Cimeira de Abidjan tem foco na juventude
Oitenta delegados africanos e europeus juntam-se hoje e amanhã, em Abidjan, Costa do Marfim, para discutir assuntos que se prendem com o desenvolvimento dos dois continentes. Angola está representada por uma delegação chefiada pelo Presidente João Lourenço
Numa cimeira deste tipo, um dos grandes problemas que se costuma levantar é que o interesse de uns pode não ser, forçosamente, o de outros. Ou, se preferirem, as estratégias políticas e económicas muito raramente são coincidentes.
Foi isso, precisamente, que sucedeu na última cimeira Europa-África, que decorreu em 2014, na cidade de Bruxelas, Bélgica, como já o havia sido nas outras duas, que a antecederam, em 2007, em Lisboa, (Portugal), e em 2000, no Cairo (Egipto). As conclusões saídas dessas três anteriores cimeiras pautaram-se por uma série de generalidades políticas, embrulhadas numa linguagem diplomática despida de objectividade prática para tentar, em vão, esconder o facto de não terem sido obtidos resultados minimamente palpáveis.
Quem, como nós, acompanhou de perto essas cimeiras facilmente percebeu que o obstáculo que não foi possível tornear prende-se, pura e simplesmente, com aquilo que a Europa tinham para oferecer não ser o que os países africanos então mais necessitavam.
Ou seja, a Europa tem uma estratégia para consolidar a sua própria economia. Essa estratégia, por, razões de condicionamento político, muito dificilmente se enquadra no que são os objectivos perseguidos pelas lideranças africanas. Essas lideranças, na sua generalidade, visam, muito objectivamente satisfazer as necessidades das respectivas populações e cumprir com os seus próprios programas internos de desenvolvimento.
A Cimeira de Abidjan tem a seu favor o facto de possuir um ponto focal que se pode revelar determinante para a obtenção de resultados positivos. Tratase da Juventude, tema principal do encontro e que representa um assunto muito sensível para todo o continente africano, uma vez que cerca de 60 do total da sua população é composta por cidadãos com menos de 25 anos de idade.
Existem outros assuntos propostos para esta cimeira, que também podem vir a servir para aproximar as estratégias dos dois continentes. Abordagens como a Agricultura, Desenvolvimento Urbano e Novas Tecnologias, aos quais as lideranças africanas vêm prestando natural atenção, vão estar em discussão.
O plano de investimentos da União Europeia prevê um total de 3,4 mil milhões de euros para o continente africano, havendo mais 44 mil milhões dispersos por diferentes empresas privadas apostadas em investir em África. Dados do Banco Africano de Desenvolvimento referem que África precisa, urgentemente, de um bilião de dólares até 2025, para poder cumprir com as suas metas de crescimento. Estes números, certamente, estarão também em discussão, no encontro de Abidjan, e poderão servir de referência para a busca de um entendimento, embora difícil, mas não impossível de obter, para facilitar o estreitamento de uma relação que se pretende cada vez mais harmoniosa entre os dois continentes.
Estratégias políticas
No entanto, existem algumas estratégias políticas que podem comprometer algumas das boas intenções existentes entre os artífices dos planos económicos. Embora esteja a ser apresentado pela Europa, como sendo uma “engenharia” económica, a verdade é que a insistência na aplicação de uma espécie de “Plano Marshall” para África é uma arma política que está a causar apreensão entre os africanos.
É provável que as delegações europeias tentem convencer as contrapartes africanas da necessidade de aplicarem o “Plano Marshall”, ainda que rotulado com outro nome qualquer.
Aliás, foi para preparar essa probabilidade que Emmanuel Macron chegou mais cedo a África e realizou um périplo por alguns países francófonos, de modo a tentar criar grupos de pressão a favor dos interesses franceses no continente.
O “Plano Marshall”, para quem não sabe e em linguagem simples, foi um programa aplicado pelos Estados Unidos na Europa para recuperar a economia dos aliados, que havia sido devastada pela II Guerra Mundial.
Ou seja, a Europa quer usar a estratégia dos Estados Unidos para influenciar a economia africana, mesmo sem avaliar o real estado em que ela se encontra, até porque difere, claramente, da que a Europa tinha após o fim da II Grande Guerra.
Nada melhor do que esperar se os problemas da juventude estarão em cima da mesa, ou se, mais uma vez, os jovens vão ser usados como mero engodo para a satisfação de outros interesses.