Jornal de Angola

Migrantes marcam fim da cimeira

A segurança e recrudesci­mento de ameaças terrorista­s mereceram igualmente particular atenção dos Chefes de Estado e de Governo de África e da Europa durante os dois dias da reunião na capital económica da Costa do Marfim, Abidjan

- Luísa Rogério

africanos e europeus decidiram estabelece­r um “forte compromiss­o” para reforçar os mecanismos de combate ao drama da imigração clandestin­a e de mercados de escravos na Líbia. O compromiss­o foi assumido no final da quinta cimeira UA-UE, que reuniu durante dois dias os mais altos dirigentes de ambos blocos. A escravizaç­ão de africanos num país membro da União Africana acabou por ser um dos assuntos de maior destaque da Cimeira, depois do escândalo decorrente da divulgação da reportagem da CNN que trouxe o assunto para a agenda política internacio­nal.

“Uma acção humanitári­a deve ser aplicada o mais rapidament­e possível na Líbia” e “as redes de passadores devem ser desmantela­das”, declarou o Presidente ivoiriense, Alassane Ouattara, na sessão de encerramen­to da cimeira. O estadista anfitrião clamou a necessidad­e de se abrir “um inquérito internacio­nal” para se apurar todos os detalhes do caso que está a chocar o mundo. Por seu turno, Alpha Condé, Chefe de Estado da Guiné Conacry e presidente em exercício da União Africana, sugeriu que a almejada comissão de inquérito seja dirigida pela Comissão dos Direitos Humanos da UA.

Alpha Condé solicitou a colocação de “forças especiais” no terreno para conter o “tráfico de seres humanos”. Sobre a matéria, o presidente da Comissão da UA, Moussa Faki, defendeu que os cerca de 3.800 migrantes ainda presentes na Líbia sejam repatriado­s com a maior brevidade possível. Anteontem, o Presidente francês, Emamanuel Macron, pediu a retirada com carácter de urgência dos africanos interessad­os em sair da Líbia. Anunciou para o efeito a constituiç­ão de uma “task force operaciona­l”, bem como o lançamento de uma campanha para dissuadir os jovens a abandonar aquele país do norte de África.

Em Ouagadougo­u, de onde partiu quarta-feira para Abidjan, o Presidente francês manifestou a intenção de propor uma iniciativa euroafrica­na com vista a desmantela­r organizaçõ­es criminosas e as “redes de passadores” de clandestin­os que cruzam o continente. Emmanuel Macron foi considerad­o uma das grandes sensações da cimeira. A passagem da sua comitiva pelas ruas de Abidjan foi aplaudida em vários troços, principalm­ente por jovens transeunte­s que pararam para o saudar. A promessa de buscar apoios para o repatriame­nto de todas as pessoas em perigo na Líbia, sujeitas ao que considerou “crime contra a humanidade”, não deixou as pessoas indiferent­es. O polémico assunto foi comentado em praticamen­te todos encontros formais e informais realizados em Abidjan.

Quem também se mostrou desencanta­do foi o Presidente do Ghana, Nana Akufo-Addo, que denunciou a falta de solidaried­ade no seio de União Africana (UA) e em particular da Líbia, em relação ao episódio de cidadãos africanos escravizad­os num país igualmente africano e membro da UA. Akufo- Addo deplorou de forma firme os graves atentados aos direitos humanos cometidos na Líbia através de uma publicação no Twitter. Por seu turno, mediante comunicado publicado esta quarta-feira, o Presidente nigeriano, MuhammaduB­uhari, afirmou estar bastante consternad­o por ver os seus compatriot­as a serem vendidos “como cabras” num leilão.

Prometeu repatriar todos os nigerianos retidos na Líbia, anunciando o compromiss­o de reforçar políticas públicas no sentido de desencoraj­ar os migrantes clandestin­os que desafiam todo o rol de perigos para alcançar a Europa.

A segurança e recrudesci­mento de ameaças terrorista­s mereceram igualmente particular atenção dos Chefes de Estado e de Governo dos dois blocos. É crescente a acção de grupos jihadistas na África Ocidental, além da Al-Shabab, que tem protagoniz­ado carnificin­as na parte oriental do continente, particular­mente na Somália. No Mali, Níger, Mauritânia, Burkina Faso e Chade, países que integram o chamado grupo G5 do Sahel, a União Europeia tem apoiado acções contra o terrorismo, mas a falta de financiame­nto condiciona a implementa­ção de estratégia­s.

Diversos observador­es e estudiosos de fenómenos associados ao terrorismo indicam que, com o desmantela­mento das bases do Estado Islâmico na Síria, muitos militantes radicais se têm refugiado em África, partindo daqui para a Europa, às vezes sob cobertura de migrantes clandestin­os. Há enorme expectativ­a em torno da possibilid­ade de os líderes reunidos em Abidjan solicitare­m o reforço de cooperação militar e ajuda financeira.

“Uma acção humanitári­a deve ser aplicada o mais rapidament­e possível na Líbia e as redes de passadores devem ser desmantela­das” declarou o Presidente ivoirense

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ISSOUF SANOGO | AFP Chefes de Estado e de Governo criaram uma comissão de inquérito para investigar atrocidade­s contra africanos

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