LUCIANO ROCHA
Actualização toponímica exige critério rigoroso
O anúncio da actualização da toponímica e dos “números de Polícia” da capital deve ser saudado por poder contribuir para a disciplina urbana e homenagear figuras que, em várias domínios, contribuíram para o sentimento de angolanidade.
A iniciativa do Governo Provincial de Luanda merece vénia pelos motivos referidos. Que, a concretizar-se, acaba com a anarquia de haver, por exemplo, ruas com mais do que uma designação, como é o caso, entre outros, da que passa em frente à Liga Africana. Tem duas placas toponímicas: uma com o nome da antiga associação, a outra com o de Conde Ficalho!
A Rua Rainha Jinga é outro exemplo gritante da ligeireza que houve de quem colocou placas toponímicas. O nome da heroína surge escrita de formas diferentes.
Jinga, aportuguesamento de Njinga, modo correcto de o escrever, é aceitável. Jamais Ginga. Como lembra o grande quimbundista Óscar Ribas, face ao “carácter sónico a que, convencionalmente, se subordina a escrita das línguas africanas sem o adequado registo gráfico, nunca o ‘g’ soa como ‘j’, mas sempre com o seu real valor”. E o Mestre dá exemplos: monangamba, xingue, Malanje e nunca Malange, Uíje e em vez de Uíge.
A ideia, insistimos, é louvável, mesmo que alguns dos leitores ao tomarem conhecimento dela tenham franzido a testa e dito para com os seus botões que há problemas mais prementes. E se lhes perguntarem quais, não pestanejam. Hão-de desfilar uma lista encabeçada pela água que continua a chegar-lhes aos soluços às torneiras, embora jorre insultuosamente na via pública proveniente de quintais, mas igualmente de canos rebentados na própria artéria. Não vão esquecer-se da electricidade. Que volta e meia lhe prega partidas que os impede, entre outras coisas, de ver televisão obrigados a pagar, mesmo quando há apagões. tal como a sujidade das ruas, os ramos e as árvores caídos nos passeios, falta de contentores para depósitos do lixo.
Isto, quanto aos que os afectam directamente no dia-a-dia. Mas, se os “provocarem” engrossam o rol com a falta de estacionamento automóvel, táxis parados em esquinas de ruas e passadeiras para peões, não raro perante a passividade de agentes da autoridade, falsas zungueiras de perna traçada, a acenar com saldos para telemóveis, forma de dizerem que vendem dinheiro. Às portas de casas de câmbios e estabelecimentos bancários.
Tudo isto é verdade e exige solução urgente, o que não invalida a importância da medida divulgada pelo Governo Provincial. A tarefa não é fácil. Requer investigação séria, critério rigoroso. Para se evitarem erros. Principalmente de escrita e escolhas. O que requer o envolvimento de especialistas de vários sectores. Entre outros, de línguas africanas e portuguesa, História de Angola. A recente e a remota.
Entre escolhas possíveis de nomes a figurar nas placas toponímicas contam-se os protagonistas da Luta de Libertação Nacional. Os que de armas na mão enfrentaram os vários invasores, mas também os que no interior recusaram cruzar braços. Entre uns e outros contam-se poetas, escritores, artistas plásticos. Em nenhum dos casos escasseiam casos de amor pátrio. O que não dispensa aprofundamentos de biografias, comprovação de relatos, versões cruzadas. A História de todos os povos está recheada de falsos heróis. Também entendemos que a nova toponímia de Luanda - como de todas as outras cidades, vilas, aldeias - devem cingir-se a pessoas falecidas. Por mais merecedor que se seja, as distinções perpétuas são risco evitável. Nunca se sabe o que o homenageado pode vir a ser desde que o nome lhe é imortalizado até à hora da morte.
O anúncio da actualização da toponímia de Luanda merece aplauso. Por poder contribuir para a disciplina urbana e divulgar nomes de figuras que contribuíram para o orgulho da angolanidade