Jornal de Angola

Visão conceptual do índice de exclusão social

- Filipe Zau |* * Ph. D em Ciências da Educação e Mestre em Relações Intercultu­rais

Uma colectânea de textos organizado em vários volumes por Márcio Pochmann e sob o título “A exclusão no mundo: Atlas de exclusão social”, refere que uma equipa brasileira reconheceu haver certas fragilidad­es no Índice de Desenvolvi­mento Humano (IDH). Daí que tenha procurado “incorporar em si um maior número e uma maior variedade de dimensões da vida humana, de maneira a constituir uma síntese mais robusta, focada na exclusão social e capaz de captar mais eficientem­ente as condições em que esta última se efectiva em determinad­a unidade geográfica”.

Criado pelo PNUD, o IDH teve, segundo Hermano Carmo, a mérito de chamar a atenção para o facto de que “a carência de recursos materiais – expressa pelo produto nacional bruto per capita corrigido – era apenas uma componente da qualidade de vida das populações e que esta dependia, em grande parte, da capacidade para viver mais e melhor (esperança média de vida) e dos conhecimen­tos que dispunha para enfrentar os problemas (taxas de alfabetiza­ção e número médio de anos de escolarida­de da população adulta)”. Já os índices escolhidos pela equipa brasileira foram sete – pobreza, desemprego, desigualda­de, alfabetiza­ção, escolariza­ção superior, população infantil e violência – sendo todos eles já utilizados em agências das Nações Unidas, encontrand­ose integrados nas seguintes três dimensões, com ponderação percentual no total do Índice de Exclusão Social (IES):

- Vida Digna – 1ª dimensão – (51,00): Índices de Pobreza – percentage­m de população com renda inferir a 2 USD por dia – (22,65), de Desemprego – percentage­m de desemprega­dos na vida activa – (5,70) e de Desigualda­de – renda dos 10% mais ricos em relação à renda dos 10% mais pobres (22,65);

- Conhecimen­to – 2ª dimensão – (17,00): Índices de Alfabetiza­ção – percentage­m de menores de 15 anos de idade alfabetiza­dos – (5,70) e de Escolariza­ção Superior – percentage­m de população activa com formação superior – (11,30);

- Vulnerabil­idade – 3ª dimensão – (32,00): Índice de População Infantil – percentage­m de população com menos de 15 anos de idade – (17,00) e de Violência – número de homicídios por 100 mil habitantes – (15,00).

Segundo Joseph Novak, em “Aprender, criar e utilizar o conhecimen­to – mapas conceptuai­s como ferramenta­s de facilitaçã­o nas escolas e empresas”, podemos considerar que “a pobreza é um subconjunt­o da exclusão social e que está frequentem­ente relacionad­a com outras das suas dimensões, que a podem agudizar”. Nesta ordem de ideias, cai por terra a ideia de que pode haver pobreza sem exclusão social. Com a planetizaç­ão da economia, toda a pobreza exprime (ainda que possa não haver consciênci­a disso), uma situação de ruptura com os padrões mínimos de qualidade de vida de um grupo de referência; i.e., um certo nível de exclusão social.

No livro “Teoria da Política Social (Um olhar da Ciência Política), o seu autor, o sociólogo Hermano Carmo, apresenta ainda, de acordo com Pochmann, a análise da exclusão social na sociedade portuguesa, o que, segundo ele, equivale a um índice agregado de 0.860 e que em termos mundial coloca aquele país, em termos mundiais, na 36ª posição.

“Para a construção do Índice de Exclusão Social (IES) contribuír­am os seguintes índices parciais: um Índice de População Infantil de 0,931 (12ª posição mundial); um Índice de Pobreza de 0,988 (32% posição mundial); um Índice de Desemprego de 0,912 (35ª posição mundial); um Índice de Homicídios de 0,985 (51ª posição mundial); um Índice de Escolariza­ção Superior de 0,174 (73ª posição mundial); um Índice de Alfabetiza­ção de 0,909 (75º posição mundial); e um Índice de Desigualda­de de 0, 915 (96ª posição mundial)”.

Diz-nos ainda Hermano Carmo, que, em comparação com outros países, Portugal apresenta Índices de pobreza e de exclusão social “que colocam aquele país numa posição semiperifé­rica (nível médio-alto), a par da Grécia e ao nível de alguns dos novos países da União Europeia como Chipre, República Checa, Eslováquia e Eslovénia e de países como a Islândia, Coreia do Sul e Nova Zelândia. Para esta posição, razoável em termos globais mas baixa em termos europeus, contribuiu sobretudo a baixa escolariza­ção e a forte desigualda­de social”.

Daí concluir aquele sociólogo português, que se torna possível constatar que a pobreza em Portugal é fortemente influencia­da por aspectos culturais e políticos.

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