A cor e o cheiro do peixe fresco
Em Angola, foram capturadas, de Janeiro a Outubro deste ano, 150 mil toneladas de sardinha. Nesse carregamento, estão incluídas, como é óbvio, as nossas amigas lambulas, sempre confundidas, muitas vezes menosprezadas, embora, como sabemos, constituam a principal fonte de proteína animal de milhões de angolanos.
É importante que se diga que, tal como nas festas onde se valorizam os dançarinos e se olvidam os DJs, quando se fala de pescas, a tendência é mencionar apenas os pescadores e esquecer as peixeiras, mesmo sendo sobre elas que recai a maior quota parte da tarefa de levar até à mesa do povo o pão-nosso-de-cada-dia.
Só no município de Cacuaco, na província de Luanda, as autoridades assinalam a presença de 67 armadores, 320 embarcações de pesca artesanal, duas embarcações semiindustriais e acima de 1.400 pescadores. Há uma produção diária estimada em 2.140 quilos de pescado diverso, o que dá uma média mensal de 64 toneladas e uma média anual de 770,6 toneladas.
Cento e cinquenta mil toneladas de Janeiro a Outubro pode parecer um número gordo. Mas quem assim pensa tem uma visão do mundo do peixe e do mar, e da sardinha, em particular, distorcida pelas travessas da grelha e limitada pelo tamanho do fogareiro. A verdadeira quantidade pode até ser maior, mas está longe de satisfazer as necessidades da população.
Os pescadores são cantados pelos perigos constantes por que passam. Segundo a ministra das Pescas, Victória de Barros Neto, a maioria das embarcações que naufragam com pescadores a bordo em Angola se deve à violação aos limites da sua zona de pesca. As embarcações têm um limite costeiro para exercer a actividade. Por exemplo, se for uma de pesca artesanal tem uma faixa até às quatro milhas onde pode operar e constitui um problema de segurança ultrapassar tal limite, as semi-industriais vão de quatro a oito milhas da costa, as industriais das 15 a 20 milhas. O Ministério vai tornar a fiscalização mais rigorosa em 2018.
Muito se fala, e com razão, das condições de sanidade observadas na comercialização de pescado, sobretudo, nos locais de referência. Fazem-se ouvidos de mercador às demais condições de transportação e armazenagem. Um teste simples de ser feito em casa pelo consumidor: compre o peixe directamente do pescador ou da peixeira na praia, amanhe e lave-o bem, congele-o. Dois dias depois, descongele e compare a cor e o cheiro com o peixe comprado na peixaria ou na zunga.
Mas, pouco ou nada se diz das processadoras de pescado, sejam elas peixeiras de quitanda ou da zunga, sejam escaladoras ou salgadoras, no fundo, todas elas as verdadeiras responsáveis pelo milagre da mutiplicação dos peixes.
O peso real das pescas e da economia do mar vai muito além. A produção e o comércio pesqueiro e o processamento industrial, suportam de forma directa cerca de 600 mil angolanos, e o pescado é também uma importante fonte de receita do Governo. De acordo com a ministra das Pescas, em Angola o sector joga um papel importante no desenvolvimento do país, em particular, na segurança alimentar e na geração de empregos, em especial a partir da actividade da pesca artesanal e da pesca semi-industrial.
Pouco ou nada se diz das processadoras de pescado, sejam elas peixeiras de quitanda ou da zunga, sejam escaladoras ou salgadoras