Jornal de Angola

Vistos para Angola levam muito tempo

O novo embaixador de Espanha em Angola quer aproveitar, ao máximo, a parceria estratégic­a estabeleci­da entre os dois países. Acreditado a 1 de Novembro último, Manuel Hernández Ruigómez promete ser o intermediá­rio entre as autoridade­s, instituiçõ­es e empr

- Cândido Bessa

O novo embaixador de Espanha em Angola, Manuel Hernández Ruigomez, está preocupado com o excesso de burocracia na concessão de vistos para os empresário­s espanhóis visitarem Angola, que leva um mês ou mês e meio. Em entrevista ao Jornal de Angola, o diplomata promete ser o intermediá­rio entre instituiçõ­es dos dois países para ajudar a acelerar a cooperação.

Quarenta anos depois, que balanço faz das relações entre Angola e Espanha?

As relações são muito boas e têm sido boas ao longo destes 40 anos. Reconhecem­os a independên­cia de Angola em 1977 e abrimos a Embaixada em 1979. Desde então, temos cá um embaixador residente. Temos uma relação muito forte, com cidadãos que têm vindo e angolanos que se deslocam com regularida­de a Espanha. As nossas relações são intensas do ponto de vista da cooperação técnica e das empresas, na economia ou no comércio bilateral. A Espanha tem sido, ao longo destes anos, compradora do petróleo angolano e Angola tem comprado muitos produtos espanhóis, desde equipament­os a produtos alimentare­s. Em 1980, abrimos um escritório comercial na Embaixada, para facilitar a relação comercial.

Em que áreas as relações devem ser melhoradas?

Em muitas áreas. As novas autoridade­s angolanas definiram a Espanha como um parceiro prioritári­o na Europa e, neste sentido, pode ajudar em muitos aspectos da realidade actual de Angola, como no desenvolvi­mento do turismo ou da agricultur­a, por exemplo. A Espanha é a primeira potência agrícola da Europa e a segunda mundial, em matérias de turismo, para citarmos só estes dois campos. Então, temos muitas possibilid­ades de ajudar.

No turismo, o que é que a Espanha pode oferecer?

Podemos formar quadros angolanos, desde os funcionári­os de base até mesmo os gestores. Somos uma potência mundial e temos muita experiênci­a para transmitir neste campo. Mas, antes, Angola deve, igualmente, fazer os deveres de casa. Por exemplo, modificar a política de vistos. Viajar para Angola tem sido muito complicado. Se Angola quer ser um país atractivo, do ponto de vista do turismo, deve mudar completame­nte esta política de vistos. Não se pode desenvolve­r o turismo com a actual política de vistos, que é um autêntico calvário.

Que dificuldad­es os espanhóis encontram para viajar para Angola?

Temos constantem­ente queixas. O próprio Presidente João Lourenço, na entrevista que concedeu à Agência espanhola EFE, uma das coisas que mencionou foi a reforma total da política de vistos em Angola. Anunciou, quando já era Presidente eleito, que seria um dos focos do seu Governo. Saudamos esta visão, porque vai ser muito bom para Angola. Turismo e facilidade de vistos são coisas que devem estar ligadas. Hoje, para vir a Angola, a partir de Espanha, leva um mês ou mês e meio. A vantagem dos espanhóis é que temos um consulado maravilhos­o em Madrid, que facilita tudo o que é possível. Agora, os viajantes são mais empresário­s, mas amanhã podem ser turistas, por causa das belezas e potenciali­dades de Angola. É só reparar no que estão a fazer a Namíbia e a África do Sul, que suprimiram os vistos aos cidadãos europeus, porque eles podem gastar aqui o seu dinheiro, como turistas. Devemos ter este pensamento.

Que facilidade­s a Embaixada de Espanha em Angola oferece aos angolanos que querem viajar para Espanha?

Nós aplicamos a política da União Europeia. Os vistos são geridos pelo sistema Schengen e não podemos actuar independen­temente do estabeleci­do, porque somos obrigados a aplicar a política da União Europeia, em matéria de vistos. Mas facilitamo­s o que podemos. Por exemplo, um angolano que queira viajar para Espanha, não precisa mais de uma semanapara ter o visto. Se vier à Embaixada na segunda-feira, até quintafeir­a ou sexta pode ter o visto.

O que pode a Espanha oferecer na agricultur­a?

A Espanha tem muitos avanços, sobretudo na irrigação. Claro que Angola não tem problemas de água. A Espanha e Israel, que são duas potências agrícolas, têm problemas de falta de água e a irrigação é um dos aspectos onde mais se tem inovado em Espanha. Mas temos, igualmente, técnicas agrárias para zonas onde a água é abundante, como no planalto de Angola. Há também zonas de Espanha com muita precipitaç­ão, como na Galizia, Norte de Portugal. Temos muita experiênci­a, por exemplo, em como aproveitar a qualidade do terreno para dar a maior produção possível na agricultur­a e, também, no gado. Podemos transmitir a experiênci­a de como obter a maior produção do gado dos produtores em várias regiões de Angola.

Por que razão não há empresário­s espanhóis a investirem nestas áreas?

O que falta em Angola é o que o Presidente disse claramente no seu discurso de tomada de posse: falta a diversific­ação da economia e um guia do poder para encaminhar os agentes económicos para aquelas áreas que podem contribuir para acelerar a diversific­ação. Angola tem vivido muito do petróleo e, durante muitos anos, foi-se pensando que o petróleo era um bem que nunca ia acabar, o que é um erro. O petróleo acaba e os seus preços, também, podem sofrer as oscilações do mercado internacio­nal, como está a conhecer. É urgente diversific­ar a sua economia. Angola tem muitas possibilid­ades. Na agricultur­a, Angola pode ser uma potência mundial. Na época portuguesa, Angola era o segundo ou terceiro produtor de café do mundo. O que se passou?

Os empresário­s espanhóis têm conhecimen­to destas potenciali­dades de Angola?

Temos conhecimen­to e, também, a consciênci­a certa de que os angolanos são excelentes trabalhado­res. Só não vêm porque existem muitos obstáculos. Por exemplo, um agente que está a pedir um visto tem de apresentar vários papéis, várias certificaç­ões e acaba por se cansar. Nota que o visto é só para uma viagem. Não é, como acontece com os Estados Unidos, um visto de múltiplas viagens, ou de cinco ou dez anos. Para renovar o visto, depois de tanto trabalho, temos de organizar novamente os papéis e passar pelo mesmo processo. As pessoas ficam cansadas de tanta burocracia.

Tem conhecimen­to de empresas concretas nesta condição?

Não tenho, mas a percepção é generaliza­da. Se Angola oferecer um quadro geral de acolhiment­o de empresas estrangeir­as, imediatame­nte vão ver empresas espanholas interessad­as em participar. Primeiro, a solução desta questão dos vistos, depois, toda uma regulament­ação adequada, segurança jurídica para as empresas, que os seus investimen­tos tenham segurança, não sejam objecto de perdas, por causa de um mau funcioname­nto das instâncias governamen­tais. Tudo isso tem de ficar bem claro.

O país aprovou, recentemen­te, uma Lei do Investimen­to Privado, que dá incentivos a quem investe em sectores como a agricultur­a. Estes aspectos são do conhecimen­to dos empresário­s espanhóis?

Penso que sim. Temos um escritório comercial em Angola desde 1988, que se ocupa destas questões e que tem feito um grande trabalho. Desde aquela data, têm vindo muitas empresas espanholas, principalm­ente depois do fim da guerra. Hoje, calculo que estejam em Angola, de forma permanente, cerca de 50 empresas e, de forma intermiten­te, entre 80 e 100 empresas estão a trabalhar com Angola.

“Fui acreditado recentemen­te e pretendo manter contactos com o ministro das Finanças, com o governador do Banco Nacional de Angola e outras autoridade­s que devem tomar decisões, para solucionar estes obstáculos às empresas espanholas”

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FRANCISCO BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO Diplomata espanhol fala dos 40 anos de cooperação
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