Carta escrita desde domingo
A carta que Robert Mugabe ontem enviou, na qual apresentava a sua resignação e cujo conteúdo foi mediado pelo padre católico Fidelis Mukonori, estava já escrita desde domingo e era aquela que os militares esperavam fosse lida por Robert Mugabe na sua alocução ao país. Aliás, os militares nunca esconderam a sua surpresa à medida que Mugabe foi proferindo a sua intervenção, uma vez que à última hora trocou o documento que havia sido aprovado por um outro que só ele conhecia. Não foi por acaso que Mugabe, nessa sua intervenção, referia que seria ele a dirigir o congresso extraordinário da ZANU-PF, marcado para o próximo mês. O seu objectivo, claramente, era o de ganhar tempo e ver se a diplomacia da SADC conseguiria “tornear” as exigências não só dos militares como do seu próprio partido. Uma prova disso é que, pelo seu punho, havia enviado para todos os ministérios uma carta a convocar uma reunião ministerial que deveria ter lugar ontem de manhã. Uma reunião que só poderia realizar-se na sua imaginação, visto que o local onde elas habitualmente decorrem, a State House, estar há uma semana ocupada pelos militares. E foi percebendo e vendo que esse espaço de manobra era bastante reduzido e percebendo que o pedido de “impeachement” havia começado já a ser discutido, Robert Mugabe optou por enviar a carta de resignação e de, assim, preservar o essencial que passa por evitar uma humilhação pública maior do que a que ele já está a sofrer.