Jornal de Angola

Pseudónimo na Imprensa: Estilo ou cobardia?

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O pedido para que me aturem hoje é dirigido mais a jornalista­s ou àqueles que assinam artigos na imprensa, embora possa ser também para aqueles que queiram saber o segredo por detrás desta prática. Normalment­e, a cada calúnia que alguém ouve, a primeira reacção indignada se manifesta, em geral, pela pergunta “Quem disse isso?”.

O anonimato e/ou o pseudónimo ficam a dever a resposta à essa pergunta. Um texto escrito e assinado com pseudónimo não dá margem para a resposta à pergunta anterior. Schopenhau­er, no livro “A arte de escrever”, considera que “a liberdade sofre o abuso mais indigno ao permitir o anonimato”.

Diz que “esta liberdade deveria ser condiciona­da por uma proibição de todo e qualquer anonimato e do uso de pseudónimo­s. Cada um que declara algo publicamen­te na imprensa seria responsabi­lizado ao menos com a sua honra, caso ainda possuísse alguma; se não possuísse, seu nome neutraliza­ria o seu discurso”.

Escrever sob anonimato e/ou pseudónimo tem esses e outros abusos velados. Quem escreve e quem cria polémica no anonimato ou sob falso nome dirige a si mesmo a suspeita de querer enganar o público ou então macular a honra de outros e sair ileso.

O autor sugere que sempre que se fizesse uma referência a um crítico anónimo, ou protegido por pseudónimo, mesmo que fosse de passagem, deveriam ser empregados epítetos como: “Canalha, cobarde e anónimo”, e quando fosse conhecido de alguns e fosse visto a passar pela rua seria chamado “O patife anónimo disfarçado daquele jornal está aí” a passar.

Esse é, de facto, o tom razoável e apropriado para falar de tais “camaradas” a fim de que o “ofício” (escrever sob anonimato ou pseudónimo para atingir desonrosam­ente outrem) que exercem seja execrado. E porquê? Porque, na linha de pensamento de Schopenhau­er, uma pessoa só aspira qualquer consideraç­ão pessoal quando deixa que vejam quem ela é, mas não quem espreita por aí, com capa ou disfarçado, tornando-se, com isso, um inútil, um fora da lei. Cada um tem o seu modo de matar pulgas, mas é preciso dar a cara. Evita cobardia.

Usar o anonimato para atacar pessoas que não escrevem anonimamen­te é evidenteme­nte desonroso. Um crítico anónimo é alguém que não quer assumir o que diz ou o que deixa de dizer ao mundo a respeito dos outros e de seus trabalhos, por isso não assina. É qualquer coisa como dizer que quem não quer ser lobo não lhe veste a pele.

Não existe mentira que impede um crítico anónimo de a usar, porque ele está escondido. É anónimo. Não é responsáve­l. Tudo escrito sob anonimato ou com nome falso é suspeito de mentira e falsidade. O mal vem a cavalo e regressa à pé, ou seja, entra às braçadas e sai às polegadas. Qualquer mentira dita sobre alguém rapidament­e se propaga. Mas o triunfo da verdade sobre a mentira dita sobre alguém demora.

Por isso, assim como a polícia não permite que as pessoas andem pelas ruas mascaradas, não deveria ser admitido que elas escrevesse­m anonimamen­te ou com nome falso na imprensa, sobretudo para atacar a honra e reputação alheias, ciente ou não de que o mal alheio para si pesa como um fio de cabelo. Nada!

Por estes tempos, em que as redes sociais são veículos mais propensos a assassinat­os de carácter e de reputação, sob a capa de “cidadãos anónimos”, o anonimato ou pseudónimo ganha vida, embora não seja a media tradiciona­l ou convencion­al. É só a media social, mas com impacto no dia-a-dia de toda a sociedade - daí a alcunha.

Quando alguém conseguir o mérito de combater o uso desenfread­o de anónimos ou nomes falsos na imprensa convencion­al, a intolerânc­ia de muitas línguas venenosas será refreada. Seria a morte respectiva do bicho e da peçonha, ou seja, morto o bicho, morto o veneno.

Assim, como a Polícia não permite que as pessoas andem pelas ruas mascaradas, não deveria ser admitido que elas escrevesse­m anonimamen­te ou com nome falso na imprensa, sobretudo para atacar a honra e reputação alheias

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