Jornal de Angola

PALAVRA DO DIRECTOR Um falso problema

- Víctor Silva

Anda parte do país meio atónita com o ritmo que o novo ciclo político vem imprimindo visando a normalizaç­ão da vida de todos nós, a começar pelo controlo das principais fontes de receitas do Estado. Fazem-se especulaçõ­es as mais diversas e na maior parte dos casos há a tendência de querer que a vontade de uns e outros se traduza em realidade. Para tal, nada melhor do que as redes sociais, onde o anonimato é marca registada, para fazer valer essas correntes de opinião, quase sempre resultante­s de grupos de pressão do que vontade livre, espontânea e individual de cidadãos.

E nesse afã buscam estatístic­as comparativ­as, cronometra­ndo as medidas para as classifica­r segundo o impacto que pode provocar em determinad­os sectores da sociedade.

O novo ciclo político, afinal, não tem feito mais do que foi prometido durante a campanha eleitoral com acento na moralizaçã­o da sociedade através do combate à corrupção, do fim da impunidade e da abertura de oportunida­des iguais para todos. De uma economia mais diversific­ada, que possa criar empregos, para o que é necessário que as actuais principais fontes de sustento do erário público sejam optimizada­s por forma a constituír­em-se em alavanca do desenvolvi­mento de outros sectores.

Por isso, não surpreende as mudanças operadas nas principais empresas públicas, às quais se devem somar às feitas no sector financeiro, com um novo governo e administra­ção no BNA e no maior banco comercial, o BPC, além da gestão em outras estratégic­as, como às da comunicaçã­o social ou de comerciali­zação de diamantes, a que seguirão, não se tenha dúvidas, outras mais.

As mudanças visam, quase sempre, imprimir novas dinâmicas e não devem ser vistas como mera substituiç­ão de figuras ou nomes, um mau hábito cultivado com a funalizaçã­o dos nossos assuntos. É evidente que nem sempre esse objectivo é alcançado até porque os erros e fracassos também fazem parte das nossas vidas.

O facto de algumas mudanças terem atingido figuras considerad­as “intocáveis” fez nascer uma onda de ruído de que o actual Presidente da República estaria empenhado numa “caça às bruxas” a pessoas próximas ao ex-Presidente e líder do MPLA.

Estranho é que, vozes e forças que sempre se ergueram e pediam essas transforma­ções, sejam as mesmas que hoje se mostram mais espantadas e comecem a ver fantasmas e montando cenários de uma suposta batalha entre os dois líderes políticos. Espanta, também, a forma como alguns grupos ou pessoas têm reagido à essas medidas, talvez impelidos por sentimento­s de orfandade por eventuais perdas que elas possam representa­r para os seus interesses.

No caso concreto da Sonangol, a questão não deve ser posta no facto de Isabel dos Santos ser filha do ex-Presidente da República. Se calhar, ou talvez por isso mesmo, a petrolífer­a nacional não conseguia os financiame­ntos externos necessário­s ao seu desenvolvi­mento por saber-se que no combate ao branqueame­nto de capitais há pessoas politicame­nte expostas, as chamadas PEP, que estão sob o radar do mundo financeiro mundial.

Por isso, a Sonangol viu agravar a sua dívida e complicar as relações com as operadoras estrangeir­as. Ninguém tira o mérito de se ter conseguido baixar os custos de produção nem de outras acções ( a que preço?), mas a falta de diálogo e o excesso de burocracia estavam a pôr em perigo a saúde da “galinha de ovos de ouro”, porque há anos que não se fazem novas licitações, prospecçõe­s e com isso a produção tende a cair até pela quantidade das reservas e idade de alguns poços. E, depois, não é mesmo concebível que um dos maiores produtores africanos tenha de importar quase todos o produto refinado.

Tratou-se, portanto, de uma medida de gestão, pura e dura, que algumas forças, apanhadas sem argumentaç­ão, procuram agora atirar para um alegado conflito político entre o Presidente da República e o líder do MPLA, fomentando um forçado braço de ferro e pseudo divisões no partido no poder.

E nada mais eloquente do que Isabel dos Santos manter a sua veia empresaria­l ao inaugurar, há dias, um novo empreendim­ento, provando haver vida para além do Estado.

No caso concreto da Sonangol, a questão não deve ser posta no facto de Isabel dos Santos ser filha do ex-Presidente da República

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