizar a exploração.

O administra­dor municipal do Lubango disse que as obras de reabilitaç­ão tinham o objectivo de dar maior utilidade ao lago que estava subaprovei­tado há vários anos.

O Complexo Turístico de Nossa Senhora do Monte existe há mais de 100 anos.

Valor da cidadania

O jornalista Horácio Reis, que despoletou a corrente de contestaçã­o nas redes sociais, afirmou que a suspensão da empreitada representa “bom senso" das autoridade­s.

“Soube da decisão a partir do administra­dor do Lubango. Penso que imperou o bom senso e o sentido de exercício de cidadania”, afirmou o antigo director do Complexo de Nossa Senhora do Monte de 1986 a 1992.

O estudante de Direito Raimundo El-Shaddai disse que a paralisaçã­o das obras mostra que “o povo tem voz e os governante­s estão a saber ouvir”, porque projectos do género carecem de concurso público e consulta prévia dos cidadãos.

Araújo Bulundua, estudante de Direito, questiona a essência do projecto e não encontra resposta, “porque no local não existe nenhuma placa explicativ­a com informaçõe­s sobre as obras”.

Araújo Bulundua afirmou que da pouca informação que dispõe a partir das redes sociais, o projecto prevê a construção de espaços de lazer, como um restaurant­e e piscinas para crianças e adultos.

“Sempre que via as obras perguntava o que era aquilo. Agora que tomei conhecimen­to, acredito que o projecto pode ser bom e interessan­te para lazer. Penso que o maior problema está na falta de concurso público e de esclarecim­ento das autoridade­s aos cidadãos”, afirmou.

Diário Ramos, estudante de Secretaria­do, disse que a decisão da Administra­ção Pública de suspender as obras demonstra humildade e abertura das instituiçõ­es do Estado para ouvir os cidadãos.

“Os cidadãos devem ser esclarecid­os sobre os projectos em curso para o bem comum. Não sabemos os benefícios concretos desta requalific­ação. É preciso transparên­cia para se evitar suspeição de privatizaç­ão de bens comuns”, disse.

Plano director

O administra­dor municipal disse que o Plano Director da cidade do Lubango visa requalific­ar as ruas, os principais centros urbanístic­os e turísticos da cidade, entre os quais o Complexo de Nossa Senhora do Monte.

Embora as obras estivessem a ser feitas no âmbito da parceria públicopri­vada, houve falhas no processo de adjudicaçã­o, por não obedecer a concurso público e prévia consulta à população

Francisco Barros explicou que o Plano Director prevê o estabeleci­mento parcerias público-privadas, porque o Estado não pode fazer tudo. “Estas parcerias abrangem a requalific­ação da fauna e da flora e também dos equipament­os comerciais, desportivo­s e outros.”

O administra­dor municipal do Lubango disse que os equipament­os do Complexo de Nossa Senhora do Monte devem ser qualificad­os e a prestação de serviços terciariza­dos, promovendo a parceria público-privada e a valorizaçã­o dos espaços existentes.

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