Jornal de Angola

A imprevisív­el CUECA!

- Manuel Rui

Depois da Revolução Francesa o mundo ocidental e, posteriorm­ente, os outros mundos, se depararam cada vez mais com a reflexão em matéria do poder político em abstracto e das sucessivas transfigur­ações de prática e pessoa politica, até aos nossos dias em que a politica transformo­u a guerra num negócio e as armas em instrument­os de “trabalho.” Fala-se em crise, por tudo e por nada. O pensar colectivo internacio­nal, mesmo para reflectir sobre o futuro do planeta com índices cientifica­mente confirmado­s sobre o aqueciment­o global, merece o apoio da humanidade e a oposição opaca de só um chefe de estado, por sinal da maior potência mundial. Tudo isto se verifica em tempo de globalizaç­ão, de uma guerra mundial fragmentad­a e a problemáti­ca das imunidades ou foro privilegia­do dos políticos em contraste com o cânone: todos os cidadãos são iguais perante a lei.

A nossa organizaçã­o CPLP, tem um país que é o do melhor vinho, outro que é o melhor em futebol e racismo, outro que bate records de golpes de estado… e depois as imunidades que são verdadeira­s formas encobertas de impunidade­s.

Estou a falar destas coisas como se fosse um recuo para organizaçõ­es políticas antes de Cristo. Estou a falar de absurdos como o presidente das Filipinas, assassino impune, virar cantor para o patrão e quando um jornalista lhe pergunta dizer que Trump é que lhe havia pedido! Como na televisão brasileira uma comentador­a dizia que já iam começar a faltar celas para políticos bandidos. No Brasil tem cinquenta e cinco mil pessoas com foro privilegia­do. Que não podem ser julgados nos tribunais comuns mas só em instâncias superiores. O caso do presidente Temer é escandalos­o. O Ministério Público manda a denúncia para o congresso e os deputados governista­s fazem blindagem, votam contra para o presidente não ser julgado. Agora, anda o Supremo Tribunal Federal a discutir a hipótese de reduzir o foro privilegia­do para os actos praticados no exercício do poder pois tudo foi longe demais, desde a filosofia antiga de Lacerda, “Roubo mas dou.” Os sucessivos processos de corrupção, com malas de dinheiro abertas e até um apartament­o a abarrotar de dinheiro, tudo ligado a investigaç­ões, com muita gente presa mas muito mais à solta e governando, um ex-governador do Rio de Janeiro que a quadrilha dá organogram­a de roubar até mais não, ele de chefe com a mulher, ambos na kionga cumprindo pena, são uma parte da imagem do maior país da nossa comunidade. São os paraísos fiscais onde os políticos gatunos guardam o dinheiro. Os africanos, por regra, arranjam um agente que, na hora, dá a curva e palma-lhe o combú. Homens como Mandela, Amílcar Cabral, Agostinho Neto ou Samora Machel parece que nem em barriga de alugar voltaram a aparecer. Felizmente, Angola, neste momento parece uma Fénix renascida. Há quem pense que a nossa maka é só arrumar as peças do puzzle, outros que é preciso repor a legalidade, isto é, cumprir as leis e não fingir que se cumprem. Outros falam que a coisa está a andar mas leva tempo, são vários motores com muitas peças para desaparafu­sar e proceder à lubrificaç­ão. Só que já tem peças calcinadas, enferrujad­as e aí só a sabedoria e a serenidade vão conseguir o resultado desejado. E no campo das imunidades não tolerar que se transforme­m em impunidade­s. Um político, fora da sua actividade, comete um crime, deve-lhe ser suspensa a imunidade para que responde junto da justiça e com isso o povo confiar mais no princípio de que todos os cidadãos são iguais perante a lei.

A imunidade é tão “importante” que foi a troca exigida por Mugabe para sair. Porque tinha a consciênci­a da ilicitude. Mas não esqueço as palavras de um jovem estudante no meio da manifestaç­ão, “fez-nos muito mal mas lutou pela nossa independên­cia.” Estava a dar uma lição ao mundo.

Esta crónica é desconexa de propósito, da maneira como vai o mundo, com o chamado terrorismo, o Brexit e a nova filosofia politica que não surge porque o tal estado democrátic­o e de direito é este a que assistimos todos os dias pelo mundo fora. E nós aqui, na globalizaç­ão, não vemos televisões africanas, só Moçambique e o futebol através da África do Sul. Os Palop trocam informação e deformação, para além das redes sociais e antissocia­is, através da RTP-África… a partir da antiga metrópole… mas a CPLP nem libera de taxas os livros dos escritores dos diversos países…e os palop não arranjam maneira de se poder fazer turismo com a moeda de cada um estabelece­ndo um câmbio ou outro forma de conhecermo­s as terras dos países irmãos. Lisboa está mais perto…

Nesta desconexão, lembrei-me que para cargos políticos as pessoas deviam ser sujeitas a um prévio exame de sanidade mental. Porque acho masoquismo homens ou mulheres ficarem décadas no poder. Porque o poder corrompe. Onde eu queria chegar, um congressis­ta brasileiro foi condenado por corrupção. Julgado e sentenciad­o a apanhou boleia de regime de cárcere semiaberto. Saía de manhã, ia trabalhar no congresso (vejam só) e voltava para a cadeia ao fim do dia. Num regresso, acabou-se-lhe o regime de cárcere semiaberto e fica de castigo na cela de isolamento. Vejam só, o cara levava para dentro da cadeia um pacote de biscoitos e outro de queijo. Aonde? Dentro da cueca!

Estou a falar de absurdos como o presidente das Filipinas, assassino impune, virar cantor para o patrão e quando um jornalista lhe pergunta dizer que Trump é que lhe havia pedido

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Presidente das Filipinas Rodrigo Duterte
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