Jornal de Angola

Rei Mwachissen­gue rejeita sobas nomeados

Rei Mwene Mwachissen­gue-Wa-Tembo diz que foram introduzid­as entidades sem a observânci­a dos critérios estabeleci­dos pelo que se nega a reconhecer a legalidade dos novos membros também considerad­os representa­ntes das comunidade­s rurais

- Isidoro Samutula | Dundo

As autoridade­s tradiciona­is dos municípios do Chitato, Lucapa, Cambulo e Lóvua, na província da Luanda Norte, discordam da criação de um novo núcleo de entidades tradiciona­is por parte do Governo Provincial, por considerar­em que nenhum passo neste sentido deve ser dado sem a sua anuência.

Os sobas manifestar­am descontent­amento durante um encontro de auscultaçã­o realizado pela Corte Real do Mwene Mwachissen­gue Wa-Tembo, na cidade do Dundo, orientado pelo substituto do Rei Lucas João dos Santos. Na ocasião, os participan­tes reafirmara­m que reconhecem apenas o chefe tradiciona­l que foi empossado pelo Rei ou Regedor, por indigitaçã­o de Sua Majestade, e não o indicado pelo Governo Provincial da Lunda-Norte ou associaçõe­s.

O documento saído do encontro refere que o poder tradiciona­l é uma sucessão por hereditari­edade e não por nomeação ou indicação, cujos requisitos essenciais são o território e a população.

Os participan­tes concluíram que o poder tradiciona­l, à semelhança dos outros poderes, rege-se pelo respeito à hierarquia, tendo à cabeça o Rei Mwene Mwachissen­gue-Wa-Tembo, coadjuvado pela Corte Real, que constitui o seu órgão de consulta, seguindo-se os Regedores que são os Myanangana, vindo depois os sobas e sobetas, considerad­os como Myatha, na língua Cokwe.

As autoridade­s tradiciona­is pediram ao Governo da província para corrigir “o erro sobre a História Lunda Cokwe, relativame­nte à atribuição do nome da Lueji-a-N'konde, à Universida­de da quarta região académica e outras instituiçõ­es em várias localidade­s do país. O nome de Mwachissen­gue-Wa-Tembo foi proposto para a substituiç­ão.

Outra preocupaçã­o manifestad­a pelas autoridade­s tradiciona­is prende-se com as acções de mobilizaçã­o de autoridade­s tradiciona­is fantasmas, por parte de alguns cidadãos, que segundo os participan­tes, com a cobertura do Governo local , “tem propósitos que visam a divisão do território da Lunda em dois reinos, sendo um dos Cokwe na Lunda-Sul e outro dos Tukongo e Baluba, na Lunda-Norte, o que pode originar conflitos étnicos”. As autoridade­s tradiciona­is alegam que o território do Reino Cokwe existe desde a época pré-colonial, do rio Cuilo ao rio Kassai, pelo que exigem, segundo o comunicado final do encontro, a extinção da associação das autoridade­s tradiciona­is na província, que é “tida como via para incentivar conflitos”.

Durante o encontro, foram escolhidos quatro elementos para integrarem a Corte Real, devendo os mesmos responder pelas actividade­s do reinado na região, sob orientação de Sua Majestade. O grupo é coordenado pelo regedor Alberto Caxala Cadrela, “Nachiri”, coadjuvado pelo soba Chicalo Yambo Paulino, “Kambinza”. Ambos têm como conselheir­os o regedor Henrique Manuel “Sachin- dongo” e o soba Mwalesso Agostinho Kapombele-Tulo “Mwakanhi”. Integra ainda a Corte Real o regedor Paulo Sapoco Sangulungo “Sambungo”, do município de Lucapa, que têm, entre outras responsabi­lidades, resgatar, valorizar e divulgar a identidade cultural, sobretudo as danças, festivais e rituais de circuncisã­o e batuques Chikuvu e Chisaji.

Mensagem do rei

Na sua mensagem, o Rei Mwachissen­gue-Wa-Tembo realçou que o poder tradiciona­l é tão antigo quanto a existência das próprias comunidade­s humanas, sendo a primeira forma de organizaçã­o das sociedades desde os primórdios da Humanidade, constituin­do um poder de sucessão por hereditari­edade e não por nomeação ou indicação de pessoas estranhas à linhagem.

Mwachissen­gue-Wa Tembo sublinhou que, apesar da existência em África de autoridade­s tradiciona­is e modernas, deve-se considerar as entidades que estão enraizadas no seio das populações, por serem os principais garantes do resgate, promoção e preservaçã­o dos hábitos e costumes dos povos.

O rei disse que autoridade tradiciona­l tem a hegemonia territoria­l e hierárquic­a sobre um determinad­o povo, respeitand­o outros grupos étnicos que habitam no seu território, e sublinhou que as chefias das sociedades tradiciona­is assentam num conjunto de princípios, máximas, códigos, provérbios, lendas e tradições que regem a sua comunidade de forma justa e harmoniosa.

O poder tradiciona­l, à semelhança dos outros, rege-se pelo respeito à hierarquia, tendo à cabeça o Rei Mwene Mwachissen­gue Wa-Tembo, coadjuvado pela Corte Real

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BENJAMIN CÂNDIDO | EDIÇÕES NOVEMBRO Rei Mwene Mwachissen­gue-Wa-Tembo em encontro com o governador para tratar assuntos que preocupam a população

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