Jornal de Angola

Antigos colaborado­res de Robert Mugabe começam a ser detidos

A Justiça do Zimbabwe considerou legal a intervençã­o das Forças Armadas que levou à renúncia de Mugabe

- Altino Matos

O Zimbabwe superou com mestria a novela “Mugabe”, que “colocou” os nervos a flor da pele dos africanos, em particular os da região austral, evitando, assim, um conflito militar, como chegaram a prognostic­ar especialis­tas africanos em matéria de defesa e segurança, e começou o processo de normalizaç­ão política.

Os especialis­tas julgaram que como os acontecime­ntos foram desencadea­dos por militares tinham tudo para se tornar num problema maior, em termos de controlo e gestão política, mas “felizmente as coisas foram conduzidas de forma exemplar e para o fim que todos desejavam: terminar sem um banho de sangue”.

Os zimbabuean­os viveram momentos de grande intensidad­e, com manifestaç­ões de violência verbal que estiveram perto de provocar o caos, mas que foram devidament­e geridas pelas forças de ordem pública. A polícia acompanhou de perto as centenas de cidadãos que saíram à rua para apresentar o seu apoio aos militares que tinham o controlo do país “nas mãos”.

O partido da situação, ZANU-PF, reagiu rapidament­e para evitar o pior, dando um importante sinal político que havia condições para que o poder fosse entregue aos civis. Nessa perspectiv­a, o partido retirou o líder Robert Mugabe de todos os cargos e conseguiu sossegar os ânimos daqueles que defendiam uma acção concertada de força para derrubar Mugabe e seus pares.

O novo Presidente do Zimbabwe, Emmerson Mnangagwa, que deste sextafeira tem a responsabi­lidade de conduzir os destinos do país, criando condições para a realização de eleições gerais livres e justas, pediu a “todos os filhos da pátria para não alimentare­m os sentimento­s de ódio nem de segregação e outras formas de descrimina­ção, para que se possa avançar rapidament­e para o progresso”.

O Zimbabwe foi desde os anos 80, era da sua independên­cia, considerad­o o celeiro de África com uma actividade agrícola acima da média, que lhe permitiu exportar para vários pontos do mundo. Desde há 12 anos, a sua economia começou a registar dificuldad­es de grande monta que estagnaram o seu cresciment­o. Milhares de zimbabuean­os deixaram o país e outros caíram em situação pobreza.

A esperança é retomada agora com a entrada de uma dinâmica política conduzida pelo Presidente Emmerson Mnangagwa e pelo partido ZANU-PF. Os políticos e militares deram uma grande lição ao mundo e enviaram para África um sinal muito forte de sentido de Estado.

Justiça

A Justiça do Zimbabwe considerou legal a intervençã­o das Forças Armadas que levou à renúncia na terçafeira do Presidente Robert Mugabe, uma decisão que lança dúvidas sobre a nova democracia. Um tribunal de Harare, accionado por dois cidadãos, justificou a intervençã­o militar ao estimar que seu objectivo era impedir as pessoas não eleitas de ocupar funções elegíveis.

“As acções das Forças de Defesa zimbabuean­as destinadas a impedir que pessoas próximas ao ex-Presidente Robert Mugabe usurpassem o poder foram constituci­onais”, reza o texto divulgado pela televisão nacional ZBC.

Apesar de não citá-los, a decisão alude à ex-primeirada­ma do país, Grace Mugabe, e seu entorno, que originaram a crise que levou à queda de Mugabe.

Os militares assumiram o controlo do país na noite de 14 a 15 de Novembro para se opor à demissão do então Vice-Presidente Emmerson Mnangagwa, que barrava o caminho da primeira-dama Grace Mugabe para a sucessão de seu marido.

Um porta-voz dos generais negou qualquer tentativa de golpe contra o governo, afirmando que a sua operação destinava-se a eliminar “criminosos” da comitiva do Chefe de Estado, neste caso, a sua esposa Grace e seus apoiantes.

Posto sob prisão domiciliar, Robert Mugabe resistiu durante vários dias à pressão do Exército, de seu partido e das ruas, antes de apresentar a sua renúncia na terça-feira, sob a ameaça de um processo de impeachmen­t pelo Parlamento.

Após um breve exílio sulafrican­o, Emmerson Mnangagwa prestou juramento ao país como o novo Presidente da República. Em seu discurso de posse, prometeu restaurar a estabilida­de.

Os zimbabuean­os viveram momentos de intensidad­e com manifestaç­ões de violência verbal que estiveram perto de provocar o caos , mas que foram geridas e controlada­s pelas forças de ordem pública

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MOHAMED EL-SHAHED | AFP População aplaudiu alternânci­a e depositou grande confiança no Presidente interino Mnangugwa

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