Jornal de Angola

Activistas defendem punição de infractore­s

O evento de sábado visa saudar o Dia Internacio­nal para a Eliminação da Violência contra a Mulher

- Fonseca Bengui

Um grupo de acivistas sociais realiza no sábado, em Luanda, uma marcha de repúdio à violência contra as mulheres, organizada pelo colectivo Ondjango Feminista que coincide com o Dia Internacio­nal para a Eliminação da Violência contra a Mulher, que se celebra a 25 de Novembro.

A marcha pretende denunciar a violência contra as mulheres e exigir políticas para a sua erradicaçã­o e parte do Cemitério da Santa Ana até ao Largo das Heroínas, onde será realizada uma cerimónia em memória das vítimas e sobreviven­tes da violência contra as mulheres.

Em entrevista ao Jornal de Angola, Sónia Cunha, coordenado­ra da actividade, disse que a marcha é o posicionam­ento político do grupo sobre a violência baseada no género, que afecta desproporc­ionalmente as mulheres em todo o mundo.

Essa violência, disse Sónia Cunha, tem causas estruturai­s que são as relações de poder desigual entre os homens e as mulheres: “Em Angola, apesar das estatístic­as não serem completas, os dados que temos são alarmantes. Geralmente fala-se muito da violência que as mulheres sofrem nos espaços domésticos mas sabemos que muita violência ocorre no espaço público"

Sónia Cunha apontou como exemplos a ocorrência, nos últimos meses, de vários casos de rapto, espancamen­to seguido de morte, vitimando mulheres. “Aproveitan­do o Dia Internacio­nal para a Eliminação da Violência contra as mulheres, queremos estar na rua e manifestar a nossa indignação e repúdio contra a violência que temos sofrido e contra o descaso das autoridade­s governamen­tais e da sociedade em relação a essas violências.”

Em relação à postura das autoridade­s perante o fenómeno, a activista disse que apesar dos compromiss­os assumidos no plano formal, a realidade diária das mulheres é bem diferente, e apontou como exemplo o que considera ser “discurso oficial do Governo de culpabiliz­ação das vítimas”, que “ofende e agride” as mulheres.

Sónia Cunha denunciou a “domesticid­ade da violência contra a mulher", para sublinhar que a insistênci­a em reduzir a violência contra as mulheres à violência doméstica, retira do Estado algumas responsabi­lidades.

“Não basta aprovar leis, é preciso criar estruturas, formar as pessoas para que a lei seja eficaz”, disse Sónia Cunha, para acrescenta­r que quando uma mulher sofre violência sexual não encontra nas esquadras ou nos hospitais o apoio de que precisa.

Sónia Cunha apontou a inexistênc­ia de uma clara separação sobre o que cada uma dessas instituiçõ­es deve recolher ou fornecer. "Não existem os medicament­os profilátic­os para que a mulher se previna de uma gravidez ou do contágio por doenças sexualment­e transmissí­veis, para não falar do apoio psicossoci­al para as vítimas.”

Como principais causas da violência contra a mulher, a Ondjango Feminista aponta as desigualda­des de género, indicando que a sociedade é construída sobre uma estrutura que reforça a ideia de superiorid­ade dos homens sobre as mulheres.

A existência da Lei contra a violência doméstica, refere, é um passo pequeno demais para a grandiosid­ade do problema. “A lei por si só não resolve nada, por isso é que os documentos internacio­nais sobre os direitos humanos se apontam recomendaç­ões que pedem acções específica­s como investir na educação para os direitos humanos." salientou.

Sónia Cunha referiu que vão marchar contra todas as formas de violência e por todas as mulheres e meninas de Angola. A preocupaçã­o incide sobre a violência: física, psicológic­a, sexual, pública, institucio­nal que afecta todas as mulheres, incluindo as mulheres lésbicas, trans, trabalhado­ras de sexo, as mulheres com deficiênci­a, as mulheres no sistema carcerário, as mulheres imigrantes e as mulheres camponesas.

O colectivo Ondjango Feminista é uma organizaçã­o feminista de activismo e educação em prol da realização dos direitos humanos de todas as mulheres em Angola.

O Dia Internacio­nal pela eliminação da violência contra a mulher começou a ser assinalado em 1981 por iniciativa de activistas latino americanas.

 ??  ?? PAULO MULAZA | EDIÇÕES NOVEMBRO Sociedade civil promove marcha para apelar luta contra violência às senhoras
PAULO MULAZA | EDIÇÕES NOVEMBRO Sociedade civil promove marcha para apelar luta contra violência às senhoras

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola