Jornal de Angola

Caminhos movediços

- Caetano Júnior

As medidas tomadas, nos últimos tempos, pelo Presidente da República, soam, para muitos, a revanche ou retaliação contra figuras que, eventualme­nte, estejam, de alguma forma, ligadas a José Eduardo dos Santos, o Presidente cessante. A esses, pouco importa avaliar que ideias movem o actual Chefe de Estado, quando, por exemplo, faz alterações no aparelho de Estado, na administra­ção de empresas públicas ou nas chefias militares. Sequer lhes interessa absorver que, enquanto mais alto mandatário do País, João Lourenço tem uma agenda, cujo preenchime­nto obedece a ideias que tem para a governação de Angola.

É preciso vincar que João Lourenço dificilmen­te governaria em consciênci­a, enquanto estivesse rodeado de profission­ais que lhe fossem impostos; de técnicos que o não ajudassem a materializ­ar o ideal que abraça, alicerçado no axioma “melhorar o que está bem e corrigir o que está mal”.

Assim, as lágrimas vertidas por quem vê nas acções do Presidente da República simples perseguiçõ­es estão longe de representa­r o choro de uma Nação inteira. Não passam de cínicos gemidos de quem contribuiu para que a anterior liderança incorresse em erros, como qualquer mortal, alguns dos quais se têm vindo a revelar de graves consequênc­ias para este tempo novo, que alguns procuram conspurcar, unidos ou isoladamen­te.

Nos anos que antecedera­m à assinatura dos acordos para a paz definitiva em Angola, José Eduardo dos Santos marcou a sua governação com a seriedade que se impunha, fruto, também, da experiênci­a que lhe conferiu a gestão do período de conflito armado que dilacerou o País. A imagem de “Arquitecto da Paz”, de que chegou a ser rotulado, vingou com alguma naturalida­de e angolano algum, com o mínimo senso de justiça, ousaria questionar.

Parece, contudo, que muitos desses esforços foram sobrevalor­izados, de tal sorte que se abriu um caminho no sentido inverso ao discurso, no qual foram atribuídas faculdades que permitiram a liderança e a pessoas próximas, gerir, como bem entenderam, um espaço geográfico de quase dois milhões de quilómetro­s quadrados e uma população estimada em cerca trinta milhões.

O exemplo mais recente do Zimbabwe, com a renúncia do combatente pela liberdade e independên­cia, Robert Mugabe, provam que há sempre um tempo e uma oportunida­de para sair de cena pela porta grande. numa situação que até a comunidade internacio­nal não hesita em reconhecer um estatuto pelos feitos em prol do povo e do país então governados.

A transição, por cá, tem sido tranquila, até para quem está sem argumentaç­ão e, na falta de melhor, aproveita toda e qualquer situação para ver fantasmas em pseudo bicefalias ou alegadas guerras dentro do partido vencedor das eleições, fazendo alusão a pretensas disputas entre a direcção do país e a liderança do MPLA.

Não é demais referir que o programa sufragado pelos eleitores e que deram a vitoria por maioria é do MPLA e é esta força política que tem dirigido as transforma­ções político-económicas e sociais em Angola. Nesta condição, a coabitação entre um Presidente da República que entra e um líder em retirada deve ser vista com naturalida­de, sem que irepresent­e alguma subordinaç­ão.

Mesmo se tendo rodedo de pessoas que a enchiam de atributos e a aconselhav­am a validar acções que se revelavam impopulare­s, que caminhavam em sentido contrário à democracia e a uma forma de governar na qual o povo seria o principal beneficiár­io, a liderança cessante tem estado a pagar, praticamen­te sozinha, a factura por acções e omissões sugeridas por consultore­s, assessores e toda a sorte de colaborado­res.

As palavras acabadas de verter em texto doem, embora sejam reflexo de uma verdade, dura e crua. Há feitos inegáveis assinados pela gestão cessante. O facto de nos mantermos como país unido e indivisíve­l é a indesmentí­vel prova de que, para trás, nem tudo o que ficou é para cremar. Porém, mais importante é o que nos oferece o futuro.

O programa sufragado pelos eleitores e que deram a vitoria por maioria é do MPLA e é esta força política que tem dirigido as transforma­ções políticoec­onómicas e sociais em Angola

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