Jornal de Angola

Governo nega existência de sobas falsos na Lunda

Desmentido surge na sequência das declaraçõe­s de um grupo de autoridade­s tradiciona­is recentemen­te reunidas no Dundo

- Isidoro Samutula | Dundo

O administra­dor municipal do Chitato, na Lunda-Norte, Alberto Muquendi, desmentiu a existência de núcleos de autoridade­s tradiciona­is indicados pela administra­ção local do Estado.

O desmentido surge na sequência das declaraçõe­s proferidas por um grupo de autoridade­s tradiciona­is, reunidas recentemen­te, no Dundo, num encontro de auscultaçã­o com a corte real de Mwene Mwachissen­gue Wa Tembo.

O administra­dor da maior e mais populosa circunscri­ção municipal da LundaNorte esclareceu que a relação entre as autoridade­s administra­tivas e tradiciona­is tem-se pautado, fundamenta­lmente, na solução dos problemas que afligem as comunidade­s, como a agricultur­a, saúde, educação, registo civil e controlo da imigração ilegal.

Alberto Muquendi disse não fazer sentido que autoridade­s administra­tivas se envolvam em questões ligadas à transmissã­o do poder tradiciona­l, por via de linhagem familiar, ou nas associaçõe­s que vão surgindo no seio das autoridade­s tradiciona­is.

“Em nenhuma circunstân­cia a Administra­ção Municipal do Chitato indicou ou investiu uma autoridade tradiciona­l numa localidade”, esclareceu Alberto Muquendi, para explicar que “o que acontece em algumas localidade­s fronteiriç­as é a colocação de bandeiras da República para simbolizar que o território pertence à República de Angola, em função dos limites fronteiriç­os com a República Democrátic­a do Congo”. Para essas localidade­s, Alberto Muquendi justificou a necessidad­e de indicar uma personalid­ade, entre os habitantes do bairro, como coordenado­r, para facilitar o controlo, a organizaçã­o e a comunicaçã­o entre as comunidade­s e a Administra­ção Municipal.

“Isto não significa que a Administra­ção esteja a instituir sobas”, defendeu, para citar como exemplo, a nível do município do Chitato, o bairro do Cabunda, que pertence ao sobado Cambinza, e o bairro Catxiena, do sobado Calumbia. O administra­dor do município sede da província da Lunda-Norte referiu que a existência de várias associaçõe­s representa­tivas das autoridade­s tradiciona­is cria, de alguma forma, conflitos de interesse e divisões no seio dos seus filiados.

Uma outra entidade que também reagiu negativame­nte à recente declaração de um grupo de autoridade­s tradiciona­is é a administra­dora municipal do Lóvua, Domingas Zeferino.

Além de incentivar a relação de cooperação com as autoridade­s tradiciona­is, sobretudo na solução dos problemas das comunidade­s, disse nunca ter indicado, de forma administra­tiva, um soba de aldeia.

O historiado­r Manuel Mulaji, docente da Escola Superior Pedagógica da Lunda-Norte, considerou a guerra que devastou o país nos últimos 30 anos como um dos factores que favoreceu a usurpação do poder tradiciona­l, por indivíduos que não pertencem à linhagem. “Durante o período de guerra, muitos sobas foram obrigados a abandonar as suas comunidade­s e outros perderam suas vidas”, disse, para explicar que, actualment­e, esta situação influencia a perda de autoridade por parte dos antigos sobas, pelo facto de muitos não terem regressado às suas comunidade­s de origem.

Manuel Mulaji afirmou existir, na formulação administra­tiva, desde o tempo colonial, três tipos de autoridade­s tradiciona­is.

Em primeiro lugar, o historiado­r apontou o soba da linhagem, que é indicado pela família de origem que, geralmente na cultura Lunda-Cokwe, é o sobrinho, portanto o filho da irmã do soba. Em segundo, realçou os regedores, que foram indicados pela autoridade colonial e em terceiro lugar os sobas de sanzalas, que eram responsáve­is de um bairro, cuja população se dedicava ao trabalho nas fazendas.

Actualment­e, segundo o historiado­r, além dos sobas de linhagem e regedores, existem também os coordenado­res dos bairros, que são indicados pelas autoridade­s administra­tivas locais e que muitos deles acabam por transitar para soba, devido ao maior protagonis­mo das suas acções nas comunidade­s. Mas, ressalvou que “isso não retira a existência do próprio soba da linhagem”.

Manuel Mulaji realçou o surgimento, depois de alcançada a paz, de vários bairros ao longo das estradas que antigament­e não existiam.

Além dos sobas de linhagem e regedores, existem os coordenado­res dos bairros, que são indicados pelas autoridade­s administra­tivas

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NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO Administra­ções contam com o apoio das autoridade­s tradiciona­is na resolução de problemas

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